Incógnita total do novo plano monetário venezuelano sem o FMI.
O presidente Maduro, certamente, está diante do maior desafio da sua vida.
Cesar Fonseca
Vai ou não dar certo, a nova moeda venezuelana, a criptomoeda Petro, lastreado em petróleo, ouro e diamante – disponível em abundância no País – que começa a circular amanhã?
Um Petro estará inicialmente cotado ao preço de um barril de petróleo – 60 dólares.
É o grande assunto latino-americano da semana.
O salário mínimo, atualmente, de 5.000.000 de bolívares, passa a ser de 50 bolívares soberanos, com corte de 5 zeros.
Um quilo de frango, que custa, hoje, 6.000.000 de bolívares, passa a ser 60 bolívares soberanos.
Para fortalecer poder de compra da população, Maduro aumentará o mínimo em 1.600.000, ou seja, 1.600 bolívares soberanos.
Com corte de cinco zero, a inflação de 1.000.000% cai para 10%.
A vinculação do bolívar soberano à criptomoeda petro, lastreada nos minerais estratégicos da Venezuela, vai dar o tom da variação monetária.
Hoje, tal variação está, totalmente, errática, porque o País está, sob regime monetário ditado pelo dólar, submetido a bloqueio comercial pelo governo americano.
Washington passou a adotar em relação à Venezuela o que pratica contra Cuba há perto de 60 anos, o garrote comercial, para tentar reverter o nacionalismo venezuelano, que incomoda, profundamente, os Estados Unidos, inconformados com a liberdade econômica e política no País de Bolívar e Chavez, embora pagando preço alto pela preservação da soberania, ancorada em Assembleia Constituinte Popular e poder executivo cívico-militar.
Do ponto de vista geopolítico estratégico, Maduro, na prática, está dando o troco ao presidente Donald Trump.
Enquanto adota nova política macroeconômica, ao largo do dólar, aproxima-se, rapidamente, da China e da Rússia, pontas de lança dos BRICs, oposição à divisão internacional do trabalho inaugurada pelos Estados Unidos, no pós segunda guerra mundial, tendo sua moeda como parâmetro das relações de trocas internacionais.
Maduro fortalecerá, sem dúvida, relações comerciais e diplomáticas com China-Rússia, em processo de formação de grande aliança comercial, para desenvolver a Eurásia, vanguarda desenvolvimentista internacional no século 21, cujas consequência abalam Washington.
Putin e Jiping acenam para trocas comerciais em moedas nacionais, bomba atômica financeira aos ouvidos de Washington, cioso do dólar, alvo de especulação global, abalando geral os mercados.
Semana passada, o secretário de Defesa americano, Jim Mattis, visitou Brasil, Argentina, Chile e Colômbia para fazer cerco sul-americano à Venezuela em suas pretensões nacionalistas independentes, tendo como alavanca a poderosa arma do petróleo, para abrir negociações diretas com os russos e chineses.
Trata-se de assunto que Tio Sam não quer nem ouvir falar, já partindo, antecipadamente, como vem acontecendo há mais de dois anos, para bloqueios comerciais e outras ameaças belicosas, criando instabilidades na América do Sul.
Agora, com nova moeda em circulação, completamente, desvinculada do dólar, para tentar vencer inflação e bloqueio econômico, Venezuela vira diabo vermelho para Washington.
É bom lembrar que o império americano não tem aceitado provocações quando entra em cena ameaça ao dólar.
Saddam Hussein tentou comercializar petróleo por euro, deixando dólar de lado, e se lascou; o mesmo aconteceu com Muammar Khadafi, presidente da Líbia; o presidente da Siria, Bashar Al Assad, idem, sofre horrores, salvando-se do desastre, graças a parceira com Rússia; e, agora, Erdogan, presidente da Turquia, da mesma forma, está ameaçado, pela sua aproximação crescente com China e Rússia, para fugir do dólar e do FMI.
Como reagirá o mercado financeiro internacional nos próximos dias, sujeito às oscilações, dada superoferta de moeda americana na circulação global?
O Brasil, que descobriu pré sal, segunda maior reserva de petróleo do mundo, dispõe, como a Venezuela, do lastro real para fortalecer sua própria moeda, caso decisões políticas, nesse sentido, sejam tomadas pelo próximo governo, se vencerem a eleição as esquerdas, em guerra política contra os entreguistas que deram o golpe neoliberal em 2016.
Por tudo isso, a grande questão sul-americana passa a ser a nova moeda venezuelana, expressão de choque frontal com o dólar americano, cujo lastro real são bombas atômicas, o poder militar bélico espacial de Tio Sam.
A pergunta central é: o povo venezuelano, que escreve, em Assembleia Constituinte, sua nova Constituição, vai apoiar, politicamente, Maduro, eleito por grande maioria na última eleição presidencial?
Se apoiar, que fará Trump?