Foto: José Luis Magana/SIC Noticias
Luiz Fernando Leal Padulla*
O berço da democracia. Um país que julga que mercados privatizados e consumismo livre de freios democráticos são instrumentos para a criação da democracia. Como diz Barber no livro “O império do medo”, “desde sua fundação, os Estados Unidos se consideram únicos, excepcionais e, portanto, isentos das leis que governam a vida e o destino das outras nações”. No entanto, provaram do próprio veneno.
A invasão que os trumpistas fizeram, apoiado pelo então presidente Trump, ordenados por fascista sob a égide de supremacistas brancos dos EUA, mostra quão ardilosa é a direita. Incapazes de vencer de forma legítima, através do voto democrático – mesmo com disparo de Fake News – querem o caminho mais fácil: o golpe.
(Cabe aqui uma reflexão: imaginando que tais fatos tivessem acontecido durante as manifestações do “Black Lives Matter”, será que a postura por parte da segurança seria a mesma? Ou teríamos dezenas de negros e militantes mortos e feridos? Na ocasião, Trump ordenou o destacamento de forças nacionais que cercaram o Capitólio – ao contrário do que foi visto ontem, cujas ações tiveram até certa conivência de policiais).
Joe Biden não é pacifista. No entanto, seria o momento de convocar ajuda externa – incluindo lideranças como Rússia, China e cia – afinal, não tem como os EUA invadirem os EUA sob o argumento de restabelecer a ordem. Essa seria uma demonstração de grandeza, e mostraria que os EUA, sob sua tutela, estaria disposto a realmente ao diálogo e novos tempos.
No entanto, dado o histórico bélico e prepotente, tentando manter o status quo, é pouco provável que isso ocorra. Como disse o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, ao apoiar a invasão desumana dos EUA ao Iraque, “deem mostras de fraqueza agora e ninguém acreditará mais em nós quando, no futuro, tentarmos demonstrar firmeza”. É isso que os EUA temendo.
Outro aspecto intrigante e curioso é que na mesma semana da tentativa de insurreição, Eduardo Bolsonaro visitou a Casa Branca e aliados de Trump. Vale lembrar que ele foi designado o “líder” sul-americano do movimento de ultra direita populista encabeçado por Steve Bannon – que foi preso ano passado por fraude financeira, mas hoje responde processo em liberdade.
(Tal como aconteceu com a suspeitíssima execução do miliciano e chefe do chamado “Escritório do Crime”, Adriano da Nóbrega – uma das possíveis chaves para desvendar a morte de Marielle Franco e com ligação direta com a faMilíca. Seria mera coincidência que Eduardo Bolsonaro, esteve no Estado baiano dois dias antes da operação?)
Não morro de amores pelos EUA – muito pelo contrário. Arrogantes como são, se achando no direito de intervir em países e destruírem sua soberania, sempre com o argumento falacioso de instaurar a “paz e a democracia”, seguindo sua (!) Declaração da Independência, o sentimento mínimo que posso ter enquanto internacionalista é o desprezo. No entanto, essa manifestação absurda – e que deve sim ser condenada – mostra que o ilibado país, que deseja ser soberano e acima de tudo e de todos, incluindo suas guerras isoladas e de caráter “preventivo”, está provando pela primeira vez como é sofrer (uma tentativa de) um golpe.
Seriam páginas e mais páginas para recapitular todos os apoios diretos e indiretos que os estadunidenses fizeram em golpes de Estados. Nicarágua, Cuba, Chile, Argentina, Bolívia, Paraguai, Brasil, Síria, Iraque, Afeganistão…para citar alguns.
Novos tempos para os EUA e o mundo. E quem sabe, o alerta final para que o fascismo seja combatido e liquidado de uma vez por todas. O Brasil que abra o olho enquanto há tempo!
*Professor, Biólogo, Doutor em Etologia, Mestre em Ciências, Especialista em Bioecologia e Conservação.