Stálin apoiou a criação de Israel, mas boa relação entre governos não durou.
Em 1947, a situação no Oriente Médio era muito tensa, com confrontos violentos a cada semana. O Reino Unido, que administrava a Palestina desde 1920, queria terminar o mandato e liberar a ex-colônia, mas temia que a independência levaria a um novo banho de sangue.
As tensões entre árabes palestinos (1,2 milhões de pessoas, ou 65% da população da região) e judeus (608 mil pessoas, ou 35% da população) estavam aumentando. Os árabes não queriam um Estado judeu na Palestina, enquanto os judeus, que tinham acabado de sofrer os horrores do Holocausto, estavam prontos para lutar pela sua pátria.
![Segundo o historiador e jornalista russo Leonid Mlétchin, a criação de um Estado judaico na Palestina permitiria que Stálin diminuísse a presença do Reino Unido no Oriente Médio.](https://cdni.rbth.com/rbthmedia/images/2017.12/original/5a46384a85600a067751f5c4.jpg)
Segundo o historiador e jornalista russo Leonid Mlétchin, a criação de um Estado judaico na Palestina permitiria que Stálin diminuísse a presença do Reino Unido no Oriente Médio.
Global Look Press
Os judeus precisavam de ajuda diplomática e econômica. Stálin queria expandir a zona de influência soviética após a vitória na Segunda Guerra Mundial e decidiu oferecer seu apoio.
Um objetivo comum
Stálin, porém, não estava interessado em promover os interesses judaicos na Palestina e já tinha lançado vários projetos de autonomia nacional para os judeus soviéticos nas fronteiras da URSS que não foram bem-sucedidos. Além disso, Stálin não permitia que cidadãos judeus soviéticos emigrassem para Israel.
Segundo o historiador e jornalista russo Leonid Mlétchin disse em entrevista à rádio Ekho Moskvi, a criação de um Estado judaico na Palestina permitiria que Stálin diminuísse a presença do Reino Unido no Oriente Médio. “Além disso, uma vez que a maioria dos regimes árabes apoiaram a política do Reino Unido, Stálin preferiu trabalhar com os sionistas.
Aliado soviético na Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido tornou-se um rival geopolítico da URSS e era também odiado por colonos judeus. Em 1946, militantes sionistas bombardearam o hotel King David de Jerusalém, onde ficava alojada a administração britânica, matando 91 pessoas. Afastar os britânicos da região foi um dos principais objetivos dos sionistas e da URSS, embora por diferentes motivos.
Guerras diplomáticas
Quando o mandato do Reino Unido foi encerrado, a questão palestina passou para as Nações Unidas, que teve que encontrar uma solução. Enquanto o Reino Unido não apoiava a ideia de criar um Estado judeu independente, os dois principais poderes na ordem pós-guerra, a URSS e os Estados Unidos, optaram por uma solução de dois Estados, que, por sua vez, foi fortemente negada pelos Estados árabes. Em novembro de 1947, a questão foi votada durante a Assembleia Geral da ONU.
![Embaixador soviético na ONU, Andrei Gromiko](https://cdni.rbth.com/rbthmedia/images/2017.12/original/5a46384a85600a067751f5c5.jpg)
Embaixador soviético na ONU, Andrei Gromiko
AFP
Em seu discurso, o embaixador soviético na ONU, Andrei Gromiko, disse que “o povo judeu foi conectado com a Palestina durante um longo período histórico”, ideia contrária ao ponto de vista árabe, que excluía a criação de Israel. A URSS foi o primeiro país a reconhecer Israel oficialmente, em maio de 1948.
Armas socialistas para sionistas
![Infantaria israelense ataca forças egípcias na região de Negev, em Israel, durante a Guerra da Independência](https://cdni.rbth.com/rbthmedia/images/2017.12/original/5a46384a85600a067751f5c6.jpg)
Infantaria israelense ataca forças egípcias na região de Negev, em Israel, durante a Guerra da Independência
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Os EUA, que também apoiaram a criação de Israel, proibiram oficialmente o fornecimento de armas para o Oriente Médio. Ao contrário dos americanos, Moscou enviava armamentos aos sionistas, embora não oficialmente e através de outros países, como a Tchecoslováquia. Israel recebeu fuzis, morteiros e até aviões de combate Messerschmitt da Tchecoslováquia, obviamente com permissão e consentimento dos soviéticos. Mas esta não foi a única fonte de armas para o Estado judeu.
Fim da lua de mel
O apoio de Stálin a Israel não durou muito. Segundo o historiador russo-israelense Julius Kosharovsky, as relações bilaterais se deterioraram logo depois que Golda Meir, enviado de Israel à Rússia, levantou a questão da proibição da emigração dos judeus soviéticos para Israel.
![Golda Meir](https://cdni.rbth.com/rbthmedia/images/2017.12/original/5a46384a85600a067751f5c7.jpg)
Golda Meir
AP
O governo soviético negou estritamente a possibilidade de permitir a emigração. A posição soviética oficial era que todos os judeus soviéticos, como todos os soviéticos em geral, eram extremamente felizes e não precisavam de nenhuma Terra Prometida. Os políticos israelenses não podiam aceitar isso, e estreitaram os contatos com os EUA, que se tornou seu principal aliado.
Assim, a partir do início da década de 1950 e até o fim da Guerra Fria, a URSS passou a apoiar os árabes no conflito com Israel.
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