Por Deisy Francis Mexidor
Pretória, 3 nov (Prensa Latina) Os fios da notícia na África do Sul se tecem hoje acerca de uma investigação de uma ex-defensora pública, novo argumento de ataque ao governo do Congresso Nacional Africano (ANC) e, em especial, ao presidente Jacob Zuma.
Parece que não há nada mais importante. Pelo menos é a imagem que vende a maioria dos meios de imprensa – não pró-Zuma, por certo – em um constante e extremo ‘bombardeio’ de informações que dão a sensação de caos.
A investigação do momento, realizada pela ex-defensora pública Thuli Madonsela, revela a suposta relação de Zuma com uma rica família de origem indiana (os Gupta), que, dizem, tem amplos poderes para tomar decisões dentro do Executivo.
O relatório alega sobre o que têm chamado de ‘captura do Estado’, oferecendo em 350 páginas elementos sobre o suposto poder dos Gupta para tirar e colocar ministros ou determinar cargos segundo seu desejo.
Ontem foi publicado o texto integral do material. O ANC tomou nota sobre as acusações contidas no mesmo e informou que o estudará para emitir sua consideração hoje, assinalou o porta-voz nacional da organização, Zizi Kodwa.
Os partidos de oposição – principais interessados na renúncia de Zuma – promoveram ontem uma marcha pelas ruas de Pretória, em uma jornada de agitação em que várias lojas do centro da cidade foram objeto de saques e outros danos.
O protesto convergiu com uma assembleia aberta de uma recém formada plataforma denominada Save SA (Salvar a África do Sul), que reuniu membros da sociedade civil, em geral críticos do chefe de Estado.
Para alguns, o exposto por Madonsela (por vezes classificada de ser agente de serviços de inteligência estrangeiros, o que refuta) poderia prejudicar a imagem de um presidente perseguido por outros fatos ao longo de seu mandato.
O de agora repercute em um contexto onde não é segredo que o ANC atravessa, quiçá, um dos momentos mais difíceis desde que assumiu o governo em 1994, depois das primeiras eleições livres da etapa pós-apartheid.
Na opinião de observadores, há um ressentimento do apoio ao histórico partido de Nelson Mandela e Oliver Tambo por problemas de focos de divisão e corrupção, admitidos pelo próprio ANC.
E apesar dos esforços do governo – no marco de um sistema capitalista – não tem conseguido resolver nos últimos 22 anos de democracia os desafios da desigualdade, da pobreza e o desemprego no país.
As eleições locais do último dia 3 de agosto constituíram um termômetro para medir a ‘temperatura’ do cenário político sul-africano.
Pela primeira vez, o ANC perdeu sua maioria absoluta e cedeu no controle de municípios metropolitanos chaves, como Johannesburgo, Nelson Mandela Bay e a própria Pretória