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sábado, 5 outubro, 2024

A política de vazamentos da Lava Jato

Nesta quarta-feira (6), a ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) soltou uma nota curiosa. O mote da nota é o vazamento de informações visando comprometer o senador Randolfo Rodrigues (Rede-AP).

Por Luis Nassif*, no Jornal GGN

“No que se refere a denúncias sobre senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e um suposto recebimento de dinheiro ilícito, já foi esclarecido pela Procuradoria Geral da República que as informações colhidas não são suficientes para indicar a autoria de crimes”.

Na verdade, a nota é um protesto contra alguém (não se sabe quem) que atribuiu o vazamento aos procuradores da Lava Jato.

“É notório que a sociedade possui direito à informação e que a liberdade de imprensa é um pilar da democracia, bem como a verdade. No entanto a veiculação de fatos desabonadores sem a devida informação, que usam o Ministério Público Federal para atingir pessoas públicas, presta um desserviço à população no intuito de prejudicar o trabalho dos procuradores da República”.

Ou seja, a ANPR admite que os vazamentos (acompanhados de interpretações maliciosas) são práticas espúrias. Mas rejeita como espúria a interpretação de que procuradores vazam. Rejeitando, admite que essas práticas podem comprometer a imagem do MPF.

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Conforme já explicitado em trabalho de 2004, sobre a Operação Mãos Limpas, a estratégia de Sérgio Moro é o vazamento amplo e diuturno de notícias, para controlar o noticiário. E, na outra ponta, parceria com editores sem discernimento, dispostos a aceitar qualquer fato manchetável.

Quando ambos – Operação e imprensa – compactuam do mesmo objetivo – adotar viés partidário – o jogo fica perfeito.

Tome-se o Estadão de hoje. As três manchetes principais são um primor de vazamentos maliciosos de informação.

A primeira tenta incriminar o Ministro-Chefe da Casa Civil Jacques Wagner quando governador da Bahia. A matéria menciona conversas entre Wagner e dirigentes da OAS. O primeiro tentaria liberar recursos em Brasília, os segundos liberariam apoio para a campanha. Segundo o próprio jornal, é material mantido sob sigilo em Brasília e em Curitiba.

Provavelmente o vazamento foi feito pelo rapaz do cafezinho.

O segundo vazamento diz que empreiteiro fez lobby com Cunha para Haddad. O lobby visava aprovar a rolagem de dívida de municípios. O relator do projeto era Eduardo Cunha e o homem que influenciava Eduardo Cunha era o presidente da OAS. Obviamente, sem a rolagem as capitais não teriam recursos para obras. E quem faz obras são empreiteiros.

Provavelmente o vazamento da conversa entre o presidente da OAS e Eduardo Cunha foi da faxineira do prédio da Lava Jato.

O terceiro é a tentativa de incriminar o ex-presidente do Banco do Brasil – e atual presidente da Petrobras – Aldemir Bendine, em operação de compra de debêntures da OAS.

A operação não saiu. Ou seja, não havia o mote do crime. Mas, segundo o jornal, a PGR (Procuradoria Geral da República) viu “indícios” de crime no fato de Bendine pedir para conversar pelo telefone fixo.

Provavelmente Bendine fez o pedido com receio de que o motorista do PGR pudesse vazar a conversa para a imprensa, com ilações só possíveis para um motorista de procurador, não para um procurador.

Pelo menos a manifestação da ANPR ajudará a conter o ativismo de alguns procuradores avulsos, em busca de notoriedade, abrindo representações a torto e a direito em cima de qualquer factoide.

 

Fica claro que, agindo como agiram, comprometeram a imagem do Ministério Público Federal.

*Luis Nassif é jornalista e editor do Jornal GGN

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