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terça-feira, 16 abril, 2024

Duas semanas de vivências com povos originários e manifestações artísticas

Ao longo de duas semanas, região turística goiana se torna palco para vivências com povos originários e manifestações artísticas.

Seleucia Fontes

Localizada a Noroeste do Estado de Goiás, a Chapada dos Veadeiros oferece experiências possíveis somente nesta região, e o mês de julho registra dois importantes eventos que em 2022 festejam a retomada após o auge da pandemia de Covid-19: a 14ª Aldeia Multiétnica e o 22º Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros. 

Os dois eventos são realizados pela Casa de Cultura Cavaleiro de São Jorge e reconhecidos internacionalmente. No último sábado, 23, teve início o Encontro de Culturas, com Maria Gadú e o rapper indígena Owerá. A banda Cordel do Fogo Encantado fez sua apresentação no domingo. Até 30 de julho, vários grupos tradicionais de Goiás e convidados subirão ao palco para mostrar sua arte.

Povos ancestrais

Na semana anterior, o espaço da Aldeia Multiétnica, localizada a 20 km de Alto Paraíso de Goiás, foi dominado por representantes dos povos Krahô (TO), Fulni-ô (PE), Guarani Mbyá (SP/SC), Kayapó/Mebêngôkré (PA), Xavante (MT), povos do Alto Xingu (MT), Kariri Xocó (AL/DF) e Katukina (AC). Bem no centro da aldeia circular fica uma Xapono, casa tradicional Yanomami utilizada como ponto de encontros e apresentações. Há também uma casa Kalunga, para lembrar a importância dos remanescentes do maior território quilombola brasileiro.

Durante todo o evento, circularam pesquisadores, estudantes, jornalistas, famílias inteiras, com crianças encantadas diante dos cantos ritmados de cada grupo. Muitos ficaram na hospedaria local ou acampados, o que deu direito a uma convivência mais próxima com os indígenas. Mas também foi possível adquirir ingresso diário, podendo visitar também os atrativos naturais da propriedade.

“Entre os indígenas não há votação, tudo é resolvido a partir de discussão, aconselhamento e consenso”, explicou o indigenista Fernando Schiavini. Por isso, apesar de a programação contar com rodas de conversa, oficinas e palestras pré-definidas, cabe às etnias participantes definir a ordem de apresentações culturais diárias no primeiro dia do evento, durante reunião com as lideranças.

A partir daí cada etnia fica responsável pelos rituais e apresentações por 24 horas. Os visitantes são convidados a uma imersão cultural, conhecendo as habitações típicas, os cânticos e danças, as pinturas, o artesanato, as comidas típicas. Ao mesmo tempo, sentem a força do Cerrado goiano, com dias de céu claro e forte e noites frias.

Neste momento em que os direitos indígenas voltaram a sofrer questionamentos preocupantes, em especial quanto a demarcação de suas terras, e após os impactos econômicos e sociais provocados pela pandemia de Covid-19, retomar a Aldeia Multiétnica ganhou novos significados. “Todas as tribos são universais em alguns princípios, apesar das diferenças entre os povos nunca houve conflitos em 14 edições da Aldeia Multiétnica”, revelou Fernando Schiavini, que é um dos idealizadores do projeto, iniciado em 2007, e autor de vários livros.

“Visitar a Aldeia Multiétnica me proporcionou uma experiência inesquecível, repleta de significados que até então eu desconhecia. O convívio com a tradição e os costumes Krahô me mostrou a importância de preservarmos essa bela cultura e sua sabedoria milenar. Em uma palavra: magnífico”, resumiu o jornalista e escritor Valério Azevedo, que participou do evento com o jornalista Beraldo Goulart, para captação de imagens e entrevistas para um novo projeto.

“Eu fiquei completamente admirada com toda estrutura da Aldeia Multiétnica. É um evento espetacular e acho de extrema importância essas vivências entre os visitantes e as etnias”, afirma a estudante de Turismo Monique Alves Ferreira. “Acredito que esses encontros ajudam a fortalecer a cultura e a luta dos povos indígenas”, completa.

A corrida de Tora está presente em todas as festas Krahô_(Foto Raissa Azeredo)

Criança observa apresentação dos indígenas Xavante na casa tradicional Yanomami_(Foto Seleucia Fontes)

Visitante faz pintura e corte tradicional indígena_(Foto Raissa Azeredo)

Maria Gadú fez show de abertura do Encontro de Culturas_(Foto Allyne Lais)

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