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sexta-feira, 26 julho, 2024

A chacina do Guarujá

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Instituto Humanitas Unisinos

“Violentas e corruptas, as polícias são singularmente incompetentes em desempenhar as tarefas às quais seriam destinadas”, escreve Luis Felipe Miguel, professor do Instituto de Ciência Política da UnB, autor, entre outros livros, de Democracia na periferia capitalista: impasses do Brasil (Autêntica), em artigo publicado por A Terra é Redonda, 02-03-2023.

Eis o artigo.

O governo paulista reconheceu 8 mortos, embora se fale em 10, 12 ou mesmo 19. Familiares das vítimas apontam sinais de tortura e execução. Mas Tarcísio de Freitas já se antecipou: “não houve excesso”. Também declarou estar “extremamente satisfeito com a ação da polícia”.

Rota empreendeu a operação como vingança pela morte de um soldado. A imprensa noticiou que os policiais teriam ameaçado assassinar pelo menos 60 moradores como represália.

É o modus operandi da Rota – em 2015, promoveu uma chacina com 23 mortos para vingar as mortes de um PM e de um guarda civil municipal. Só que esse tipo de ação é coisa de bandos mafiosos, não de força policial.

Por mais justa que seja a indignação pela perda de um colega, a polícia existe para proteger a população e para identificar e prender criminosos, não para promover banhos de sangue.

Ainda que os “suspeitos” fossem todos realmente suspeitos, a violência policial não seria justificada. Mas, como todos sabem, nem isso são.

Há mais de 50 anos, a Rota é sinônimo de truculência. Suas vítimas são contadas na casa dos milhares. Mas sua diferença em relação ao padrão médio das polícias brasileiras é de quantidade, não de qualidade.

(Outro dia vi um vídeo de humor, não lembro a fonte, em que dois estrangeiros se submetem a um quiz para saber o quanto conhecem do Brasil. Uma das perguntas é “Qual é a gangue mais violenta das cidades brasileiras?” A resposta correta é “Polícia Militar”. Humorístico, mas tristemente preciso.)

Para a extrema-direita, a violência policial é um valor a ser preservado. A chacina no Guarujá não é suficiente: a bancada da bala quer carta branca para matar. Pedem a retirada das câmeras dos uniformes.

Violentas e corruptas, as polícias são singularmente incompetentes em desempenhar as tarefas às quais seriam destinadas. Num círculo vicioso particularmente perverso, a falência da segurança pública turbina discursos favoráveis à violência policial. A mesma população que corre o risco de ser morta pela polícia é levada a aplaudir seus excessos.

O discurso cínico de Tarcísio de Freitas não é impensado. Ele sabe a que público está agradando quando avaliza a chacina do Guarujá.

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