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sábado, 19 outubro, 2024

Sete de setembro – O Brasil mostra não ter governo nacional

Foto: Ricardo Manhães/ND

Brasil vive o retrocesso da nação. Este retrocesso é devido a ideologia que vem levando à falência, à guerra e ao desemprego vários países do mundo

Pedro Augusto Pinho*

Qualquer colônia, quando fica independente do colonizador, muda o modelo de organização do Estado, escolhendo algum mais adequado às características físicas e culturais do país libertado, e estabelece seu modelo de governança. Isso se observa inclusive quando se muda o regime de poder. Daí as agressões sofridas por países que trocam o sistema capitalista pelo socialista, como se não houvesse a democracia socialista, distinta da capitalista.

Porém no Brasil, em 1822, não ocorreu esta passagem. A independência foi realizada pelo dirigente que manteve o mesmo modelo capitalista e monárquico de governo. Mas a mídia, sempre se verá esta expressão de poder, construiu a fábula da qual só ficou a motivação do Hino da Independência, jamais efetivada:

“Brava gente brasileira, longe vá temor servil,

Ou ficar a Pátria livre, ou morrer pelo Brasil”.

Ficamos todos vivos, submetidos àquelas forças muito vivas do poder financeiro, dominantes em Portugal e, a partir de então, dominantes também no Brasil Império e da I República.

A partir de 1930, no Brasil passaram a lutar duas correntes: a nacional trabalhista e a internacional financeira. E nossa História tem sido a desta disputa; ora prevalece o Brasil trabalhista e desenvolvimentista, ora a Colônia Brasileira, financista e retrógrada.

As ONGs já vem interferindo no governo e no aparelhamento das Forças Armadas

Esta última tem sido a verdadeira governança que nos dirige desde 1990, salvo alguns poucos meses de governo Lula, nos dois primeiros mandatos. Quando participou da criação dos BRICS, na área internacional, e quando, pela competência técnica e gestão nacionalista da exploração e produção de petróleo na Petrobrás, descobriu-se o pré-sal e se tentou recuperar, ao menos parcialmente, o controle brasileiro da energia petrolífera.

Por estes dois “crimes”, as forças financistas retrógradas condenaram, auxiliadas por organizações estadunidenses, Lula à prisão. Poderíamos dizer que foi a mesma “Primavera” que mudou a face do mundo árabe e da Europa oriental.

O que foram estas “primaveras”? O novo modo de se dar golpe. Além dos recursos das agências especializadas do Governo dos Estados Unidos da América (EUA): a CIA (Central Intelligence Agency), a NSA (National Security Agency), os Departamentos de Estado, de Justiça e de Defesa, tinha-se a forte presença das mídias, subordinadas aos gestores de ativos (BlackRock, Vanguard, State Street, Wellington, Fidelity etc), promovendo desinformação e criando necessidades para os povos atingidos.

Um governo que não cumpre o objetivo de defender a soberania nacional

Os novos governantes, já presentes desde o fim dos governos militares, passaram a ser as Organizações Não Governamentais (ONGs), que se infiltraram em ações beneficentes e se expandiram até na governança da energia e da administração da moeda e crédito brasileiras.

Se o prezado leitor for buscar o que ocorreu na Tunísia, que iniciou as “primaveras árabes”, até a Maidan, de 2014, na Ucrânia, encontrará as mesmas operadoras tanto no golpe quanto na comunicação. Para tal, as comunicações virtuais formam recursos notáveis, que nos atacam ainda hoje, pois o Poder Legislativo, que se vale delas, não regula em favor do Brasil suas atuações. Elas chamam censura, e apavoram todos.

O terceiro mandato de Lula demonstra que, no acordo de soltura, havia a transmissão do poder do Presidente eleito para as ONGs.

Temos então as ONGs e não a Petrobrás, nem mesmo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que é basicamente atuante em favor das empresas privadas, e mais fortemente das estrangeiras, dirigindo o petróleo existente no Brasil. Os empecilhos colocados pelas ONGs têm evitado que a Petrobrás possa explorar a Margem Equatorial brasileira, especialmente a bacia sedimentar que vai do Amapá ao limite dos Estados do Pará e Maranhão, denominada Foz do Amazonas.

Também as ONGs já interferem no aparelhamento das Forças Armadas, orientando as atividades do Estado de Israel, que o Itamaraty simula atuar em favor dos palestinos, porém nenhuma ação concreta é exercida. O que não ocorre, no entanto, em favor da Venezuela que, no entanto, tem seu povo sofrido com sanções e bloqueios estadunidenses. Mas se acha no direito de questionar a legislação e os poderes constitucionais venezuelanos.

Mais recente e até contraditório foi o episódio da demissão do Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Luiz de Almeida (1976), formado em direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1995-1999) e em filosofia pela Universidade de São Paulo (2004-2011).

Pelo que sai nas mídias, ele teria praticado assédio sexual entre outras pessoas com a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.

Ora, as mulheres, desde 2003 até 2016, ou seja, nos dois governos do Lula e da Dilma, sempre tiveram, no primeiro escalão do governo, quem as defendesse: Emília Fernandes, Nilcea Freire, Iriny Lopes e Eleonora Menicucci, na Secretaria de Política para as Mulheres; e Ideli Salvatti, no Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humano. Depois veio o golpe de 2016, e a defesa das mulheres passou para escalão inferior, incorporado ao Ministério da Justiça e Cidadania.

Com Bolsonaro, voltaram ao primeiro escalão com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos: Damares Alves e Cristiane Britto. E com Lula 3, Cida Gonçalves, no Ministério das Mulheres.

Se houvesse a governança formal de qualquer dirigente, não seria a ONG, mas o Ministério quem caberia levar a ação criminosa do Ministro, colocado para proteger os Direitos Humanos e a Cidadania.

Apenas dois governantes mostraram ter a consciência de que um país, sem estrutura organizacional atuando sobre todas as atividades do Estado Nacional, deixará um flanco aberto para infiltração estrangeira: Getúlio Vargas e Ernesto Geisel. A Getúlio deve-se a própria formação do Estado Nacional Brasileiro, com os Ministérios, inclusive os inexistentes para Educação, Saúde e Trabalho, Comissões de Primeiro Escalão e Fundações públicas. A Geisel com a criação de empresas públicas e de economia mista, o modo mais contemporâneo para dar flexibilidade de ação ao Estado, além do Ministério da Previdência Social.

Esta quantidade de Ministério do atual governo Lula, fica agora demonstrado com a “caso Silvio Almeida”, apenas resolve o problema de maioria parlamentar, se realmente soluciona? Quem manda está fora da governança formal, está nas ONGs e nas mídias.

A recente disputa pelo poder, entre um Ministro da Suprema Corte e um milionário nascido na África do Sul, enriquecido na Zâmbia e naturalizado estadunidense, mostra quão difícil é governar o país sem ter a estrutura de poder construída com a cultura e os recursos nacionais. SpaceX é mais do que uma plataforma de satélites, é o controle das mensagens por todo mundo onde atue, o que não inclui a Rússia e o mundo asiático, exceto o Império Nipônico que é a Grã-Bretanha do Oceano Pacífico. Mesmo os EUA age em cooperação do Elon Musk, fundador, diretor executivo e diretor técnico da SpaceX.

Triste Brasil.

Um governo que não sabe que seu objetivo é defender a soberania nacional e promover permanentemente a cidadania para os habitantes do País. Que o lucro não é o único móvel da humanidade, como pregam os neoliberais. Que a tecnologia mais avançada não precisa eliminar a solidariedade e o amor ao próximo.

Vivemos o retrocesso da nação que é dirigida pela ideologia que vem levando à falência, à guerra e ao desemprego o mundo do Atlântico Norte. Em contraposição ao mundo asiático, que desenvolve o respeito às etnias, aos governos dos menos desenvolvidos países com as instituições multipolares da Organização para Cooperação de Xangai (OCX) e da Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR) que já agrega 150 países. A última criada durante um governo do PT, num sete de setembro, em 2013, e até hoje ignorada pelo Brasil.

Lições muito importantes poder-se-iam tirar desta demissão do ministro, nos 202 anos da “independência” do Brasil.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.

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