Por Pedro Rioseco
O velho ‘Plano Condor’, executado por governos ditatoriais na década dos anos 70 e 80, conseguiu eliminar fisicamente muitos dirigentes da esquerda regional e desarticular partidos políticos e organizações progressistas na América do Sul.
A reação popular ante estes crimes reverteu a situação no final do século passado e início do atual e colocou no poder, mediante o mecanismo eleitoral, governos progressistas na Venezuela, Argentina, Brasil, Equador, Bolívia, Paraguai, Nicarágua e El Salvador.
Sem ignorar erros na condução de alguns destes processos, no Brasil a direita conseguiu derrubar o governo de Dilma Rousseff através de um golpe judicial e pretendem agora impedir a candidatura do ex-presidente Lula da Silva com um julgamento e condenação sem provas.
A Argentina, que saiu de uma longa noite neoliberal com os presidentes Néstor Kirchner e Cristina Fernández, perdeu as eleições em 2015 enfrentando o candidato empresarial Mauricio Macri, que derrubou as conquistas populares alcançadas e colocou o país em crise novamente.
Com diferentes variantes, a direita retornou a posições de governo no Paraguai, e, mediante o mecanismo eleitoral, alianças e movimentos populares revolucionários cederam cargos e posições a partidos tradicionais e empresários no Equador e em El Salvador.
Na Nicarágua, o governo da Frente Sandinista, eleito com alto apoio popular nas eleições de 2016, com mais de 70 por cento dos votos válidos, enfrenta hoje uma profunda crise que tem conseguido desestabilizar o país e romper a habitual tranquilidade da população.
Venezuela, apesar da guerra econômica e das tentativas de golpe de Estado e desestabilização que enfrenta desde a chegada ao poder, pela via eleitoral, do presidente Hugo Chávez em 1998, conseguiu este mês a reeleição do presidente Nicolás Maduro, com 68 por cento de votos e seu povo se mantém firme na defesa de suas conquistas.
E Bolívia, país que lidera o crescimento econômico na América do Sul durante os últimos anos e possui impressionantes cifras de redução da pobreza, enfrenta desde 2006 tentativas da direita para dividir o país e impedir a reeleição popular de Evo Morales em 2019.
Cabe se perguntar: Quais são os traços comuns que estabelecem um padrão neste novo Plano Condor cujo novo objetivo não é matar dirigentes, mas desmoralizá-los ou desabilitá-los para continuar no poder?
Um primeiro aspecto da cartilha de Washington é a expansão e sobreposição de conflitos que impeçam os governos progressistas se concentrar nos objetivos transformadores que reivindicam as massas populares ao elegê-los.
Ao surgir um conflito, de maneira incrivelmente ‘coincidente’ os principais meios de comunicação, em poder da direita, propiciam potenciá-lo, e antes que este chegue ao seu clímax a direita faz surgir um novo conflito, e assim sucessivamente.
Um segundo ponto é buscar pretextos para desqualificar moralmente os dirigentes populares, em especial os líderes dos processos de mudança social e seu meio, mediante tentativas de vinculá-los a atos de corrupção, imoralidade ou inaptidão para governar.
O princípio exposto por Joseph Goebbels, ministro de Propaganda de Adolf Hitler, de que uma mentira repetida mil vezes acaba por ser considerada verdade, é o mecanismo utilizado para esse objetivo, agora com o domínio que têm das redes sociais que manipulam o perfil de todos os seus usuários para influir melhor na matriz de opinião.
Um terceiro ponto comum é a ‘fabricação’ de mártires dos protestos sociais, cujas mortes na Venezuela foram comprovadas como obra de franco-atiradores dos opositores contra seus próprios seguidores para imputar o crime às forças policiais ou aos defensores do governo.
O quarto aspecto comum nas receitas de Washington reveladas em vários documentos públicos é romper a tranquilidade da população e semear o terror através de grupos organizados: ‘guarimbas’ na Venezuela, ‘maras’ em El Salvador ou ligas na Nicarágua, entre outras formas de promover violência.
O quinto e não menos importante, é o respaldo de organismos internacionais e do governo dos Estados Unidos para boicotar as tentativas integracionistas regionais e ameaçar com sanções os governos progressistas, aplicando a clássica ‘cenoura e o garrote’.
O financiamento exterior e das direitas locais às tentativas desestabilizadoras pretende ocultar-se sob o manto de ‘apoios populares’ e o indispensável ‘manto protetor’ dos meios de comunicação, propriedade da direita ou comprometidos com ela.
Muitas arestas tem este novo Plano Condor. O tema está aberto.