De Alberto Corona
Contudo, na nação centro-americana a violência e o ódio sim encontraram refúgio e dinamismo sob a batina do influente bispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez, quem ficou em evidência como um dos principais conspiradores contra o governo do presidente Daniel Ortega.
A revelação de dois áudios nos que se escuta a Báez promover e instar à derrocada do governo sandinista, diminuem ainda mais a confiança na Conferência Episcopal da Nicarágua como agente de paz.
Hoje muitos se perguntam até que ponto a hierarquia católica do país, da qual faz parte o bispo auxiliar, sabia das aventuras políticas e conspirativas do prelado defendidas sob o manto de sua dignidade religiosa para operar contra um governo legítimo.
A isso se acrescenta o fracasso de um diálogo nacional mediado pela Conferência Episcopal, cujo agir inconsistente, ambíguo e desbalanceado pôs em evidência seu trabalho no meio duma crise que virou numa tentativa de Estado, cobrando centenas de vidas, sobretudo de seguidores do sandinismo.
E é que nos citados áudios Báez insta abertamente a reinstaurar a violência e o terror no país, como única via para tirar do poder a Ortega, a quem desqualifica junto aos presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Bolívia, Evo Morales.
Em uma das gravações de suas reuniões clandestinas, Báez utiliza uma dura linguagem contra todo o relacionado com o atual Executivo e os que não apóiam à chamada Aliança Cívica (de oposição).
Monsenhor insta, conforme se escuta no áudio, a pressionar ao governo por meio da reinstalação dos tranqueados (bloqueios de vias), que ocasionaram mortes, violações, desabastecimentos, etc., todos qualificados aqui de atos terroristas.
‘É preciso pressionar mais uma vez ao governo para voltar a pedir à Conferência Episcopal o reatamento do diálogo. Pensou-se na opção de voltar a pôr tranqueamentos…’, expressa Báez, quem desde o início da crise manteve um trabalho ativo nas redes sociais em contra do sandinismo.
Do mesmo jeito assinala que a denominada ‘Unidade Nacional Azul e Branco’ deve inserir a todos os opositores ao governo, ‘embora existir suspeita de serem oportunistas, aborteiros, homossexuais, narcotraficantes (…) para obter o objetivo final’.
Báez também reconhece que ‘a situação atual da grande ‘Unidade Azul e Branco’, como uma primeira etapa, não é a de um partido político, senão de uma unidade de toda a nação, para tirar (derrubar) o governo atual’.
Por outro lado, nas suas conversas admite que junto com ele, outros membros da hierarquia católica conspiraram e respiraram a desestabilização social, no intuito de abandonar ao povo e provocar um forte estado de violencia nas ruas para propiciar um estado de ingovernabilidade.
Como parte desse plano desestabilizador, o bispo insta a bater instituições como o Exército da Nicarágua, ente que manteve ao longo da crise uma postura firme de não confrontação, face às provocações e difamações das que foi objeto por parte dos violentos e golpistas.
Mas, além destas declarações, a pergunta que pesa hoje sobre a opinião pública é quão profundo é o complô e a conspiração dentro da Igreja católica e quem enfrentará um povo que se aprecia de seu ardor religioso e as conquistas sociais atingidas após superar anos de guerras e mortes.
Por enquanto, o cardeal Leopoldo Brenes confirmou a autenticidade de um dos áudios revelados, o qual -disse- foi gravado durante uma reunião privada e cuja intervenção ‘infelizmente’ alguém filtrou.
O arcebispo de Managua e presidente da Conferência Episcopal, contudo, evitou aprofundar nos seus depoimentos e sustentou que não escutou muito bem o áudio, que está ao alcance de qualquer cidadão através dos formatos digitais de meios de comunicação.
Do mesmo jeito, Brenes indicou que o Papa Francisco, submetido em dissímeis escândalos sexuais de conotados bispos e sacerdotes em vários países, é o único que pode decidir se Báez sairá do país ou não, como o solicitaram grupos de cristãos ou cidadãos particulares.
Segundo a Comunidade São Pablo Apóstolo o bispo auxiliar é um empecilho para a paz e a reconciliação na Nicarágua, ao considerar que o prelado se corrompeu pelo ódio e a sede de poder.
Nesse sentido, o membro da citada comunidade, Rafael Valdez reiterou que o pedido ao Papa Francisco é que retire ao bispo da nação centro-americana pelo prejuízo ocasionado à Igreja e a seus seguidores, sem restrição de credos políticos.
‘Pedimos para ele ir embora porque está prejudicando à Igreja católica, porque a Igreja católica não é a cúria, não é a hierarquia, a Igreja católica é o povo devoto (…) E está prejudicando a esse povo devoto porque com suas ações conseguiu dividi-lo’, sublinhou.
Valdez lamentou que agora os cristãos católicos estivessem divididos, como conseqüência das posições divisórias dos bispos.
‘Não foram realmente o que deveriam ser: pastores que chamam à paz, à reconciliação, que lutam para que a gente se compreender dialogando e não se matando; e eles (os bispos) fizeram justamente o contrário’, afirmou.
Em opinião de Valdez, monsenhor Báez é nocivo para a igreja e portanto deve abandonar o país para o bem do povo nicaragüense e a instituição que diz representar.
Por outro lado, o jornalista e comentarista Moisés Absalón, em um artigo intitulado ‘Más allá de toda duda’ (Além de toda dúvida), sustenta que os áudios são,na verdade, a mostra mais evidente de que todo o realizado em qualidade de pastor não foi mais do que um jeito para manter uma posição política contra o presidente Ortega.
Não faltará quem esgrima que os áudios são uma invenção ou estão manipulados e o bispo não tem feito mais do que ‘servir’ ao próximo, mas, dificilmente tamanhos argumentos poderão silenciar as próprias palavras do homem com batina que apostou pela violência sem se importar que os nicaragüenses se matassem entre eles.