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sexta-feira, 26 julho, 2024

 1934 – Itália: A Copa de Mussolini  

   HISTORIANDO AS COPAS – II

 Zédejesusbarreto

                                                      “A bola é um reles, um ínfimo, um ridículo detalhe.

                                                       O que procuramos no futebol é o drama, é a tragédia,

                                                       é o horror, é a compaixão”.

                                                                                                             Nelson Rodrigues:

 1934 – Itália

             A Copa de Mussolini  

A segunda Copa do Mundo aconteceu na Itália, sob os auspícios do ditador Benito Mussolini, o ‘grande líder’ idolatrado pelos italianos e abençoado pelo Vaticano, o Duce (chefe e todo-poderoso) do Partido Nacional Fascista.

Enaltecendo a “Nova Itália”, Mussolini mandou construir estádios em Turim, Nápoles, Trieste e reformou, especialmente para a competição, os estádios de Gênova, de Florença, o San Siro de Milão e o de Roma, que foi rebatizado, à época, de Stadio Nazionale del PNF – Partido Nacional Fascista. Para realizar a Copa e exibir poder, o Duce criou impostos, arrecadou muito dinheiro do povo, guiado por um fanático nacionalismo.

– A Itália venceu a Copa, claro, na bola e no apito. A final foi contra a Tchecoslováquia, por 2 x1, com direito a um desempate na prorrogação. Os tchecos chiaram muito com a atuação do árbitro sueco Eklind que, antes de a partida começar, teria até feito a saudação a Mussolini (com quem jantara na noite anterior). O Duce esteve presente e foi entusiasticamente ovacionado no estádio.

– Dezesseis equipes disputaram a Copa de 34, 12 da Europa. Egito, a primeira equipe africana numa Copa, os EUA e apenas duas da América do Sul, Brasil e Argentina. Ressentido com as ausências dos europeus na Copa de 30, o Uruguai, Campeão do Mundo, recusou-se a viajar para o chamado ‘Velho Mundo’. Presentes, pois, a Itália, dona da casa, Tchecoslováquia, Alemanha, Áustria, Espanha, Hungria, Suíça, Suécia, França, Holanda, Romênia e Bélgica (da Europa).

– A Inglaterra, tida como a ‘mãe’ do futebol profissional, de birra com a FIFA (francesa), também ficou de fora.

 O Brasil de Getúlio

– Á época, o Brasil não chegara aos 40 milhões de habitantes. Éramos um país ainda rural, mal saindo de uma retrógrada República Velha, a chamada ‘café com leite’, quando a aristocracia de SP e MG dava as cartas. Minas era o estado mais populoso e o Rio de Janeiro nossa maior cidade, a capital do país.

– As músicas mais tocadas em nossas emissoras de rádio eram ‘Agora é Cinzas’, com Mário Reis, ‘Na batucada da Vida’, com Carmem Miranda e a até hoje cantada ‘Cidade Maravilhosa’, um hino ao Rio. O livro daquele momento era o recém-lançado ‘Casa Grande & Senzala’, leitura desbravadora sobre a formação do país, escrito pelo sociólogo pernambucano Gilberto Freire, um clássico ainda hoje.

– O ‘caudilho’ gaúcho Getúlio Vargas tomara o poder, na tora, em 1930 e governava de modo provisório mas ‘de com força’, desde então. Em julho de 1934, através de ardilosas manobras populistas, Getúlio (o Gegê) foi eleito, ou elegeu-se presidente da República por uma Assembleia Constituinte.

*

A cangancha Rio x SP

– No âmbito do futebol, a bagunça continuava. Com duas federações em litígio – a CBD amadora e a FBF, que pregava a profissionalização do esporte -, fomos para a Europa sem os nossos melhores atletas, com uma seleção bem carioca, a CBD se impondo na velha e idiota rixa entre SP x Rio.

– O grande astro Friedenreich ficou mais uma vez de fora, dessa vez envolvido pra valer com a política desde a revolução constitucionalista de 1932, em São Paulo, quando chegou a pegar em armas.

– O fenomenal zagueiro Domingos da Guia, que fora jogar no Uruguai no ano anterior à Copa, não foi liberado pelo Nacional de Montevidéu para defender o Brasil.

– Assim, nossos melhores jogadores na Copa de 34 eram o atacante Patesko, que também atuava no Uruguai, o garoto revelação do Vasco (20 anos) Leônidas da Silva e o meia-atacante Waldemar de Brito, que bem mais tarde seria o descobridor do menino Pelé.

 Nos campos da Itália

– Como os jogos das oitavas de final daquela copa eram eliminatórios, o Brasil fez apenas uma partida, contra a Espanha, e levou 3 x 1; os três gols espanhóis marcados em apenas 30 minutos do primeiro tempo.

Era a primeira vez que jogávamos na Europa. Na segunda etapa, mais aclimatados, até mostramos algum estilo diferente de jogo, com um gol de Leônidas, aos 11 minutos, e Waldemar de Brito perdendo um pênalti para defesa do goleiro Zamora, um mito.

– O Espanha x Brasil aconteceu no dia 27 de maio, um domingo, em Gênova, e começou por volta das 12h30, horário brasileiro, mas só ficamos sabendo do resultado via telégrafo, já no começo da noite.

O time brasileiro, sob a batuta do treinador Luiz Augusto Vinhaes, assim escalado:

– Pedrosa, Sylvio Hofman, Luiz Luz, Tinoco, Martim, Canalli, Luizinho, Waldemar de Brito, Armandinho, Leônidas e Patesko.  Uma equipe armada basicamente com jogadores do Botafogo, Fluminense, Bangu e São Cristóvão.

– O interessante é que, mesmo com a desclassificação no primeiro jogo, os europeus mostraram-se impressionados com o futebol diferente e diferenciado do avante negro Leônidas da Silva e do meia Waldemar de Brito (22 anos).

– Foi a pior campanha brasileira em copas do mundo. Desclassificada, a seleção ficou na Europa para realizar amistosos em vários países, por 45 dias, catando níquel e ganhando destaque na imprensa esportiva da época, por conta de boas atuações e um jeito novo de jogar, bagunçado mas bom de apreciar, diziam.

O título do Duce

– A Itália, favorecida por arbitragens escancaradamente caseiras, ganhou o título, para delírio de Mussolini e seu seguidores, os ‘camisas negras’.

– Na equipe campeã jogava um brasileiro, o ponta direita Filó, de mãe italiana, que surgiu no Corínthians e foi atuar na Lazio de Roma em 1931.

–  Na final, os donos da casa venceram a Tchecoslováquia por 2 x 1, na prorrogação, com bandeiras italianas misturando-se às suásticas nazistas, um agrado e desagravo à Alemanha de Hitler que fora derrotada nas semifinais pelos Tchecos, por 3 x 1.

– O nazifascismo se alastrava ‘vitorioso’ então na Europa, para assombro de muitos. A Copa servira como um recado.

*

O time Italiano Campeão em 1934, treinado por Vittorio Pozzo:

– Combi, Monzeglio, Allemandi, Ferraris; Monti, Bertolini, Guaita e Meazza (o astro da equipe, escolhido como ‘o Craque da Copa), Schiavio, Ferrari e Orsi.

– O artilheiro da Copa foi o Tcheco Nejedly, com cinco gols.                                                                                                        Ago/2022

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