Pedro Augusto Pinho*Nominou-se este tempo neoliberal que vivemos de guerra híbrida. Talvez a característica mais marcante, não só desta guerra mas da própria contemporaneidade, seja a farsa, a fraude e as imprecisões semânticas.
Tomemos um exemplo, a partir da premissa verdadeira: a destruição dos Estados Nacionais é um objetivo neoliberal.
O ministro Dias Toffoli, que – por menor conhecimento que tenha do direito que lhe levou à reprovação no concurso para carreira da magistratura – pelo tempo e assessoramento que dispõe no cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), não pode ter dúvida do cometimento recente de, diríamos, duas impropriedades: mandou o STF promover a investigação de um eventual ilícito e designou, sem sorteio, o relator, verdadeiro promotor de justiça, que, posteriormente, julgaria o possível crime. Pareceria incrível que, com esta atitude, ele estivesse mostrando a fragilidade institucional da Suprema corte?
Se for um neoliberal, a serviço do capital financeiro internacional (banca), como tantos no Condomínio Governamental Bolsonaro (CGB) e nas oposições, o Ministro estaria praticando a guerra híbrida: uma decisão que prejudica o próprio órgão que preside. E, deste modo, dando mais um passo para destruição do Estado Brasileiro.
Há enorme diferença entre o que ocorre no Brasil e no mundo após o empoderamento da banca, nos anos 1980, e no que acontecia anteriormente. Tratar da ameaça comunista, das rivalidades entre nações é desconhecer que o mundo pós 1990 está dividido entre a defesa dos Estados Nacionais, seja qual for a forma de governo e opção na distribuição de riqueza, e a submissão à banca, ao gerentes neoliberais.
Considero impróprio designar presidentes ou primeiros-ministros os dirigentes de países onde o neoliberalismo, a banca, governa. Melhor seria nominá-los Executivos Chefes ou, no caso do nosso Condomínio, Síndico.
O engenheiro, doutor Paulo Cesar Ribeiro Lima, discorrendo sobre a situação da energia no Brasil, em sua exposição dia 17/04/2019 no site Duplo Expresso, lamentava que isto se desse no país rico em água, petróleo, minérios, terras férteis como o Brasil. Realmente, é uma inenarrável desdita.
Por muitos anos trabalhei e percorri países da África, da Ásia, de nossa América do Sul. Conheci muita miséria e, o que sempre me comoveu, sem que se abrisse uma porta, pelas condições geológicas, geográficas, da natureza inclemente, para transformação. Para construção de uma vida saudável.
Em 1884, meu bisavô, professor Manoel Olympio Rodrigues da Costa, no Atheneu Pedagógico, no Rio de Janeiro, pronunciou uma conferência da qual destaco um trecho:
“Deus que dotara o Brasil com a neve ao sul e o calor abrasador do norte, com a lua serena e meiga do estio e as noites nubladas do inverno, com o terreno fértil dos campos e as jazidas inesgotáveis das minas, com a variedade infinita das plantas e dos animais, não podia negar a seus filhos capacidade para todos cometimentos; mas qual de nós não tem embasbacado, diante do mais insignificante produto de arte, para bradar cheio de pasmo imbecil: isto é arte de inglês?!
Sim, meus senhores, o brasileiro não crê em si, nem no poder do trabalho, e daí vem que só ele se educa para a vida passiva do empregado”.
Passados 135 anos, vemo-nos mergulhados na pedagogia colonial. Procurando uma corrupção que está no sistema e não nas pessoas, como a principal meta de governo; descrendo de nossas conquistas – Petrobrás, Eletrobrás, Embraer, Embrapa, Nuclebrás – para entregá-las, por simples ideologia importada, aos estrangeiros. Aliás, retifico, ao estrangeiro, pois ele é um só, o apátrida capital financeiro, a banca.
Sim, caros leitores, não há Exxon Mobil, ou Chevron, não há empresas industriais, salvo as estatais, pois todas pertencem a fundos, magafundos que captam dinheiro entre ricos, criminosos, trabalhadores, dos tributos, do tráfico de drogas, armas, órgãos humanos, e misturam tudo em paraísos fiscais, dando-lhes anonimato e lucro.
É a esta realidade que nos encontramos, em guerra híbrida, em confusão e desvirtuamento das próprias palavras, das expressões em nosso e outros idiomas.
Sabem os meus caros leitores, que votaram em Bolsonaro ou Haddad, a quem entregaram seus votos? Sabem eleitores do PT, do PSL, do PSDB, do DEM, do PCdoB, do MDB, do PRB ou qualquer outra sigla que lhes venha à mente, quem elegeram?
Vou lhes revelar os executivos e parlamentares vitoriosos: BlackRock, Vanguard, State Street, Wellington Management, NY Mellon, Charles Schwab, JP Morgan Chase, Geode, Franklin Resources, Fidelity, Amundi, Allianz, Arrow Street, PNC Financial, Deutsche AG, Northern Trust, Norges Bank etc. É esta a bancada dominante.
E ficam girando sombrinhas por Lula Livre defronte do MASP, em São Paulo, passeando pela Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, na defesa da igualdade sexual, enquanto o Brasil sofre uma guerra que teve início em seu descobrimento, mas que tomou forma diferente, nova, com armas mais poderosas que a bomba atômica, após 1990.
Meu bisavô estava carregado de razões. Apenas deixou de apontar nosso maior dos males: a escravidão. Não eu, mas muitos verdadeiramente profundos e competentes analistas que afirmam: a escravidão fez muito mal aos escravos, é óbvio, tirou-lhes a humanidade, o mais torpe crime que jamais se cometeu, mas fez dos senhores pessoas inseguras, incapazes de gerir suas próprias vidas – os permanentes e passivos empregados.
Como enfrentar a guerra híbrida? Ora, como qualquer guerra, livrando-se do inimigo, lutando radicalmente, até a vitória final que será a edificação de um Estado Nacional, soberano e cidadão, logo desenvolvimentista, seguro e livre.
*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado