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quarta-feira, 9 outubro, 2024

A guerra do sultão Erdogan… contra a Rússia


Vamos diretamente ao ponto. A ideia de que a Turquia, servindo-se de um F-16 fabricado nos EUA, derrubaria um SU-24 russo, sem ter antes pedido (e recebido) “apoio” de Washington, é absolutamente inverossímil.

A Turquia não passa de estado-vassalo, braço oriental da OTAN, que por sua vez é o braço europeu do Pentágono. O Pentágono até já negou tudo – negativa que, considerando o seu currículo de fracassos estratégicos espetaculares, não pode ser aceito pelo que parece ser. Muito plausivelmente, pode ter sido disputa por poder entre os generais neoconservadores que comandam o Pentágono, aliados ao governo Obama infestado de neoconservadores.

O cenário privilegiado contudo é de uma Turquia-vassala liderada pelo Sultão Erdogan, que arrisca tudo numa missão suicida, movida por seu próprio total atual desespero.

Aqui, agora, o raciocínio pervertido de Erdogan, resumido num parágrafo. A tragédia de Paris foi golpe terrível. A França começou a discutir uma cooperação militar mais estreita, não dentro da OTAN, mas com a Rússia. O objetivo nunca confessado de Washington sempre foi pôr a OTAN dentro da Síria. Metendo a Turquia/OTAN atropeladamente dentro da Síria; atacando a Rússia e provocando resposta duríssima da Rússia, Erdogan tenta atrair a OTAN para dentro da Síria sob o pretexto (art. 5º) de defender a Turquia.

Por mais perigosamente Baía-dos-Porcos que pareça, nada tem a ver com 3ª Guerra Mundial – como propagandistas apocalípticos já se puseram a ladrar. Tudo gira em torno de saber se estado que apoia/financia/arma a nebulosa salafista-jihadista recebeu autorização para destruir os jatos russos que estão reduzindo a lixo seus preciosos caminhões-tanques transportadores de petróleo roubado.

Casado com a (Erdogan) máfia

O presidente Putin diagnosticou com precisão: “foi tiro pelas costas”. Porque tudo já indica que tenha sido uma emboscada: os jatos turcos estavam na verdade à espera dos SU-24s. Com câmeras da TV turca já distribuídas para máximo impacto global.

Os dois SU-24s preparavam-se para acertar um bando de “rebeldes moderados”. Ancara diz que seriam turcomenos – que a Turquia financia e arma. Mas só há turcomenos no norte da Síria, e são grupo pequeno.

A verdade é que os SU-24s estavam à caça de chechenos e uzbeques, além de uns poucos uigures – que foram infiltrados em território da Síria com passaportes turcos falsificados (a inteligência chinesa também está trabalhando nisso), todos eles operando em conjunto com um bando de imundos islamofascistas turcos. A maioria desses bandidos transitam livremente, do Exército Sírio Livre que recebe armas da CIA, para a Frente al-Nusra. Esses são os criminosos que fuzilaram os pilotos russos quando desciam de paraquedas, depois de se ejetarem, quando os SU-24 foram atingidos.

Os SU-24s absolutamente não representam qualquer ameaça à Turquia. A carta do embaixador turco ao Conselho de Segurança da ONU Halit Cevik é piada: dois jatos russos “foram avisados dez vezes em cinco minutos” para mudar de rota, ambos penetrados “mais de 1,5km” em espaço aéreo turco por intermináveis 17 segundos. Toda essa conversa já foi amplamente desmentida. Para nem lembrar que aviões turcos – e da OTAN – “violam” fronteiras sírias todo o tempo.

Erdogan sabe bem que os neocons norte-americanos estavam em pânico, ante o movimento do presidente François Hollande, depois que seu grito de “é guerra” foi seguido de providências para começar a trabalhar com a Rússia contra os terroristas do ISIS/ISIL/Daesh.

Assim sendo, o alvo real não foi algum SU-24, mas a crescente possibilidade, depois dos ataques em Paris, de uma COALIZÃO REAL – para a qual convergiriam EUA, Grã-Bretanha e França, de um lado, e, de outro lado os “4+1” (Rússia, Síria, Irã mais o Hezbollah) – todos esses interesses efetivamente somados numa luta unificada contra ISIS/ISIL/Daesh.

E onde ficaria então Ancara, que há anos investe pesadamente na nebulosa salafista-jihadista, da Frente al-Nusra ao Ahrar al-Sham e muitos outros grupos e grupelhos, culminando com apostar, ajudar e até sustentar financeiramente o ISIS/ISIL/Daesh?

Para todos os efeitos, a Turquia sempre foi um Centro de Infraestrutura e Logística salafista-jihadista sempre em expansão. A Turquia tem tudo a oferecer, de fronteiras porosas, para permitir que incontáveis terroristas saiam da Síria e retornem à Europa, processo facilitado por polícia corrupta, até entroncamentos convenientes para todos os tipos de contrabando e eficientes operadores para lavar dinheiro.

Então ocorreu a Ancara que, com um míssil, seria possível mudar completamente a história.

Não é possível. É só seguir o dinheiro. Até nos EUA e Europa o jogo turco já vai sendo desmascarado. Umrelatório de pesquisa na Universidade Columbia expõe detalhadamente as múltiplas instâncias da colusão entre o governo turco e os terroristas de ISIS/ISIL/Daesh.

Bilal Erdogan, filho do Sultão, é um dos que mais lucra no comércio ilegal de petróleo roubado do Iraque e da Síria. Imaginem o terror de que foram acometidos o pai e o filho, quando Putin revelou aos presentes na reunião do G20 em Antalya – em território turco! – que a inteligência russa já identificara quase todos os elos da rede de contrabando que apontava diretamente ao ISIS/ISIL/Daesh.

Imaginem o que sentiram os negociantes mafiosos/turcos/ISIS/ISIL/Daesh ante o risco de perderem a fatia que chega até eles dos $50 milhões por mês lucrados com a venda do petróleo roubado dos sírios. Afinal de contas, a Força Aérea Russa já destruiu campos de produção, refinarias e, principalmente, mais de mil caminhões tanques transportadores de petróleo! Imaginem perder todo aquele oceano de petróleo, todo aquele oceano de dinheiro, uma Contrabandistas & Co. inteirinha reduzida a cacos e espalhada pelo deserto sem ter para onde fugir.

Servimos também chantagem & extorsão

O comando da OTAN poderia ganhar a vida em teatros de stand-up comedy – “Grandes Sucessos do Dr. Fantástico”, estrelando o general Philip Breedlove, repetindo sempre o mesmo meme da “agressão russa”. Mas os generais não são completamente doidos. Nenhuma OTAN irá à guerra contra a Rússia por causa de um mero vassalo. E a Rússia não dará à OTAN nenhum pretexto para guerra.

Na arena da Grande Política de Poder, com certeza estamos vendo o retorno da tensão histórica que sempre houve entre os impérios otomano e russo. Mas com o tempo, essa tensão se diluirá. A resposta direta dos russos será fria, calculada, extensa, rapidíssima – e, principalmente, inesperada. Nenhuma resposta seria como permitir ‘carta branca’ para que outros interessados continuem a armar os “rebeldes moderados” na Síria, ao infinito.

O que é certo, desde já, é que a Rússia aumentará muito a intensidade dos bombardeios contra todos os corredores de suprimento abertos pelo ISIS/ISIL/Daesh, da Turquia ao norte da Síria, e todas as rotas de contrabando de petróleo roubado, do norte da Síria até a Turquia.

A Rússia tem inúmeras possibilidades para aumentar a pressão. Por exemplo, os sistemas S-300 e S-400 de defesa aérea que cobrem toda a fronteira turco-síria. Seria parte de uma zona de exclusão aérea que os russos podem implantar sobre a Síria, com a aprovação de Damasco, de modo a impedir que qualquer tipo de aeronave sobrevoe sem permissão explícita do governo sírio. O Sultão não se atreveria a “violar” esse espaço aéreo.

O gambito desesperado de Erdogan é a prova mais clara que poderia haver de que a última coisa que Ancara deseja é algum processo de paz conduzido por Viena, para a Síria.

“Assad tem de sair” não é negociável – por uma série de razões geopolíticas (neo-otomanismo), políticas (a importância de manter a Síria como colônia servil dominada pelos sunitas) e econômicas (o gasoduto que o Qatar gostaria de construir, que atravessaria a Síria diretamente até a Turquia.)

E a coisa toda vai esquentar ainda mais. Não só há uma máfia turca que ajuda, investe e lucra enlouquecidamente nos negócios com o ISIS/ISIL/Daesh e outros exponentes da empresa Jihad Inc.: a própria Ancara também está no negócio de chantagem & extorsão. E a “vítima-otária” preferencial é – e quem mais poderia ser? – a Europa.

A chanceler alemã Angela Merkel teve de ir a Ancara para beijar os pés do sultão, tentando ela ainda “salvar” sua política para os refugiados. Erdogan logo lhe fez a proverbial “proposta irrecusável”. Quer que eu segure os refugiados por aqui mesmo?! É só me dar 3 bilhões de euros; descongelar o processo de incorporação da Turquia à União Europeia (a França, claro, é a principal força que se opõe a isso); e dar-me a “zona segura” de que eu tanto preciso na fronteira turco-síria.

Por incrível que pareça, a Europa cedeu. A Comissão Europeia (CE) acaba de dar 3 bilhões de euros a Erdogan. Começará a sacar o dinheiro dia 1/1/2016. A versão oficial é que esses fundos são parte dos “esforços para resolver a crise dos migrantes”. O primeiro vice-presidente da Comissão Europeia Frans Timmermans disse, entusiasmadíssimo que a chamada “Turkey Refugee Facility garante apoio para melhorar as condições socioeconômicas e do dia a dia dos sírios que buscam refúgio na Turquia.”

Ninguém espere que a Comissão Europeia vá fiscalizar as vias pelas quais esse dinheiro simplesmente desaparecerá dentro da imensa nebulosa das gangues mafiosas – ou será usado para armar ainda mais “rebeldes moderados”.

Erdogan está pouco ligando para refugiado. O que ele quer é sua “zona segura”, não na Turquia, mas 35 km para dentro do território no norte da Síria, fora do alcance do Exército Árabe Sírio, das milícias comandadas pelo Irã, das forças do Hezbollah e, sobretudo, fora do alcance da Força Aérea Russa. Quer sua zona aérea de exclusão; e quer que a OTAN providencie tudo para ele.

Erdogan está numa missão que ele crê ter recebido de Alá – a versão “Erdogan” de Deus. A derrubada dos SU-24 e o assassinado dos pilotos russos foi só o preâmbulo. Preparem-se: 2016 promete muito mais barulho.*****

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