Foto: Reprodução depoimento de Lula a Moro
Jornal GGN – As suspeitas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que foram manipulados e alterados os documentos do sistema Drousys, que registraria propinas da Odebrecht, foram confirmados por perito contratado pela defesa de Lula.
O documento com a análise detalhada do assistente técnico Celso Mauro Ribeiro del Picchia traz a conclusão de “discrepâncias flagrantes” em planilhas, “incongruências e anomalias estampadas” em documentos, revelando indícios de que os arquivos foram “alterados em sua ‘matriz’ original”.
“Consoante as possibilidades (e, até com certeza, enormes facilidades) de adulterações/manipulações dos arquivos digitais, tanto de textos como, em especial, de planilhas (consoante informamos à pg. 07 e ilustramos na figura impressa à pg. 08), a fidedignidade dos impressos decorrentes e pertinentes, informados como extraídos do sistema DROUSYS, resta conspurcada”, concluiu o parecer crítico de Celso del Picchia.
O processo que faz referência ao sistema já está na fase final, com deadline do próprio magistrado de Curitiba de que apenas faltaria o resultado das perícias. A expectativa dos procuradores da República é que a sentença de Moro contra Lula seja promulgada até março deste ano.
A acusação dos procuradores do MPF é de que a Odebrecht teria pago R$ 12 milhões por um prédio destinado ao Instituto Lula, que nunca foi utilizado pela instituição e outros R$ 500 mil pelo apartamento vizinho ao do ex-presidente, em São Bernardo do Campo. E a fonte desses recursos teria como partida a conta de propina da Odebrecht. Os supostos registros e/ou provas das transações estariam registradas neste sistema MyWebDay e Drousys.
As páginas mencionadas pelo perito mostram a possível falsificação de informações quando elas são feitas com erros e também quando mantém um maior cuidado para não apresentar grandes distorções:
Estes dados são informados nas preliminares da análise, no qual o perito destaca que o magistrado de Curitiba, Sérgio Moro, não concedeu os documentos originais à defesa, sob a justificativa de que eles não existiriam e de que os de porte dos próprios investigadores da Lava Jato eram a digitalização dos mesmos. Por isso, houve uma maior dificuldade de realizar a perícia, pela impossibilidade de comparação com os documentos originais.
Entretanto, “não é totalmente impossível, no prisma documentoscópico que, por exemplo, em alterações perpetradas em uma célula ou coluna, ou mesmo, em enxerto/inserção total de uma ou várias linhas, sejam cometidos erros ou inseridas diferenças que tornem evidentes, e passíveis de prova, a(s) modificação (ões) ou manipulação (ões) artificiosas do arquivo digital originário”, informou.
Uma das questões elaboradas pela defesa de Lula era se os registros relacionados a Paulo Melo foram “produzidos por um mesmo e único punho escritor”. “Não”, respondeu o perito. “Ainda que se pretenda, perdoem-nos o popular ditado, ‘tapar o sol com a peneira’, não encontramos justificativas lógicas e razoáveis para as diferenças e divergências entre os lançamentos do texto”, completou.
“As divergências – entre o nome ‘P. Melo’ e as inscrições do texto acima – evidenciam ter sido grafado por punho diverso daquele que produziu as anotações”, comparou.
Na sequência da análise, Celso Mauro Ribeiro del Picchia lembra que não há “motivos admissíveis para que um mesmo autor viesse a utilizar esquemas morfológicos totalmente distintos, haja vista que o registro do nome, abaixo do contexto, não consiste em uma assinatura (ou imitação dela)”, continua.
O avançado nível de análise da escrita de determinada pessoa chega ao ponto de identificar não somente diferentes autorias, como também a velocidade e a forma com que foram escritas as palavras.
Dessa forma, concluiu o perito: “Ainda que se intente contornar estas significativas diferenças nesses mínimos gráficos sumamente identificadores, alegando-se que em ‘P. Melo.’ teríamos a presente de dois pontos únicos, e não dos sinais ortográficos de ‘dois pontos’, não haveriam justificativas para as diferenças cinéticas em componentes iguais, de gesticulações gráficas tão íntimas”.
Os estudos minuciosos foram feitos a partir das perguntas enviadas pelos advogados de Lula, chegando à conclusão de que “o nome ‘P. Melo’ foi enxertado” neste documento.
Também se chegou à constatação de que há mais de uma assinatura em outro documento, que comprova “o posterior enxerto ou montagem dessa segunda firma”, que não estava presente em um mesmo documento. Ainda foi confirmada a adulteração ou acréscimo entre uma e outra reprodução enviada pela Odebrecht.
Em trecho de uma planilha, também é verificada a inserção de um dado posterior. A justificativa dada pela Odebrecht é que foi usado o comando “centralizar”. Entretanto, fica visível com a ampliação da perícia que os dados não estavam centralizados:
Outros “desenquadramentos” foram vistos em planilhas, assim como diferenças de tamanhos de fontes:
Dessa forma, ainda que duas planilhas tenham sido reportadas como sendo as mesmas, a perícia contratada pela defesa de Lula chegou ao veredito de que existem “discrepâncias flagrantes entre as duas planilhas”.
ENTENDA
As suspeitas de que a própria Odebrecht teria manipulado e alterado informações e documentos surgiram quando o próprio criador do Drousys, Paulo Sérgio da Rocha Soares, informou durante depoimento em dezembro do último ano que os usuários do sistema poderiam modificar e também excluir dados do servidor.
A partir daí, um dos principais críticos da força-tarefa, o advogado Rodrigo Tacla Duran, que revelou bastidores de irregularidades das investigações, chegou a dizer que o sistema foi manipulado e alterado “antes, durante e depois de seu bloqueio pelas autoridades suíças”.
A defesa de Lula buscou, então, verificar se os documentos foram alterados e solicitou a perícia ao juiz Sergio Moro. O magistrado decidiu formar uma equipe de peritos independentes da defesa de Lula e dos acusadores, neste caso os procuradores da República. O documento ainda não foi divulgado.
Paralelamente, a defesa do ex-presidente contratou peritos para também fazer a avaliação. Finalizado, o documento foi encaminhado ao juiz Sergio Moro nesta quinta-feira (15).