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quinta-feira, 5 dezembro, 2024

Afinal, o que Xi Jinping foi fazer na Europa?

Sputnik – Após cinco anos sem pisar no continente europeu, Xi Jinping faz um breve tour pela Europa, onde se encontra com líderes da União Europeia, França, Sérvia e Hungria. Por que Pequim escolheu esses países para dialogar? O que representa esse retorno à Europa em meio a uma escalada geopolítica entre as duas regiões?

Os motivos “oficiais e não oficias” do presidente chinês em sua visita à Europa foram explorados no episódio de hoje do Mundiokapodcast da Sputnik Brasil apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho.

Por que Xi Jinping foi à Europa?

Segundo Rodrigo Abreu, pesquisador do Núcleo de Avaliação da Conjuntura da Escola de Guerra Naval e doutorando em relações internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina, o motivo oficial dessa viagem é a “comemoração dos 60 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e a França”.
A França reconheceu a soberania do governo chinês em 1964, enquanto os países ocidentais “no geral só passaram a reconhecer o governo de Pequim como representante oficial da China na década de 70”.

“Então, a China gosta muito de demonstrar que essa questão do reconhecimento diplomático é importante porque ainda está na pauta, tem países que ainda consideram Taiwan como representante da China em detrimento de Pequim.”

Mas a França não é o único país que Xi Jinping visitou. O líder chinês fez também uma visita à Sérvia, liderada por Aleksandar Vucic. “Graças” aos Estados Unidos, há hoje um “grande laço que une a Sérvia e a China”, destacou Abreu.
Em 7 de maio de 1999, os Estados Unidos bombardearam a embaixada chinesa em Belgrado, capital da Sérvia, matando três jornalistas chineses.
“Essa questão do atentado de Belgrado é muito sensível dentro da China […] porque dentro daquele contexto da guerra da dissolução da Iugoslávia, a guerra do Kosovo, principalmente, existia um discurso da OTAN de que os armamentos utilizados ali no bombardeio da Sérvia seriam armamentos de alta precisão“, disse o analista.
“Inclusive, a bomba que atinge a embaixada chinesa é justamente uma dessas bombas de alta precisão. Então, tem-se uma questão de se esse ataque foi deliberado por parte da OTAN ou se foi um acidente”.

“A Sérvia, desde então, tem grandes laços anti-OTAN e a China se aproveita disso para gerar uma estabilidade ali na região dos Balcãs.”

Nesse sentido, apesar de aproveitar a ocasião para realizar acordos de cooperação, o grande destaque da visita de Xi Jinping à Sérvia é justamente a sua presença no aniversário do atentado.
No entanto, aponta Abreu, há ainda uma série de motivos não oficiais por trás do pequeno eurotour chinês, como questões relacionadas ao conflito ucraniano e aos embargos econômicos ao país. “A Europa, além de ser um mercado muito importante para a China, é central ali dentro do cenário da Iniciativa Cinturão e Rota“, acrescentou.
O presidente Ebrahim Raisi, à direita, aperta a mão do ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, príncipe Faisal bin Farhan Al-Saud, no gabinete da presidência em Teerã. Irã, 17 de junho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 02.05.2024

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A visão da China do conflito da Ucrânia

Desde o início do conflito na Ucrânia, a China se colocou à disposição para encontrar uma solução entre ambas as partes, diferentemente dos países ocidentais que prezaram por uma derrota estratégica da Rússia.
“O Xi Jinping declarou que a China se opõe às tentativas de utilizar a crise na Ucrânia para difamar um terceiro país ou pra alimentar uma nova guerra fria“, destaca Marina Moreno Farias, pesquisadora do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégica (ISAPE) e integrante do Laboratório de Estudos em Economia Política da China, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“A China, dentro da sua diplomacia, guia a sua condição de política externa através do princípio de não interferência”, afirmou Farias.

Dessa forma, aponta a especialista, em sua visita, Xi Jinping vai tentar mais uma vez negociar por uma solução diplomática do conflito, até por que o país asiático preza pela estabilidade global para implementar seu projeto do Cinturão e Rota.
“A China se beneficia muito do status quo, da manutenção do comércio internacional para garantir o seu próprio crescimento econômico”, explica Abreu.
Para Farias, no entanto, essas aspirações dificilmente se tornarão realidade uma vez que o presidente francês, Emmanuel Macron, se posiciona abertamente contra a Rússia.
Dessa forma, diz Abreu, também podem ser entendidas as visitas à Sérvia e à Hungria, países que são alinhados à Rússia no teatro geopolítico europeu, sendo assim aliados também da China no continente.
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Xi Jinping quer combater as sanções comerciais

O outro motivo “não oficial” da visita do presidente chinês à Europa é tentar diminuir as tensões comerciais que o país tem com a União Europeia.
Por não condenar a Rússia em sua operação especial, “a partir do fim de 2022, a visão da União Europeia e dos Estados Unidos é que a China é realmente uma inimiga do Ocidente”, argumenta Farias.

“A secretária do Tesouro dos Estados Unidos [Janet Yellen] já tinha advertido à China de que os EUA não iam aceitar que novos setores da economia americana fossem dizimados pelas importações chinesas”, lembrou a pesquisadora do ISAPE.

No mercado europeu, ressaltou Abreu, é justamente “a França que vem capitaneando o processo de tarifação dos produtos chineses, sob a acusação de que a China estaria subsidiando empresas de maneira a dificultar a concorrência das companhias europeias dentro do próprio mercado europeu”.
Nesse âmbito, a visita de Xi Jinping à França, onde se encontrou com Macron e com Ursula von de Leyen, presidente da Comissão Europeia, pode se mostrar mais frutífera. A diplomacia chinesa tem um histórico de “ir comendo pelas beiradas e não atacar as coisas de maneira muito direta”, destacou Farias.
Isso é evidenciado pelo fato de que, após visitar Pequim, o chanceler alemão, Olaf Scholz, mudou um pouco seu discurso quanto à tarifação de produtos chineses.
“No início do mandato, [Scholz] já tinha falado que ia aumentar as taxações contra produtos chineses, mas vem mudando o discurso cada vez mais, falando que os produtos europeus têm que ter mais apoio no mercado chinês também”, disse Abreu.

“Se a Alemanha e a França se posicionam contra essa questão, a tendência é que a pauta tenha muito mais dificuldade de ser levada à frente pela Comissão Europeia.

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