Wellington Calasans – direto de Estocolmo
O cenário financeiro internacional está passando por transformações profundas que ameaçam a hegemonia histórica do dólar norte-americano.
Enquanto os Estados Unidos mantêm o dólar como moeda de reserva global há décadas, a crescente influência econômica da China e suas iniciativas estratégicas estão remodelando as relações monetárias internacionais.
Essa transição não ocorre em um vácuo, mas em um contexto de tensões geopolíticas crescentes, onde a dependência excessiva do sistema financeiro ocidental se revelou vulnerável, como evidenciado pela exclusão de bancos russos do SWIFT durante a guerra na Ucrânia.
A China, aproveitando essas fragilidades, tem desenvolvido alternativas que poderiam reduzir gradualmente a dependência global do dólar, criando um sistema financeiro mais multipolar.
Hong Kong está no epicentro desta transformação, planejando estabelecer o primeiro centro digital de liquidação de ouro do mundo, uma iniciativa que visa contornar o sistema de pagamentos dominado pelo Ocidente.
De acordo com relatos do South China Morning Post, o presidente-executivo John Lee Ka-chiu deve detalhar esta estratégia em seu próximo discurso político, com assessores recomendando uma estrutura para o comércio de ouro tokenizado que fortaleceria a posição de Hong Kong como centro financeiro internacional.
Esta medida não apenas impulsionaria o comércio de ouro na Ásia, mas representaria uma proteção estratégica contra sanções ocidentais, permitindo transações sem depender do sistema SWIFT. O ouro tokenizado surge como um ativo neutro que poderia facilitar comércio internacional sem a necessidade de conversão para dólares.
As implicações geopolíticas dessas mudanças são profundas, pois reduzem a eficácia das sanções econômicas como ferramenta de política externa dos Estados Unidos.
Enquanto o colapso recente da Tricolor Holdings expõe as fragilidades do sistema financeiro ocidental baseado em crédito subprime, a China avança com soluções mais concretas para a estabilidade monetária.
O caso da Tricolor demonstra como o excesso de confiança no “consumidor forte” estadunidense mascara uma economia em forma de K, onde os mais pobres enfrentam crescentes dificuldades.
Enquanto isso, a iniciativa chinesa com ouro tokenizado oferece uma alternativa baseada em ativos tangíveis, aproveitando a percepção de que o ouro, assim como o petróleo, permanece indispensável em qualquer cenário geopolítico.
A transição energética também desempenha um papel crucial nessa reconfiguração, contrariando narrativas simplistas sobre o fim iminente dos combustíveis fósseis.
Conforme revelado pela Agência Internacional de Energia, o mundo precisa gastar US$ 540 bilhões anuais apenas para manter a produção atual de petróleo até 2050, devido ao aumento nas taxas de declínio dos campos existentes.
Como observou Fatih Birol, diretor executivo da IEA, a indústria de petróleo e gás “precisa correr muito mais rápido apenas para permanecer no mesmo lugar”.
Esta realidade reforça a importância estratégica dos recursos naturais e como seu controle continuará sendo fundamental para a segurança econômica, criando oportunidades para que nações como a China estabeleçam novas rotas de comércio energético que contornem o dólar.
A combinação dessas tendências indica uma reconfiguração estrutural do sistema financeiro global, onde a hegemonia incontestável do dólar está dando lugar a um sistema mais fragmentado e multipolar.
Enquanto os Estados Unidos continuam a enfrentar desafios internos, como a crescente inadimplência no setor de crédito subprime e a necessidade de reformar seu próprio sistema financeiro, a China avança com projetos concretos que oferecem alternativas viáveis.
O ouro tokenizado de Hong Kong, juntamente com as redes de comércio energético emergentes, representa não apenas uma ameaça à supremacia do dólar, mas uma redefinição fundamental de como o comércio internacional pode ser realizado sem depender das instituições financeiras ocidentais tradicionais.
O resultado final pode ser uma nova arquitetura financeira global onde o poder monetário está mais distribuído, refletindo melhor a realidade econômica do século XXI.
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