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sexta-feira, 26 julho, 2024

A vigorosa atualidade do exemplo de Chávez

https://youtu.be/kgpCDfKCTsg  Tecendo a Manhã – João Cabral de Mello Neto

Animação baseada no poema “Tecendo a Manhã” de João Cabral de Melo Neto. Animação e Pós-produção: Rodrigo Alineri. Música e sonorização: Darci Vieira da Silva.

Beto Almeida*

Os jornalistas pernambucanos que foram ao Aeroporto Internacional de Guararapes, anos atrás,  para entrevistar o presidente venezuelano Hugo Chavez,  foram surpreendidos quando após crivarem-no de perguntas , aquele  mestiço caribenho, meio negro, meio índio, dedicou sua primeira fala na terra de Capiba a  declamar versos de “Tecendo a Manhã”, da genial autoria de João Cabral de Mello Neto.  O poema prega a indispensável cooperação entre muitos galos cantando e se inter comunicando  para anunciar e tecer a manhã que surge, num canto que se realiza entre todos.

Não apenas a mensagem era de uma gentileza  sensível a cultura brasileira, ao povo brasileiro que amamos os versos cabralinos, mas, desconcertando os jornalistas, revelou um outro estilo de fazer política, uma inovação que aquele bolivariano de enérgica humildade e inteligência admirável,  introduziu na cena política internacional. 

Ele trazia nosso Cabral na ponta da língua e no coração, mas não qualquer Cabral, mas  o poema da integração dos cantos dos galos, que pode perfeitamente representar o canto de cada povo que, juntos , tecem outra manhã para América Latina.

Enquanto esta mensagem integradora caminhou pela voz e gestos de vários líderes Latino – Americanos, pudemos sim avançar.  O seu modo de fazer política da integração, desafiando com criatividade o jornalismo da desintegração,  não era desprovido de realizações concretas. 

Chávez, que num dia  5 de março de 2013 virou semente no Quartel da Montanha e no coração do povo venezuelano,  deixou uma marca  palpável na política da região. Aí estão a Unasul, a CELAC, a ALBA, o Banco do Sul, a PetroCaribe,  a Telesur, para fazer florescer o jornalismo da integração, da cooperação, conduzindo a verdade junto com a notícia.

A resistência bolivariana às agressões dos EUA

A vigorosa atualidade de Hugo Chávez se mede, também,  pelo tempo em que a Venezuela Bolivariana consegue resistir a tempestades, ameaças e sabotagens  criminosamente plantadas pelo imperialismo dos EUA, com sanções visando destruir a economia e os direitos conquistados pelo povo de outro país. Agressões e mais agressões, seja Bush, seja Barack Obama , seja Donald Trump.  As sanções, apoiadas por ricos empresários internos, que desorganizam deliberadamente o sistema de abastecimento de alimentos e remédios, visando causar mal estar na população e tentar, com isto, justificar algum tipo de Intervenção “Humanitária”  por parte da marionete  OEA, são cada vez mais duras.

Primeiro dificultaram o acesso da Venezuela ao sistema de crédito internacional.  Por ordem dos EUA foram criadas barreiras para que as importações realizadas pela Venezuela no mercado internacional sejam impedidas, boicotadas, dificultadas.  A guerra econômica interna é operada por grandes empresários que fazem desaparecer das prateleiras os produtos de consumo diário do povo, produtos  que são encontrados em outro lado, após filas gigantescas, porém a preços exorbitantes. Ou seja, os produtos existem, mas não são ofertados, são escondidos. Não houve redução da produção, como aponta estudo da economista Pascualina Curcio, mas redução da oferta, e elevação dos preços dos gêneros de  primeira necessidade em  até 1500 por cento. Uma operação de guerra econômica, como foi feita para derrubar Allende, no Chile e Jango no Brasil.

Apesar de toda esta sabotagem, que tem permanentemente o dedo dos EUA, o povo Venezuelano, pela via do voto popular e da participação democrática nas instâncias da sociedade, tem eleito e reeleito o governo chavista de Nicolás Maduro, derrotando a oposição conservadora, que antes pedia eleições antecipadas, agora que elas foram marcadas, não quer mais participar do pleito.

A moeda Petro, idéia de Hugo Cháve

Para buscar enfrentar estas sabotagens, o chavismo lançou mão de uma idéia cunhada pelo próprio presidente Hugo Chávez: criou a moeda Petro, lastreada nas gigantescas reservas de petróleo, diamante e ferro existentes naquele belo país que, antes do chavismo, era rapinado pelos EUA e outros imperialistas. Com a eleição de Chávez, em 1999, a farra acabou. E o Petro, –    com lastro que o dólar não possui, sendo moeda emitida ilegalmente, impondo ao conjunto da humanidade uma concorrência desleal  –   é a expressão desta atualidade vigorosa do pensamento de Chávez para hoje.

Crescentemente, a moeda Petro vem sendo aceita no sistema internacional, vários países a reconhecem. Além do que, uma diretriz central deixada por Chávez em seu Plano  Pátria,  a diversificação do comércio petroleiro e a consolidação de relações com países como a China, Rússia, Irã, Índia, tem proporcionado uma alternativa expansiva ante o fechamento persecutório e ilegal  das operações comerciais com os EUA. Chega-se ao ponto de os EUA, embora grande comprador de petróleo venezuelano, restringirem as operações no mercado de títulos para  os papéis derivados da receita petroleira bolivariana. Uma ingerência inaceitável, ilegal, uma guerra comercial aberta! Mas, a inteligência de Chávez ao sugerir, há anos, a emissão de nova moeda, dribla as cercas que tentam bloquear o exercício da  soberania e o avanço da Revolução Bolivariana.

A nova moeda bolivariana, o Petro, causa preocupação crescente nos círculos financeiros internacionais dominados pelo dólar, porque vem se somar à prática já adotada pela Rússia, China, Irã e outros, de comercializarem em moeda local, aposentando o dólar, considerada moeda falsa, pois lastreado apenas na ameaça prepotente da intervenção militar, dos mísseis nucleares, não em riqueza física.

O resgate dialético de  Abreu e Lima

Um outro elemento,  que também destaca a vigorosa atualidade dos exemplos de Chávez para hoje,  está na conduta política do governo chavista, cuja confiança na sabedoria do povo e sua constante mobilização para a intervenção política e eleitoral, indica a continuidade da prática do líder de investir sistematicamente na informação e na educação política e cultural das massas. Sobretudo a partir da Unidade Cívico Militar.

Os programas radio-televisivos Alô Presidente, quando Hugo Chávez ficava horas dialogando com populares de cada cidade, esmiuçando problemas sociais e econômicos, educando toda uma juventude que nunca havia visto um presidente que falava tanto de política como de poesia ou literatura com a mesma paixão e propriedade, eram aulas vivas e palpitantes de educação política regular. Traziam a mensagem clara de que os meios de comunicação devem servir à elevação educacional de um povo para a vida, para a defesa de um país, para a defesa das conquistas e que investir a ampliação da consciência de um povo é o maior ativo ou recurso econômico de um país.

Assim, declamar um poema de João Cabral de Mello Neto em Pernambuco, era uma ação normal do militante pensador Hugo Chávez que, da mesma maneira que conhecia os versos de Tecendo a Manhã, surpreendeu o publico brasileiro , a esquerda em particular, ao resgatar dialeticamente a trajetória do General Abreu e Lima, militar e jornalista pernambucano que lutou ao lado de Bolíviar na libertação da Gran Colômbia,  e que, ao voltar ao Brasil, após a morte do líder, continuou fazendo brilhar sua chama libertária organizando revoluções republicanas em território pernambucano. Além disso, como numa mensagem ao futuro, Abreu e Lima organizou o jornal Folha da Praia, porta voz da chamada Revolução Praieira. Registre-se que Abreu e Lima  já havia sido redator do jornal Correo Del Orinoco, criado por Bolívar, embora não fosse hispano hablante, originalmente. Tal como resgatou dialeticamente a Bolivar para o seu povo, Chávez também resgatou a trajetória libertária e internacionalista de Abreu e Lima para os brasileiros, tirando a esquerda brasileira de seu cochilo ante sua própria história.  As mensagens, tanto do poema de Cabral, como do resgate de Abreu e Lima é claramente a da integração e da cooperação latino-americana.

Cultura, a ecologia da alma

Indica também a presença do papel da cultura no centro do pensamento de Hugo Chávez.  Por ocasião da comemoração dos  400 anos do livro  Don Quixote, de Cervantes, Hugo Chávez orientou a publicação de 1 milhão de exemplares desta obra genial e planejou  distribuição gratuita em cada uma das praças Simon Bolívar que há em praticamente todas as cidades da Venezuela. Havia lindas e significativas filas para receber os livros. Chávez também determinou a publicação de 300 mil exemplares de Contos, de Machado de Assis, igualmente distribuídos gratuitamente, diante do que, somos nós, brasileiros,   que temos que administrar a frustração e o mal estar de termos um indicador de leitura raquítico, pois o bruxo do Cosme Velho jamais teve uma edição tão volumosa,  de qualquer uma de suas obras, em seu próprio país.

Mas, além deste exemplo, que bem poderia ter sido seguido aqui com um programa rigoroso e solidário de erradicação do analfabetismo   –  isso foi alcançado na Venezuela em apenas um ano e meio, conforme atestou a UNESCO, aplicando-se o método cubano YO SI, PUEDO   –    há outro exemplo,  o de exercer com todo vigor o sagrado direito de resistir, convocando-se o povo para esta tarefa que não é de uma liderança apenas, mas de toda a população. Por isso, com todas as restrições, as privações, os sacrifícios, os venezuelanos são convocados para defender todo o terreno conquistado com a Revolução Bolivariana, preparando-se militarmente, com treinamento que abrange a vastos setores sociais, para rechaçar uma agressão militar externa, se ela ocorrer.  Resistir significa utilizar todos os recursos legais, todas as ferramentas estatais disponíveis para a defesa da legalidade baseada no voto popular, incluindo a mobilização dos meios de comunicação em defesa da Pátria e da elevação cultural de todo um povo.

O direito sagrado de resistir aos golpes

Eis aí um exemplo vigoroso e atual de Hugo Chávez, que não se deixou iludir pelo denuncismo conservador, pela guerra midiática incessante, e não  teve dúvidas de enfrentar o golpismo de  uma oposição que atua em nome dos que sempre rapinaram o petróleo venezuelano, até que a Revolução Bolivariana, iniciada a 4 de fevereiro de 1992, mas institucionalizada pelo voto popular em 1999, acabou com expropriação imperialista sobre a principal riqueza do país. Com Chávez, esta riqueza  passou, então,  a ser aplicada na educação, na guerra vitoriosa ao analfabetismo, na construção em massa de moradias populares, de universidades, de escolas públicas, hospitais, contando com a imprescindível cooperação de Cuba Socialista.

  É a todas estas conquistas que os EUA querem demolir para retomar a rapina petroleira que havia antes de Chávez.  A Venezuela vota conscientemente e resiste, duas mensagens que envia ao mundo inteiro, reivindicando seu direito a escolher seu próprio caminho.  Aqui, sem um tiro sequer, um governo popular foi derrotado sem resistir, sem convocar o povo, e as riquezas nacionais agora estão sendo drenadas numa hemorragia interminável em favor das transnacionais. Uma operação golpista que teve  como base uma exaustivamente  denunciada ingerência externa,  que contou com a colaboração interna no Judiciário, no Parlamento, nos Meios de Comunicação e nas classes empresariais, um complô que foi observado passivamente, sem reação. Eis um exemplo inapagável e atual de Chávez: é preciso resistir, convocar o povo e organizar-se para resistir aos golpes!

Neste dia 5 de março, que os vigorosos exemplos de Hugo Chávez, nos sirvam de encorajamento e orientação para reconquistar a democracia e o caminho, agora momentaneamente  interrompido,  da integração da América Latina. Como no poema Tecendo a Manhã.

*Beto Almeida Jornalista

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