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quarta-feira, 11 dezembro, 2024

 Dilema argentino: Peso ou dólar

Foto Agência Brasil

César Fonseca 

Mais um capítulo tumultuado na crise argentina.

O ministro da Fazenda do governo Javier Miley, Luis Caputo, alarmou a população ao dizer hoje que vai escassear a oferta de peso no mercado.

Isso significa que a moeda argentina vai ficar mais cara.

Quem tem peso no bolso estará mais líquido e fortalecido.

Como fica quem tem dólar, se a moeda corrente é o peso e é com ele que se paga os gastos correntes da cidadania?

Parece, por óbvio, que os detentores de dólar – sinônimo da poupança nacional – vão ter que vendê-los para pagar suas contas.

Mas, perguntam os críticos de Caputo, como ficarão os que não têm dólares, se o peso ficará mais caro na praça?

Se não tem dólar nem peso, a oferta escassa deixa a moeda nacional mais cara para comprar bens e serviços, visto que o governo anuncia parada nas emissões.

Se a população tiver que desfazer de poupança – dólar – para gastar – trocando dólar por peso –, os preços deverão subir, a menos que a oferta de mercadoria for suficiente para mantê-los em equilíbrio.

Se não tiver oferta suficiente de mercadoria, será ou não necessário importá-las?

Para importá-las, será indispensável dispor de dólar para pagar importações.

A poupança existente em dólar será suficiente para pagar importações ou será necessário elevar exportações para angariar dólares?

E se as exportações não reagirem à altura, o governo terá ou não que pedir empréstimos externos, ou uma nova rodada de dólares fornecidos pelo FMI?

As contrapartidas exigidas pelo Fundo Monetário Internacional são conhecidas: desregulamentação e privatizações em escala mais acelerada.

Ou seja, avançará a desnacionalização.

ALERTA DE CRISTINA

No fundo, se caracterizaria a verdade segundo a qual o problema central da Argentina é a escassez não de peso, mas de dólar, como ressalta a ex-presidente Cristina Kirchner.

Se Caputo avisa que haverá escassez de peso de agora em diante, deverá ocorrer desova forçada de dólares no mercado por parte dos poupadores.

Inflação em dólar à vista, no balanço entre oferta maior da moeda americana em comparação com a escassez anunciada de peso?

Será ou não alterada a histórica desconfiança dos argentinos em relação à sua própria moeda, na medida em que dão preferência para a poupança em dólar, para evitar riscos de prejuízos, como desvalorização do peso por conta da elevada inflação?

Terá sustentabilidade suficiente o peso para se fortalecer, como preanuncia Caputo, se a inflação crônica argentina não ceder?

As dúvidas insanáveis, que se arrastam nas últimas décadas, ficam por conta dos fatores conjunturais desatados pelas medidas neoliberais do governo de Miley, cujos resultados são arrocho salarial e aceleração da miséria que aprofunda o subconsumismo e sua irmã gêmea, a desigualdade social que espanta investidores.

Os dilemas que vão surgindo quanto à saúde da economia portenha e a aceleração da perda do poder de compra da população são evidentes: eleva inflação decorrente da redução da produção como forma de manter constante a taxa de lucro das empresas e aumenta o risco cada vez mais alto para impopularidade do governo Miley.

Cristina Kirchner e os peronistas já se colocam de prontidão para explorar ao máximo politicamente os resultados incertos na tacada de Caputo para tentar evitar a escalada do caos neoliberal de ultradireita na Argentina.

O fato é que a promessa de Miley de dolarizar a economia subiu no telhado.

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