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quinta-feira, 28 março, 2024

União das frentes: “Estamos diante de um governo golpista, ilegítimo, com uma agenda de profundos retrocessos”

O que fazer após o afastamento da presidenta Dilma Rousseff, concretizado no dia 12 de maio? O Le Monde Diplomatique Brasil convidou pensadores e lutadores sociais de diversos matizes para debater como lidar com a crise e trabalhar com certos elementos, como a guerra das ideias, as eleições municipais de outubro
por Matheus Lima/Le Monde Diplomatique
Quais são os caminhos para organizar a resistência aos ataques aos direitos?
 Estamos diante de um governo  golpista, ilegítimo, com uma agenda de profundos retrocessos. A resistência contra a agenda do governo deve estar combinada com a luta pela queda do governo: Fora, Temer! Esse movimento precisa ter a mais ampla unidade dos movimentos sociais e do pensamento progressista, a começar pela ação unificada das frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular. É necessário, entretanto, agregar mais, envolver parcelas da sociedade que estavam descontentes com a Dilma, mas perceberam, ou podem vir a perceber, que o Temer é muito pior. Por fim, é fundamental tomar as ruas, fazer enfrentamento, não dar sossego ao governo. Passeatas são importantes, mas não bastam; ações de maior impacto são necessárias.
Como atuar na guerra das ideias e na comunicação?
  Investir pesado no trabalho de base, na formação e na comunicação presencial. O potencial do trabalho de base tem sido negligenciado pela esquerda. Ele é poderoso, basta ver o que fazem as Igrejas evangélicas. Ao mesmo tempo, usar ao máximo as ferramentas de massificação que estão disponíveis, sobretudo na internet, numa linguagem capaz de comunicar, sobretudo com a juventude. O preço que está sendo pago pela covardia dos governos do PT de não terem feito a democratização da comunicação é altíssimo. A grande mídia jogou um papel decisivo no golpe.
Qual é o papel das eleições municipais?
 Elas tendem a ser as mais politizadas e nacionalizadas desde as eleições de 1988. Serão um termômetro para os partidos de esquerda sobre seus limites e potencialidades neste novo momento histórico. A esquerda precisa conseguir fazer da disputa eleitoral uma caixa de ressonância das mobilizações de rua. Entretanto, não pode cair no erro de só tratar da pauta política nacional e não enfrentar os temas da municipalidade. O desafio é articular essas diferentes dimensões de modo que façam sentido para o povo.
Como resolver a crise política?
 Um ciclo está se esgotando, o da conciliação de classes promovida pelos governos petistas. O PT tende a continuar sendo um partido importante, mas sem capacidade e legitimidade de liderar o bloco popular e de esquerda para um projeto de reformas estruturais de interesse popular e de alargamento dos direitos e da democracia, o que não se viabilizará sem organização popular e enfrentamento de classe. Esse novo projeto popular ainda está em construção e dele devem participar de forma protagonista os setores que estiveram na oposição de esquerda aos governos do PT, mas não vacilaram no enfrentamento ao golpe, os setores que deram sustentação ao governo, mas não acreditam que a conciliação de classes seja o limite da história, e os novos tipos de movimento que venham a superar o exclusivismo de suas pautas e decidir se articular a um projeto sistêmico. Iniciativas como a Frente Povo Sem Medo apontam para esse sentido. Além disso, esse novo projeto deve dar conta de questões como a renovação dos formatos organizativos e o papel estrutural do patriarcado e do racismo no capitalismo brasileiro. São tempos de interregno, de falência do velho sem ainda o surgimento do novo. É preciso superar o petismo.
Matheus Lima
Matheus Lima é da direção nacional da Intersindical Central da Classe Trabalhadora

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