Talvez para a geração do ano 2000, aqueles jovens que estão deixando a adolescência, seja mais fácil entender um inimigo quase invisível, cheio de recursos, que até parece criação de história em quadrinho japonesa.
Para minha geração, da II Guerra Mundial, é quase absurdo, surrealista, ter um antagonista que ora se apresenta como nacionalista, ora como globalista, ora ditatorial, ora libertário e não haver quem escancare estas contradições.
Trato do sistema financeiro internacional, cujo comando vai, constantemente, se reduzindo a pouquíssimas famílias, hoje se fala em três dúzias, e cujo alcance da ação vai, inversa e sempre crescentemente, se alargando e aprofundando.
Vamos traçar uma breve evolução da banca, desde o início do século XX.
A banca chega à I Grande Guerra em ocaso. Seu bastião, o colonialismo inglês estava acossado pelo avanço de outras potências europeias, pela África e pela Ásia, e pelo diferente colonialismo estadunidense, que tomava regiões asiáticas e do Oceano Pacífico.
O colonialismo inglês tinha no comando o setor financeiro, que conduzia o comércio e a indústria. O colonialismo estadunidense era, então, fortemente industrial. Esta distinção levará a banca a se travestir com ecologistas preocupações. Uma transmutação, das diversas que vai apresentar a partir das grandes guerras do século XX, é do preservacionismo. Anteriormente usou o progresso científico e tecnológico, que semeava pelo mundo não europeu – inculto e bárbaro – para expandir seu domínio colonial
Embora se encontrem manifestações de interesse ambiental desde séculos – a criação do Jardim Botânico, por D. João VI, em 1808, é uma imitação de outros ainda mais antigos – podemos definir que, na compreensão atual, elas surgem com o Clube de Roma, fundado em 1968.
Entre os fundadores do Clube de Roma estavam David Rockefeller e Aurelio Peccei, administrador profissional, com passagem em diversas empresas italianas. O trabalho mais relevante foi a produção do relatório “Os limites do crescimento”, em 1972. Misturando projeções de avanços tecnológicos, demografia, uso de recursos naturais, com ênfase nos não renováveis, e energia com possíveis situações na saúde, poluição e saneamento, era este Relatório um hino à estagnação econômica.
Mas a banca, astutamente, desde os anos 1950 vinha buscando a aproximação e a dominação da mídia. A televisão, todos sabem, foi desenvolvida a partir dos anos 1920, mas com o fim da II Guerra Mundial e o surgimento da televisão colorida (1954), associados à expansão econômica e redução do preço relativo dos aparelhos, passou a ser um importante meio de comunicação de massa. E, ainda mais, quando era dirigida para famílias da classe média, de pequenos empresários, técnicos qualificados e profissionais liberais, considerados “formadores de opinião”. A banca, desde então, passa a controlar, progressivamente, a mídia. Hoje, com cerca de uma dezena de agências noticiosas e megagrupos de mídia sob controle, você só sabe o que a banca quer informar. É necessário um enorme esforço para chegar ao fato sem disfarce ou deturpação.
De ecologista a banca assume o papel libertário. Cabem aqui duas vertentes: a saída do colonialismo político, na África e na Ásia, e os golpes aplicados em países com projetos de desenvolvimento nacional e/ou com tendências socialistas.
Ao entregar, por acordo ou derrota na guerra, as antigas colônias, o colonizador europeu imponha um regime parlamentar ao país “independente”, em nome da democracia. Ora, estes países saíram de um sistema monárquico, hereditário ou não, para o autoritarismo do colonizador. Nenhuma experiência parlamentar ou de manifestação popular havia sido construida e testada nas novas nações. O surgimento de ditadores, militares ou com apoio das armas, era quase a sequência natural. A este respeito, o historiador indiano K. M. Panikkar proferiu, em 1959, seis conferências na École des Hautes Études, em Paris, publicadas pela Calmann-Lévy, no mesmo ano, sob o título “Problèmes des États Noveaux”, onde se lê:
“As estruturas tradicionais dos novos estados desapareceram durante o período de sujeição colonial……. Não havia qualquer tradição original naqueles países, do governo republicano calcado numa representação eleita” (tradução livre).
Assim, para o colonialista, havia a “demonstração” da incapacidade do país ou continente para agir como povo “civilizado”, ocultando a aniquilação de civilizações e culturas diferentes realizada pelo colonialismo, e mantinha o domínio econômico, pois o ditador ficava seu refém, para se manter no poder local.
Assumindo a hegemonia colonial, a banca usa os mesmos métodos para se impor a estas nações e, onde o nacionalismo prevaleceu, promove as “primaveras” para retomar o controle político ou destruir suas estruturas nacionais. De libertário transforma-se em ditador.
Esta feição “libertadora”, que é uma etapa do novo colonialismo, ocorreu também no Brasil quando a banca, usando seu domínio da mídia, conduziu as oposições, inclusive de esquerda, à Nova República de 1985; acabando com o desenvolvimento tecnológico nacional (nas áreas da informática, aeroespacial e nuclear), com empresas estatais e com a economia construída com empresas brasileiras de engenharia e agroindustriais.
No embate globalismo versus nacionalismo, observemos os casos da Ucrânia e da França. Para combater a Federação Russa, a banca, usando o controle que, desde Ronald Reagan, tem da estrutura estatal dos Estados Unidos da América (EUA), infiltrou agentes para provocar e conduzir manifestações contra o governo ucraniano – qualquer semelhança com 2013 a 2016 no Brasil não é mera coincidência. Os conteúdos desses movimentos eram a presença russa e a corrupção. O caos se instalou e permanece na Ucrânia, com um governo onde há a presença de nazistas, mas este assunto já saiu da imprensa. Na França, a banca combateu a nacionalista Le Pen, acusando seu “nazismo”, e mostrando o europeismo de seu opositor como uma vantagem a ser mantida.
O Clube de Roma, do qual são membros os brasileiros Helio Jaguaribe, Candido Mendes e Fernando Henrique Cardoso, continua existindo e promovendo atividades “educativas” e divulgação dos temas de interesse da banca. Mas seu proselitismo foi transferido para o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, cujas reuniões anuais a imprensa alardeia.
Na parte mais programática a banca utiliza o Grupo Bilderberg, cuja última reunião, em junho de 2017, na Virginia (EUA), contou, entre seus 128 convidados, com cabeças coroadas europeias, Henry Kissinger, Christine Lagard e, apenas, seis não europeus ou norteamericanos: um chinês, cinco turcos – nenhum brasileiro. Nesta reunião, tomou grande parte das discussões as ações que precisariam ser empreendidas estando Donald Trump, na Presidência dos EUA. Também na agenda, entre outras, as questões das alianças e relações transatlânticas (EUA – União Europeia – Reino Unido), a “guerra” das informações, as ações no Oriente Médio e na Rússia e a “lentidão na globalização”. É importante lembrar que, como sempre, representantes da OTAN, do MI6, da CIA e de bancos públicos e privados estiveram presentes.
Multifacetada, a banca é muito mais perigosa e de difícil combate do que os canhões, marines ou as canhoneiras britânicas subindo rios asiáticos.
E ainda há quem se amedronte com o perigo comunista !
Tratando-se de uma batalha pela própria sobrevivência nacional, com as instituições brasileiras já submetidas, quer pela corrupção pessoal e financeira, que pela corrupção ideológica de umas das fantasias da banca, é legítimo se perguntar: o que fazer?
Para esta questão eu espero a colaboração de meus argutos leitores.
Apenas mais uma consideração. A banca abriga todo dinheiro do mundo, inclusive – talvez até principalmente – o ilícito; seja pela origem criminosa (drogas, tráfico de armas e pessoas), pela sonegação fiscal e pelas corrupções nacionais. Não fosse a banca a operadora dos paraísos fiscais! Portanto, não é solução a incriminação de um partido político. Qualquer que chegue ao poder já estará contaminado, de algum modo, pela banca, se não o fosse, ela não o deixaria assumir. A Grécia fornece recente e desanimador exemplo. Mobilizar a população, sem redes de comunicação, é sonho. E elas são tão importantes que, além da agenda do Bilderberg 2017, participavam do encontro os dirigentes de conglomerados da mídia, de jornais referência de negócios, como Financial Times e The Wall Street Journal, e outras pessoas vinculadas às comunicações de massa. Parece-me evidente que na “guerra das informações” estava a questão das comunicações virtuais e seus protocolos de informação. Ou seja, mais ditadura da banca vem aí, aprofundando seu domínio. Será na próxima crise? A décima segunda, desde 1990
*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado
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