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sábado, 20 abril, 2024

A arte ganha vida quando uma obra híbrida biológica-digital conquista o prêmio

Lumen Prize BCS Artificial Intelligence Awards 2018.

Pela primeira vez, o prêmio internacional Lumen Prize British Computer Society Artificial Intelligence vai para um projeto criado pela cooperação entre entidades orgânicas e digitais. A obra artística interativa, Culturas Degenerativas, utiliza microorganismos vivos e Inteligência Artificial para se infiltrar na Internet e colocar em cheque a separação moderna entre o ser humano e a natureza.

Criado pelos coletivo brasileiro Cesar & Lois – um coletivo formado por Cesar Baio, primeiro artista brasileiro a receber o prêmio, e pela artista californiana Lucy HG Solomon (integrante da League of Imaginary Scientists – Lois) – Culturas Degenerativas são microorganismos vivos que crescem sobre textos e tuitam o que “leem”. Ao criar uma interação entre natureza e tecnologia, este projeto bio-digital enfatiza o papel do antropocentrismo como raiz principal das mudanças climáticas.

Sobre Culturas Degenerativas

Culturas Degenerativas é uma obra de arte interativa em que organismos vivos, redes sociais e Inteligência Artificial trabalham juntos para corromper o impulso humano de dominar a natureza. Livros que tratam do desejo humano de controlar a natureza servem de alimento para uma colônia de microorganismos. Ao lado do livro, com os fungos vivos, há um monitor de computador. Um fungo digital inteligente procura na internet e corrompe textos com o mesmo intuito predatório. Estes dois sistemas, um orgânico e outro informacional, se comunicam por meio de uma interface digital criada especificamente para este trabalho. O fungo digital integra Inteligência Artificial e algoritmos generativos (baseados em processos de crescimento de organismos vivos) com um robô do Twitter, permitindo que qualquer pessoa possa interagir com o sistema e ajudar o processo de destruição dos textos. Trata-se de uma arte “biohíbrida”, que integra sistemas vivos e digitais em uma só rede de informação.

Detalhes do funcionamento

1) Um fungo cresce sobre um livro previamente selecionado, que trata do impulso humano em dominar a natureza, consumindo letras e palavras impressas nas páginas.

2) Uma interface digital analisa o crescimento do fungo e sua ação sobre o texto através de um programa de visão computacional.

3) Um robô do Twitter, ligado ao @HelloFungus, publica o texto lido pela interface, junto com as falhas de leitura provocadas pelo microorganismo.

4) A interface também se comunica com um fungo digital, baseado em Inteligência Artificial e Algoritmos Generativos.

5) O fungo digital procura textos na internet com os mesmos ideais de dominação da natureza.

6) Ao encontrar este textos predatórios, o fungo digital os corrompe. Este processo é mostrado na tela que fica ao lado do livro.

7) Os textos do livro físico e da internet são impressos no local da exposição por uma impressora térmica.

8) As pessoas podem interagir mencionando @HelloFungus no Twitter e recebem respostas do fungo digital.

Lucy HG Solomon explica que “Combinando sistemas digitais e vivos, nós examinamos e desafiamos as tecnologias que usamos e que determinam nossas interações sociais. O que aconteceria se a tecnologia funcionasse da mesma maneira que a natureza?”

Cesar Baio faz uma provocação colocando a seguinte questão: “Como podemos responder a um momento histórico em que a existência física e simbólica da humanidade é desafiada tanto pelas mudanças climáticas quanto pela inteligência artificial? Através de uma arte biohíbrida, ’Culturas Degenerativas’ sugere a necessidade de um modo de ver o mundo não antropocêntrico e, potencialmente,

Sobre a importância do prêmio, os artistas afirmam: “A arte oferece um espaço para introduzir novas utopias. Com Culturas Degenerativas, nós vislumbramos uma sociedade futura que equilibra sistemas humanos e não-humanos, naturais e tecnológicos. Iniciativas como The Lumen Prize produzem correntes de vento poderosas que ajuda a espalhar os esporos deste futuro utópico”.

O trabalho conta também com a participação de Jeremy Speed Schwartz (também do Lois), do biólogo Scott Morgans e do microorganismo Physarum polycephalum, mais conhecido como slime mold.

Observação:

A obra Culturas Degenerativas foi criada entre o Brasil, os EUA e o Reino Unido, incluindo um período de pesquisa de pós-doutorado de Cesar Baio, financiada pela CAPES/Brasil, no i-DAT – Digital Arte and Technology Institute da Plymouth University – UK.

A recepção positiva da obra artística pode ser vista nas declarações do júri do Lumen Prize

“O mundo começa com microorganismos e pode terminar com eles. Mas eles não estarão sozinhos. Eu tive sorte o suficiente de ver este trabalho exposto recentemente. Ele lida com questões críticas em relação à Inteligência Artificial e Antropoceno. Se nós criamos máquinas para aumentar a inteligência ou talvez substitui-la, como estas máquinas irão colaborar com micróbios e outros sistemas metamórficos?”

“A relação criada entre bio e technology, através da destruição física e da corrupção digital de um texto antropogênico histórico é realmente muito ressonante”

“Uma das mais interessantes submissões deste ano. Uma excelente maneira de colocar juntas diferentes disciplinas, além de muito bem executada.”

“Chegando às fronteiras entre as disciplinas, este é um discurso espirituoso sobre as disciplinas modernas, com enorme potencial satírico”.

Sobre o Lumem Prize

O Lumen Prize é uma proeminente premiação internacional concedida para obras de arte realizadas com as mais recentes tecnologias e materiais. Este ano, o prêmio concedeu 11 mil dólares em prêmios em uma cerimônia realizada no final de setembro em Londres. Os trabalhos premiados foram selecionados por um júri internacional composto por representantes de instituições como TATE, Victoria & Albert Museum, Museum of London e a Central Academy of Fine Arts da China.

Carla Rapoport, Diretora e Fundadora do The Lumen Prize comenta: “Todos os anos, eu fico sem fôlego pelo poder e pela beleza dos finalistas do The Lumen Prize. Este ano, sinto que o painel do Júri teve o trabalho mais difícil de todos ao escolher os vencedores. Isso ocorre porque a abrangência e os tipos de trabalho enviados são mais diversos e mais impressionantes do que poderíamos imaginar. Mais uma vez, é simplesmente um privilégio atrair esse grupo de artistas para a atenção do mundo e começar a abrir as portas para algumas das melhores obras de arte criadas com a tecnologia atual”.

Site do The Lumen Prize sobre a premiação de Culturas Degenerativas

https://lumenprize.com/artwork/degenerative-cultures/

Site de Cesar Baio explicando a obra:

https://cesarbaio.net/Degenerative-Cultures_en

Site de Lucy HG Solomon

http://imaginaryscience.org/project/bhiobrid/

Informações para a imprensa: juliaryff@gmail.com / 21 99328 4771

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