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sexta-feira, 11 outubro, 2024

A SEMPRE PRESENTE POLÍTICA DE GETÚLIO VARGAS 

 Pedro Augusto Pinho*
A revista Carta Capital (Ano XXVIII, nº 1233, de 09/11/2022) apresenta o artigo do ex-primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, “O Poder do Carisma”. Talvez pudesse ter um dúbio subtítulo: o desconhecimento da filologia. Não só pelo indevido uso da palavra “polarização”, pela imprensa brasileira, mas o péssimo emprego dos vocábulos, que faz o derrotado presidente.
O artigo também nos faz recordar o excelente trabalho do pesquisador e sociólogo Ronaldo Conde Aguiar, “Vitória na Derrota – A morte de Getúlio Vargas” (Casa da Palavra, RJ, 2004).
Na citação que abre o livro, encontramos de Gisela Magalhães e Joel Rufino dos Santos: “o passado é como uma planície onde correm dois rios. Um, de margens precisas, é o rio da História. Outro é um rio sem margens – chama-se Mito: o nada que é tudo”.
Não faltaram grandes políticos em nossa história, a começar por José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, sendo Luiz Inácio Lula da Silva, o mais recente. Porém o grande estadista, aquele que promoveu a mais importante guinada em nossa história, foi Getúlio Dornelles Vargas (19 de abril de 1882 – 24 de agosto de 1954).
No entanto, nossos grandes políticos tiveram fim trágico, até ignorados por “esse povo de quem fui escravo (e que) não mais será escravo de ninguém”. José Bonifácio, preso, exilado, esquecido; Vargas levado ao suicídio; Juscelino, Jango, assassinados; Brizola, doente e abandonado.
Mas todos foram rios de margens claras e bem definidas, que, hoje e sempre, servem de guia nos períodos mais difíceis da Nação.
Lula vive um destes períodos. E, subindo com o povo a rampa do Alvorada, pode ter diante de seus olhos a mensagem de Vargas, ao retornar à Presidência, em 1950:
“as prioridades do governo são a nacionalização dos setores estruturais da nossa economia (com destaque para o monopólio da atividade petrolífera)”, no caso atual, da renacionalização, para que o Brasil volte a ter a soberania, que até os governos militares souberam defender (1967-1980);
“o controle sobre a ação dos trustes internacionais”, agora das finanças apátridas e marginais;
“a contenção do custo de vida (com a atualização do salário mínimo) e a extensão a todos os brasileiros das garantias sociais e trabalhistas” e, como a característica e marca do Governo Lula, nenhum bairro, nenhum distrito brasileiro sem uma escola de tempo integral, projeto de dois imensos educadores brasileiros: o baiano Anísio Teixeira e o mineiro Darcy Ribeiro.
Getúlio sucedeu também um homem medíocre, moralista, arbitrário, como o qualifica Conde Aguiar, casado com a viúva de apelido “santinha”, de poderosa influência sobre o obtuso presidente, mormente em questões ditas morais. Deve-se a esta influência o desemprego de milhares de pessoas, que direta e indiretamente trabalhavam nos cassinos.
Na composição do Ministério, 31 de janeiro de 1951 a 24 de agosto de 1954, Getúlio buscou competências, alianças e apoios, como se observa nesta relação:
Para a área militar:
Ministros da Guerra:
        general Newton Estillac Leal, Rio de Janeiro;
        general Ciro do Espírito Santo Cardoso, Paraná;
        general Euclides Zenóbio da Costa, Mato Grosso do Sul;
Ministro da Marinha:
        vice-almirante Renato de Almeida Guillobel, Rio de Janeiro;
Ministros da Aeronáutica:
        brigadeiro Nero Moura, Rio Grande do Sul;
        brigadeiro Epaminondas Gomes dos Santos, Rio de Janeiro;
Para a área das relações internacionais:
Ministros das Relações Exteriores:
        João Neves da Fontoura, Rio Grande do Sul;
        Mário de Pimentel Brandão, Rio de Janeiro;
        Vicente Rao, São Paulo;
        Vasco Leitão da Cunha, Rio de Janeiro;
Para a área política:
Ministro da Justiça e Negócios Interiores
        Francisco Negrão de Lima, Minas Gerais;
        Francisco Badaró Júnior, Minas Gerais;
        Tancredo de Almeida Neves, Minas Gerais;
Para a área econômica:
Ministros da Fazenda
        Horácio Lafer, São Paulo;
        Alberto Andrade de Queirós, Pará;
        Osvaldo Euclides de Sousa Aranha, Rio Grande do Sul;
        Otávio Gouveia de Bulhões, Rio de Janeiro;
Ministros da Agricultura:
        João Cleofas de Oliveira, Pernambuco;
        Osvaldo Aranha, Rio Grande do Sul;
        Apolônio Jorge de Faria Sales, Pernambuco;
        José Antônio da Costa Porto, Pernambuco;
Ministros de Viação e Obras Públicas
        Álvaro Pereira de Sousa Lima, Minas Gerais;
        Francisco Mendes, Minas Gerais;
        José Américo de Almeida, Paraíba;
Ministros do Trabalho, Indústria e Comércio
        Danton Coelho, Rio Grande do Sul;
        José de Segadas Viana, Rio de Janeiro;
        João Belchior Marques Goulart, Rio Grande do Sul;
        Hugo de Araújo Faria, Rio de Janeiro;
Para área social:
Ministros da Educação e da Saúde Pública
        Ernesto Simões da Silva Freitas Filho, Bahia;
        Péricles Madureira de Pinho, Bahia;
        Antônio Balbino de Carvalho Filho, Bahia;
        Edgar Santos, Bahia;
Ministros da Saúde (a partir de 25 de julho de 1953)
        Antônio Balbino, Bahia;
        Miguel Couto Filho, Rio de Janeiro;
        Mário Pinotti, São Paulo.
Getúlio era suficientemente inteligente e culto para não ter dúvida que encontraria acérrima oposição, independente do que fizesse. Resolveu imprimir a marca nacionalista e do interesse popular. Mas trouxe também, para executar este propósito, políticos conservadores, confiante em sua liderança. Governou quatro anos.
Não se deve esquecer que recusou o envio de tropas brasileiras à Coreia, pedido dos Estados Unidos da América (EUA), numa guerra tipicamente colonial onde não havia qualquer interesse brasileiro.
O Clube Militar foi palco da grande discussão pelo controle da energia no Brasil, como narra o então diretor do Departamento Cultural, Nelson Werneck Sodré.
E, como não restam dúvidas na análise fora das emoções do momento, faltou o partido de massa a dar sustentação ao Projeto Vargas. O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), criado em 1945, ainda não se instalara por todo País. Lula já tem este partido, o Partido dos Trabalhadores (PT), que precisa abrir sua direção para a militância, caso contrário será mais um partido de elite, de cúpula sem base, no Brasil.
Fundado em 1980, o PT, em dezembro de 2021, contava com 1.606.892 filiados. Mas se a participação popular é fundamental para garantia do governo, o exemplo do Partido Comunista da China (PCCh) mostra a importância de um partido onde todos os temas de interesse nacional são discutidos e a maioria vence. Não se aplicam golpes de astúcia, que cedo ou tarde levarão ao descrédito e à desfiliação da militância.
Abre-se grande oportunidade para o Brasil, quando se investe de autoridade e autonomia a opção multipolar, dos BRICS, onde o País é fundador, e do Cinturão e Rota, do qual mais de 140 países, de todos os continentes, já participam.
Mas na era da comunicação instantânea, das “fake” tudo, a comunicação de massa e a comunicação dirigida estão destruindo famílias, sociedades e a civilização que custou mais de cinco séculos para construir.
A importância da comunicação supera a econômica, a sensação de fome e o desalento do desemprego chegarão primeiro pelo facebook (Meta, Inc), pelo instagram (Facebook), pelo whatsapp (Facebook), pelo YouTube (Alphabet Inc), e pelo chinês WeChat, entre outros. E seus robôs de comunicação criarão em sua mente uma realidade paralela, artificial, principalmente de medo.
Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, atual presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás – AEPET.

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