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quarta-feira, 17 abril, 2024

25 de janeiro: Dia Internacional do Crime da Vale

Por Luiz Fernando Leal Padulla*
Dois anos se passaram e a lama continua a soterrar vidas e esperanças. Doze milhões de metros cúbicos que devastaram o ambiente outrora admirável e levaram famílias inteiras. Depois de Mariana – que este ano completará 6 anos –, Brumadinho. Em comum, um mesmo culpado: a Vale.
Pessoas morrendo soterradas vivas, enquanto privatizam os lucros e socializam o caos e o sofrimento. O rio Doce, amarga o luto, a indiferença e o esquecimento. Salga-se com lágrimas que caem.
Compram espaço nos meios de comunicação para alardear que é uma empresa comprometida com o meio ambiente e a sustentabilidade. Sob o eufemismo plantado com apoio da mídia, insistem em dizer que foi um acidente. Mas não foi. Foi um crime!
Como mágica, fazem sumir com as vítimas; manipulam de forma sórdida e sorrateira às tantas Marias e Josés que foram enterradas debaixo da lama do capital de suas barragens. Indenizam com valores que julgam suprir uma vida a menos.
Negociam o inegociável; etiquetam vidas que se foram e recorrem quando avaliam o valor absurdo. Quanto vale uma vida para a Vale? Como compensar 259 famílias soterradas? Qual valor a Vale acha que vale as 11 vidas desaparecidas? Para a Vale, nada valem!
(E a Vale, o que realmente vale?)
Vítimas reais, transformadas em números que logo sumiram e deram espaço para propagandas politicamente corretas que colocam a Vale e seus acionistas como santos. Comunidades inteiras sumiram. Índios, quilombolas, já marginalizados e ignorados pelo capital, agora sumiram de vez.
Dizem continuar atuando para reparar os danos causados pela ganância, tentando limpar sua imagem atolada pela lama, manipulando as massas e ignorando as vidas. Querem comprar o silêncio e fazer com que tudo seja esquecido.
O imbróglio na Justiça continua a passos lentos, desgastando cada vez mais o pouco de paciência e esperança que essas pessoas ainda alimentam. Enquanto isso, a Vale comemora sua recuperação do valor de mercado.
Enquanto clamamos por medidas mais urgentes, que garantam o mínimo de segurança, o desgoverno genocida de BolsoNazi, somente em seu primeiro ano de mandato, dobrou o número de barragens de mineração sem atestado de estabilidade que compete à Agência Nacional de Mineração.
Um pária que se elegeu sob o mantra “Família acima de tudo, Deus acima de todos”, parece agora emplacar novo slogan, sendo conivente com tais criminosos: “Lucro acima de tudo, lama em cima de todos”.
Até quando nos indignaremos a essa política predatória e neocolonialista? E não adianta falar que a natureza é vingativa…ela é reativa; à espera de nossa mobilização além de hashtags e tristezas momentâneas. É preciso dar um basta a esse comportamento primitivo e extrativista.
Realmente não foi acidente o ocorrido em Brumadinho. Foi um crime, cujo assassino se lambuza em uma lama recheada de minérios e dinheiro. A Vale é a culpada. A Vale é a assassina.
Esse é um artigo que não tem a pretensão de trazer dados atualizados da situação de Brumadinho, mas apenas recordar Brumadinho e as pessoas que lá um dia habitaram e viveram. É um artigo para ecoar as vozes pela verdadeira Justiça, para não deixar que tudo isso caia no esquecimento. É preciso lembrar, se indignar, resistir e lutar contra as mazelas do capital.
*Professor, Biólogo, Doutor em Etologia, Mestre em Ciências, Especialista em Bioecologia e Conservação.

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