Por Orlando Oramas León
México (Prensa Latina) O governo do presidente Enrique Peña Nieto abandonou de jeito cru a sua tradicional doutrina Estrada em matéria de política externa, após anunciar cooperarão com o governo dos Estados Unidos nas sanções contra a Venezuela.
A subsecretária de Fazenda mexicana, Vanessa Rubio, disse que a administração de Peña Nieto entregará informação fiscal e financeira sobre funcionários e ex-responsáveis venezuelanos contra os que Washington ditou sanções.
Tamanhas punições incluem a revogação de vistos e o congelamento de recursos e bens, uma política com a que o governo mexicano se compromete a despeito da diplomacia de respeito à soberania de terceiros países que durante décadas lhe mereceu reconhecimento internacional.
Rubio argumentou que a decisão se corresponde com acordos de cooperação bilateral e multilateral para detectar possíveis ilícitos.
Contudo, não poucos se questionam cá se a medida se corresponder com as revelações do diretor da Agência Central de Inteligência, Mike Pompeo, quem reconheceu ter-se reunido com altos cargos de México e Colômbia para coordenar ações contra o governo do presidente Nicolás Maduro.
A subsecretária de Fazenda assinalou que a Unidade de Inteligência Financeira dessa dependência federal procurará na sua base de dados informação que for útil para a administração do presidente Donald Trump.
Reconheceu que já foram adiantadas conversas com o Departamento do Tesouro dos EUA para agir os mecanismos de entrega de informação contra o governo de Caracas, o que torna mais verossímil as denúncias do presidente Maduro respeitante à confabulação antivenezuelana entre a CIA e a administração de Peña Nieto.
Antes se tinha divulgado aqui um comunicado conjunto da Chancelaria e a Secretaria de Fazenda assinalando que a administração de Peña Nieto procederá ‘em consequência’ relativa às sanções anunciadas pelos Estados Unidos contra a Venezuela.
O texto, de dois parágrafos, e que meios de imprensa locais qualificaram de confuso, utilizou a mesma linguagem da Casa Branca para justificar punições contra altos funcionários do governo venezuelano.
Segundo o comunicado oficial, México assume como seus os qualificativos de Washington de que os funcionários e ex-funcionários da Venezuela sancionados pelo governo de Donald Trump o foram ‘por menosprezarem a democracia e os direitos humanos em dito país, bem como por terem participado em atos de violência, repressão e corrupção’.
Em relação às sanções: ‘o governo do México, por conduto da Secretaria de Fazenda e Crédito Público, informa que procederá em consequência, comforme às leis e convênios aplicáveis na matéria’, acrescenta.
Resulta outra escalada na postura mexicana contra o governo bolivariano, que hoje se mostra sem disfarces nam sua cumplicidade com Washington.
México deita fora pela amurada a histórica doutrina Estrada, pela qual a sua política externa ganhou simpatias e reconhecimento internacional pelo respeito à soberania e autodeterminação de terceiros países.
Hoje as autoridades mexicanas assumem como próprias as desqualificações da administração de Donald Trump contra o legítimo governo venezuelano que denunciou ser objeto de um arremesso de interesses estrangeiros em conluio com a direita e grupos de poder econômico da nação sul-americana.
México se situou no lado daqueles que mais uma vez apelam à via do golpe de estado contra o governo bolivariano, que já o enfrentou em vida do presidente Hugo Chávez, cujo natal foi recordado cá na missão diplomática venezuelana junto a organizações sociais e representantes políticos mexicanos.
Para graficá-lo de algum jeito: a Secretaria de Fazenda mexicana por ordem dos Estados Unidos, pesquisa ao ministro de Cultura da Venezuela, Elías Jaua, um dos 13 sancionados por Washington.
Jaua foi vice-presidente, chanceler da República Bolivariana da Venezuela, com a qual o México mantém relações diplomáticas que se devem reger por princípios hoje violados segundo o mandato da Casa Branca.
Neste palco, o capítulo da Rede de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade considerou como submissão inaceitável a ingerência do governo do presidente Enrique Peña Nieto nos assuntos internos venezuelanos.
Um documento assinado por intelectuais e acadêmicos membros da Rede opinou que o agir da administração de Peña Nieto contra a Venezuela não representa o sentimento do povo mexicano.
O texto rejeita a decisão anunciada pela Chancelaria e a Secretaria de Fazenda de somar-se às sanções do governo do Donald Trump contra funcionários do governo venezuelano.
Sublinha que o grau de submissão ultrapassou os limites da racionalidade, degradando a dignidade que qualquer um país deve hastear e violentando a tradição que o México teve com respeito às soberanias de outras nações.
A Rede exigiu ao governo mexicano para se retratar publicamente e recuperar os princípios de uma política externa respeitosa do direito de autodeterminação de povos e nações.
Correspondente Chefe de Prensa Latina no México.