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quinta-feira, 28 março, 2024

Venezuela: Parto Humanizado, um triunfo da Revolução bolivariana

Por Yadira Cruz Valera* Caracas (Prensa Latina) Especialistas das Nações Unidas asseguram que a cada 11 segundos morre uma grávida ou um bebê, no entanto só os países com sistemas de saúde seguros garantem a sobrevivência da mãe e da criança.
Porque para além da lenda bíblica que atribui as dores do parto a um castigo divino pela desobediência de Eva, muitas são as afetações e mudanças biológicas, hormonais e psicológicas aos que se expõem as mulheres e os bebês durante a gravidez e o parto.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são os momentos em que as mulheres e os recém-nascidos são mais vulneráveis; estatísticas revelam que a cada ano morrem 2,8 milhões de grávidas e recém-nascidos, a maioria por causas que podem ser prevenidas.

No primeiro mês de vida é o de maior risco, asseguram os especialistas, sobretudo trata-se de crianças prematuras ou com baixo peso, se há complicações no parto, se o recém-nascido apresenta defeitos congênitos ou se contrai alguma infecção.

Aproximadamente um terço dessas mortes acontecem durante o primeiro dia e quase 75% durante a primeira semana, de acordo com os números oficiais da OMS.

Para Henrietta Fore, diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), contar com assistência qualificada para ajudar às mães e recém-nascidos durante o parto, além de água salubre, nutrição adequada, medicamentos e vacinas básicas, pode ser a diferença entre a vida e a morte.

Por sua vez Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor geral da OMS, refere que nos países que oferecem serviços de saúde seguros, acessíveis e de qualidade para todos, as mulheres e as crianças sobrevivem e seguem adiante.

Baseado nestes critérios e com análise simplista bem poderia ser suposto que só os países desenvolvidos com altas coberturas de saúde estão em capacidade de assegurar a sobrevivência dos protagonistas deste complexo processo da vida.

Difícil explicar então que nações como Cuba ou Venezuela, bloqueadas durante anos pelos Estados Unidos, impedidas de adquirir alimentos, medicamentos, vacinas, insumos ou equipamentos no mercado internacional, se localizem entre os países com mais baixa taxa de morte materna e infantil.

PARTO HUMANIZADO UMA POLÍTICA DE ESTADO

Mal decorriam os primeiros meses de 2017 se impulsionou na Venezuela uma campanha nacional em favor do Parto Humanizado, assim, como parte das políticas de empoderamento e proteção à mulher promovidas pelo Governo bolivariano. Em 27 de junho do mesmo ano o presidente Nicolás Maduro anunciou o lançamento oficial do plano.

‘Vou lançar o Plano Nacional do Parto Humanizado, parto sem dor, para apoiá-las e ajudá-las. Que tenham um parto feliz, uma gestação sã, feliz, humana. Por isso há que constitucionalizar todas as missões para que nunca ninguém possa privatizar os direitos dos venezuelanos’, disse o mandatário naquela ocasião.

Dias depois aprovavam-se os primeiros recursos para a execução dessa política social liderada pelo Ministério da Mulher, com a participação do Instituto Nacional da Mulher (Inamujer), o Ministério da Saúde e outras instituições.

Depois de três anos, o programa mantém-se como uma prioridade do Estado venezuelano.

Para Ásia Villegas, ministra da Mulher, a gestação e o parto humanizado não são uma questão subalterna, não é um tema banal de mulheres, nem episódios das salas de espera das consultas de obstetrícia.

Em intercâmbio com Prensa Latina, a propósito do terceiro aniversário dessa iniciativa governamental posta em prática, a alta servidora pública assegurou que este é um grande debate nacional a favor ou na contramão da política pública.

É uma experiência emblemática, a qual não existe como um plano nacional em nenhum outro país da América Latina, é um exercício dos direitos sexuais e reprodutivos, assinalou, não se trata só do parto fisiológico e vaginal, se trata de um trato justo, amável, amoroso, de uma maternidade desejada feliz e segura.

Mais de 19 mil promotoras comunais de parto humanizado trabalham atualmente nos 24 estados venezuelanos e em mais de 52% dos municípios, as quais se formaram como educadoras populares nos territórios onde promovem consciência que a gestação, o parto e o nascimento não são uma doença, explicou a ministra a esta agência.

Trata-se além de reduzir os índices de cesárea, limitar a violência obstétrica, incorporar ao casal à gestação, ao parto, ao nascimento e ao cuidado da criança e da mãe, reforçou.

A Venezuela como quase todas as nações da região, está marcada por um machismo arraigado, herdado de séculos de sociedades patriarcais, onde a mulher é simplesmente o repositório de um filho, de cuja criação e atenções se desentendem os pais a maioria das vezes.

Por isso, expressou a alta servidora pública, deve ser uma política pública generalizada já que muitas vezes pode ser escutado o discurso patriarcal de boca da própria mulher, porque todos reproduzimos essa cultura.

No entanto, para Villegas esta experiência contribuiu a mudar esses padrões, porque segundo assinalou a esta agência, os homens ao serem responsáveis na paternidade também descobrem seu lado terno e amoroso.

O objetivo desse programa é o acompanhamento às gestantes em todo o processo e posteriormente na lactância materna e o cuidado responsável e amoroso da criança.

Segundo a ministra, trata-se de ver o parto como um ato natural e fisiológico, mas também um acontecimento muito pessoal, assimilar que não é uma doença, nem um ato médico, mas um processo próprio do corpo da mulher, muito complexo, associado à sua sexualidade e reprodução, no qual medeiam múltiplas variáveis.

Tal definição, disse, contrapõe-se, substancialmente, à visão patológica com que a obstetrícia trata o parto e o nascimento, porque conquanto esta especialidade médica ajuda a salvar muitas vidas de mulheres, também instaurou práticas que atentam contra os direitos delas e dos bebês.

Em muitos países as mulheres ainda esperam longas horas sem direito à companhia de seus companheiros ou familiares mais próximos, inclusive as adolescentes, recordou.

São submetidas a tactos públicos e repetidos, a tomar posições incómodas e a deitar-se em camas horizontais, sem informação ampla e suficiente, nem consentimento prévio, administram-lhes medicamentos e realizam manobras invasivas, insistiu.

‘Através desse programa, tratamos de evitar essas ações, como bem o diz o nome, é humanizar um complexo momento da vida’.

Villegas assegurou a Prensa Latina que os que trabalham nesse projeto creem na possibilidade de pensar em coletivo os processos de maternidade, paternidade, parto e nascimento, de acordo aos antigos costumes herdados dos povos originários, onde isto é sobretudo um processo natural.

Isto, insistiu, não quer dizer que nos oponhamos à atenção médica, mas que estamos empreendendo a tarefa de devolver às mulheres de nossas comunidades o poder sobre seu corpo e a possibilidade de compartilhar com outras a experiência de trazer um ser ao mundo.

Estamos promovendo que a comunidade dimensione sua responsabilidade sobre os processos vitais no seio da mesma, promovendo o reencontro e o socialismo, reiterou.

Para a ministra da Mulher, a experiência de apropriar-se de princípios e ferramentas para desfrutar a maternidade, valorizando-se como um ente social, reorientando seu fazer com enfoque de direitos de gênero, de classe e etnia, é sem lugar a dúvidas uma experiência libertadora que vale a pena consolidar desde as políticas de um Estado socialista.

*Correspondente de Prensa Latina na Venezuela.

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