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quinta-feira, 28 março, 2024

Vida segue em Aleppo libertada mesmo com as marcas dos terroristas por toda parte

 © Sputnik/ Nour Melhem
 Os residentes de Aleppo comemoram a libertação da cidade dos militantes pelo exército nacional. Todavia, a presença dos militantes é sentida por quase toda parte – os militares ainda estão encontrando arsenais de armas e comida, alguns documentos e traços da presença estrangeira.
Ao longo dos últimos meses, Aleppo, uma das maiores cidades da Síria, tornou-se um importante campo de batalha na Síria.
A missão principal para Damasco: libertar a cidade com a parte ocidental — controlada pelo governo — e a parte oriental — pelos militantes. Um correspondente da RIA Novosti visitou Aleppo oriental, onde se encontrou com pessoas e viu com seus próprios olhos o que deixou para trás a oposição moderada.
Terra Incógnita
A terra incógnita de Aleppo começa logo após o bairro cristão de Aziziya, cujos habitantes estão se organizando pela primeira vez em cinco anos para celebrar o Natal e o Ano Novo em grande escala, com uma grande árvore de Natal na praça central e ruas, decoradas com guirlandas. Ainda é difícil a adaptação para uma vida sem explosões e sirenes
A imagem muda completamente a mais ou menos um quilômetro de distância: cemitérios por toda parte, casas destruídas e a estrada, que leva ao aeroporto, está cheia de buracos causados por bombas.
De rebeldes para terroristas
As pessoas já começaram a voltar para suas casas, elas estão ocupadas limpando os destroços e realizando obras de restauração. Mas os traços da guerra estão por toda parte, sejam as ruas com cheiro de fumaça, sejam os carros queimados e amassados.
A atmosfera é tensa, as pessoas temem e não falam muito. De rebeldes para terroristas As pessoas querem compartilhar sua trágica história. “O líder de uma das unidades terroristas estava vivendo no meu apartamento.
Olhe, há folhetos com o emblema do Daesh, documentos sobre a transferência de um militante de uma unidade para outra, enquanto no outro cômodo há um colete para munições e uniformes para 30 pessoas”, disse um homem idoso chamado Abu Samir.
Há algum tempo, chefes de Estado e mídia ocidentais afirmaram que Aleppo oriental era mantido pela oposição moderada síria com rebeldes lutando pela liberdade contra o exército do presidente Bashar Assad.
A questão surge: por que os rebeldes precisariam de folhetos de propaganda com a insígnia do Daesh, um grupo que é reconhecido por muitos países, incluindo a Rússia, como terrorista?
“Não se surpreenda com o que vê, pois os banners e os nomes são apenas um rótulo. Um terrorista continua sendo um terrorista. Olhe, aqui está um documento de transferência”, disse Samir, dando ao correspondente um pedaço de papel sujo.
O documento parecia muito oficial, com uma foto de um homem e seu nome. Segundo o documento, o homem era um “militante comum de Feilak al-Sham” que desejou se tornar um terrorista “oficial”, unindo-se à Frente al-Nusra.
Havia também alguns documentos sobre a transferência de terroristas para as fileiras de “moderado”.
Hospital foi transformado em prisão, Sharia Tribunal Tendo dado adeus a Abu Samir no posto do exército, o correspondente conversou com o capitão Al.
“Encontramos, nesta área, um maquinário que produz conchas de cilindros de gás e armazéns com granadas feitas à mão. Nós não tocamos em nada, estamos esperando especialistas. Eles devem chegar amanhã.
O número de depósitos de munição em Aleppo oriental acabou sendo maior do que era esperado; engenheiros de combate estão trabalhando há três semanas sem parar”, disse Ali a caminho de um dos armazéns.
Do outro lado da rua havia um grande edifício, com muitos equipamentos queimados perto dele. “Esse é um hospital para crianças, que os terroristas transformaram em prisão, um tribunal de Sharia, onde, muito provavelmente, nos andares superiores, ficavam as centrais dos terroristas. Deixe-me mostrá-lo,” o capitão disse.
Na entrada do hospital, havia duas ambulâncias quebradas, ambas com textos manuscritos em turco. Tendo entrado no edifício, o correspondente encontrou um cartão de identificação na mesa, escrito “Juiz de Sharia”, contendo dados pessoais e foto.
No verso do cartão havia uma lista de “privilégios” para o seu dono, incluindo o direito de passar uma sentença de acordo com a lei de Sharia, bem como a garantia de assistência máxima por outros grupos.
Dentro do edifício escuro havia uma cela solitária. “Eu disse para você que era uma prisão”, disse Ali, destrancando a porta. Dentro da cela havia uma cama de ferro, um banheiro no canto e uma prateleira com o Alcorão acima da cama.
Ali e o correspondente dirigiram-se para os andares superiores. Era difícil dizer que naquele adefício um dia funcionou um hospital, pois não foram encontrados camas ou equipamentos hospitalares por lá.
Ao invés disso, havia equipamentos de telecomunicações quebrados e queimados, caixas para munições, montagens de armas e janelas tampadas com sacos de areia.
A vida continua
As pessoas também estão retornando à cidade antiga, que sofreu menos danos do que os bairros novos. Nas ruas, pode-se observar crescentes pinturas vermelhas, que marcam os locais para distribuição de ajuda humanitária.
Ali se ofereceu para visitar uma casa de repouso e falar com o chefe do estabelecimento, que continuou realizando sua missão mesmo com a invasão dos terroristas.
“Esse é o nosso humilde abrigo, onde a ajuda humanitária se encontra agora. Olhe, temos pão, comida quente e suprimentos médicos. Nós tínhamos visto uma quantidade de comida dessas já há quatro anos, sendo que nos últimos meses havia apenas pão e água”, disse o homem.
O bom homem trabalhou toda sua vida como caminhoneiro, tendo feito viagens à Rússia com frequência. Depois resolveu voltar para Aleppo, onde começou a trabalhar na casa de repouso 15 anos atrás, assumindo, mais tarde, a chefia do estabelecimento.
“Os militantes vinham raramente até nós, às vezes eram estrangeiros. O cadáver de um deles ainda está perto do edifício, pois ainda não foi limpo”, disse o chefe da casa de repouso.
O correspondente pediu ao homem para ajudá-lo a conversar com as pessoas da fila para receber ajuda. As pessoas pareciam assustadas e cansadas, deram respostas curtas. Uma das mulheres concordou em conversar depois que viu o chefe da casa. “Que tipo de liberdade você está falando?
Eles pegaram toda a nossa comida, nos forçaram a viver sob a lei de Sharia. Eu sou muçulmana, mas eu não quero viver com medo e fome.
Durante os últimos meses, recebíamos cinco pães por família a cada três dias. Graças a Deus, temos a verdadeira liberdade agora, encontramos com os parentes que não víamos há cinco anos. Nossas crianças sentiram o gosto de verduras e frutas pela primeira vez nesses últimos meses”, a mulher fala emocionada.
O marido da mulher foi executado no início da guerra por ter recusado a lutar ao lado dos radicais. Seu filho de 16 anos foi preso, onde foram impostos os valores da Sharia, sendo constantemente ameaçado pelos militantes a seguir o destino do pai.
Enquanto isso, no outro lado da cidade, a mídia e centenas de pessoas estão monitorando a evacuação dos militantes, que está acontecendo há dias. As autoridades da cidade esperam que os últimos militantes deixem Aleppo na terça-feira (27) e a guerra nunca volte à região.
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