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quinta-feira, 28 março, 2024

Uma profecia auto-cumprida: colapso sistémico e simulação pandêmica

Cartoon de Ali Aryanfar

Fabio Vighi[*]

Um ano e meio após a chegada do Vírus, alguns começaram a perguntar-se porque as elites habitualmente inescrupulosas decidiram congelar a máquina global de fabricação de lucro face ao patógeno que ataca quase exclusivamente os não produtivos (mais de 80%). Por que todo este zelo humanitário? Cui bono? Só aqueles que não estão familiarizados com as aventuras do Capital Global podem iludir-se com a ideia de que o sistema optou por encerrar por compaixão. Vamos ser claros desde o princípio: os grandes predadores do petróleo, do armamento e das vacinas não poderiam importar-se menos acerca da humanidade.

Siga o dinheiro

Em tempos pré-Covid, a economia mundial estava à beira de outro colapso colossal. Aqui está uma breve crónica de como a pressão estava a acumular-se:

Junho/2019: No seu Annual Economic Report, o Bank of International Settlements (BIS) com sede na Suíça, o banco central de todos os Bancos Centrais, tocou as campainhas de alarme. O documento destaca o “super-aquecimento […] no alavancado mercado de empréstimos”, onde “padrões de crédito deterioram-se” e “collateralize loan obligations (CLOs) despontaram – o que recorda a ascensão drástica nas CDOs que ampliou a crise da suprime (em 2008)”. Dito de modo simples, o ventre da indústria financeira está mais uma vez cheio de lixo.

9/Agosto/2019: O BIS emite um documento de trabalho apelando a “medidas de política monetária não convencionais” para “isolar a economia real” de nova deterioração das condições financeira”. O documento que, ao oferecer “crédito direto à economia” durante uma crise, o banco central emprestador “pode substituir bancos comerciais que proporcionam empréstimos às empresas”.

15/Agosto/2019: A Blackrock Inc., o mais poderoso fundo de investimento do mundo (que administra cerca de US$7 trilhões em ações e títulos), emite um livro branco intitulado Dealing with the next downturn. No essencial, o documento orienta o Federal Reserve dos EUA a injetar liquidez diretamente dentro do sistema financeiro para impedir “uma retração dramática”. Mais uma vez, a mensagem é inequívoca: “Uma resposta sem precedente é necessária quando a política monetária está exaurida e a política orçamental por si só não é suficiente. Essa resposta provavelmente envolverá o “ir direto” (“going direct”):  “descobrir meios para por dinheiro do banco central diretamente nas mãos dos setores consumidores público e privado” evitando ao mesmo tempo a “hiperinflação”. Os exemplos incluem a República de Weimar na década de 1920, assim como a Argentina e o Zimbábue mais recentemente”.

22-24/Agosto/2019: Banqueiros centrais do G7 encontraram-se em Jackson Hole, Wyoming, para discutir o documento da Black Rock com medidas urgentes para impedir a aproximação do colapso. Nas palavras prescientes de James Bullard, Presidente do St. Louis Federal Reserve: “Temos de parar de pensar que no próximo ano as coisas vão ser normais”.

15-16/Setembro/2019: A retração é inaugurada oficialmente por uma súbita alta nas taxas repo (de 2% para 10,5%). “Repo” é uma abreviatura para “acordo de recompra”, um contrato em que fundos de investimento emprestam dinheiro contra ativos colaterais (normalmente títulos do Tesouro). No momento do intercâmbio, operadores financeiros (bancos) recompram os ativos a um preço mais alto, tipicamente no dia seguinte (overnight). Em suma, as repos são empréstimos colaterizados a curto prazo. Elas são a principal fonte de financiamento para traders na maior parte dos mercados, especialmente na galáxia dos derivativos. Uma falta de liquidez no mercado repo pode ter um efeito dominó devastador sobre todos os principais setores financeiros.

17/Setembro/2019: O Fed começa o programa monetário de emergência, bombeando centenas de bilhões de dólares por semana para dentro da Wall Street, executando efetivamente o plano “ir direto” da BlackRock. (Não surpreendentemente, em Março/2020 o Fed contratará a BlackRock para administrar o pacote do resgate (bailout) em resposta à “crise do Covid-19”).

19/Setembro/2019: Donald Trump assina a Ordem Executiva 13888, estabelecendo uma National Influeza Vaccine Task Force cujo principal objetivo é desenvolver um “plano nacional de cinco anos para promover o uso ágil e escalável de tecnologias de manufatura de vacinas e acelerar o desenvolvimento de vacinas que protejam contra muitos ou todos os vírus da gripe”. Isto é para contrapor-se a “uma pandemia de gripe”, a qual, “ao contrário da gripe sazonal (…) tem o potencial para propagar-se rapidamente por todo o globo, infectar um número de pessoas mais elevado e provocar taxas elevadas de doença e morte em populações sem imunidade anterior”. Como alguém adivinhou, a pandemia era iminente e também na Europa preparativos estavam em curso (ver aqui e aqui

18/Outubro/2019: Em Nova York é simulada uma pandemia zoonótica global durante o Event 201, um exercício estratégico coordenado pelo Johns Hopkins Biosecurity Center e a Fundação Bill e Melinda Gates.

21-24/Janeiro/2020: A reunião anual do Fórum Econômico Mundial tem lugar em Davos, Suíça, onde são discutidos tanto a economia como as vacinações.

23/Janeiro/2020: A China coloca Wuhan e outras cidades da província de Hubei em confinamento.

11/Março/2020: O diretor geral da OMS classifica a Covid-19 como pandêmica. O resto é história.

Juntar os pontos é um exercício bastante simples. Se o fizermos, podemos ver emergir o esboço de uma narrativa bem definida, cujo resumo pode ser lido como se segue: os confinamentos e a suspensão global de transações econômica destinavam-se a 1) Permitir ao Fed inundar os aflitos mercados financeiros com dinheiro recém impresso e ao mesmo tempo adiar a hiperinflação; e 2) Introduzir programas de vacinação em massa e passaportes de saúde como pilares de um regime neo-feudal de acumulação capitalista. Como veremos, os dois objetivos fundem-se num único.

Em 2019 a economia mundial era atormentada pela mesma doença que havia provocado o esmagamento do crédito em 2008. Estava a sufocar sob uma montanha insustentável de dívida. Muitas companhias públicas não podiam gerar lucro suficiente para cobrir pagamentos de juros sobre as suas próprias dívidas e permaneciam a flutuar só pela tomada de novos empréstimos. “ Companhias zumbis” (com baixa lucratividade anual, rotação em queda, margens esmagadas, fluxo de caixa limitado e balanço altamente alavancado) estavam a generalizar-se por toda a parte. O colapso de setembro/2019 do mercado repo deve ser colocado dentro deste frágil contexto econômico.

Quando o ar está saturado com materiais inflamáveis, qualquer fagulha pode provocar a explosão. E no mundo mágico da finança, tout se tient [tudo se encaixa]: uma batida de asas de borboleta num certo setor pode lançar ao chão todo o castelo de cartas. Em mercados financeiros movidos por empréstimos baratos, qualquer aumento em taxas de juros é potencialmente cataclísmico para bancos, hedge funds, fundos de pensão e todo o mercado de títulos do governo, porque o custo da contração do empréstimo aumenta e a liquidez seca. Foi isto que aconteceu com o “repocalipso” de Setembro/2019: as taxas de juros saltaram para 10,5% numa questão de horas, estalou o pânico afetando futuros, opções, divisas e outros mercados em que traders apostam pela tomada de empréstimos a partir de repos. O único meio para neutralizar o contágio era lançando tanta liquidez quanto o necessário para dentro do sistema – como helicópteros a lançarem milhares de litros de água sobre um incêndio. Entre Setembro/2019 e Março/2019 o Fed injetou mais de US$9 trilhões para dentro do sistema bancário, o equivalente a mais de 40% do PIB dos EUA.

A narrativa corrente deveria portanto ser invertida:   o mercado de ações não entrou em colapso (em Março/2020) porque foram impostos confinamentos; ao invés disso, confinamentos tinham de ser impostos porque mercados financeiros estavam a colapsar. Com os confinamentos veio a suspensão de transações de negócios, o que drenou a procura por crédito e travou o contágio. Por outras palavras, a reestruturação da arquitetura financeira através de uma política monetária extraordinária estava dependente de o motor da economia ser desligado. Se a enorme massa de liquidez injetada no setor financeiro tivesse atingido as transações no terreno, teria sido desencadeado um tsunami monetário com consequências catastróficas.

Como afirmou a economista Ellen Brown, foi “outro salvamento”, mas desta vez “sob a cobertura de um vírus”. Analogamente, John Titus e Catherine Austin Fitts observaram que a “varinha mágica” do Covid-19 permitiu ao Fed executar o plano “ir direto” da BlackRock, literalmente: levou a cabo uma compra sem precedentes de títulos do governo, enquanto, numa escala infinitamente menor, também emitiu “empréstimos COVID” apoiados pelo governo a empresas. Em resumo, apenas um coma econômico induzido proporcionaria ao Fed a margem de manobra para desarmar o tic-tac da bomba relógio no setor financeiro. Rastreado pela histeria em massa, o banco central dos EUA tapou os buracos no mercado de empréstimos interbancários, evitando a hiperinflação, bem como o “Conselho de Supervisão da Estabilidade Financeira” (a agência federal de controlo do risco financeiro criada após o colapso de 2008), tal como discutido aqui. Contudo, o plano de “ir direto” deve também ser enquadrado como uma medida desesperada, pois só pode prolongar a agonia de uma economia global cada vez mais refém da impressão do dinheiro e da inflação artificial de ativos financeiros.

No cerne da nossa difícil situação jaz um impasse estrutural intransponível. A financeirização alavancada pela dívida é a única linha de fuga do capitalismo contemporâneo, a rota inevitável de fuga para a frente para um modelo reprodutivo que atingiu o seu limite histórico. Os capitais dirigem-se para os mercados financeiros porque a economia baseada no trabalho é cada vez menos rentável. Como é que chegámos a isto?

A resposta pode ser resumida como se segue: 1. A missão da economia de gerar mais-valia é tanto o impulso para explorar a força de trabalho como para expulsá-la da produção. Isto é o que Marx chamou de “contradição em movimento” do capitalismo [1]. Embora constitua a essência do nosso modo de produção, esta contradição hoje em dia provoca ricochete, transformando a economia política num modo de devastação permanente.  2. A razão para esta mudança de fortuna é o fracasso objetivo da dialética trabalho-capital: a aceleração sem precedentes na automatização tecnológica desde os anos 80 faz com que mais força de trabalho seja expulsa da produção do que (re)absorvida. A contração do volume de salários significa que o poder de compra de uma parte crescente da população mundial está em queda, com dívida e miséria como consequências inevitáveis.  3. Como se produz menos mais-valia, o capital procura rendimentos imediatos no sector financeiro alavancado pela dívida ao invés de procurá-losna economia real ou pelo investimento em setores socialmente construtivos como educação, investigação e serviços públicos.

O resultado final é que a mudança de paradigma em curso é a condição necessária para a sobrevivência (diatópica) do capitalismo, o qual já não é capaz de se reproduzir através do trabalho assalariado em massa e da utopia consumista que o acompanha. A agenda pandémica foi ditada, em última análise, pela implosão sistémica: o declínio da lucratividade de um modo de produção que a automatização desenfreada está a tornar obsoleto. Por esta razão imanente, o capitalismo está cada vez mais dependente de dívida pública, baixos salários, centralização da riqueza e do poder, de um estado de emergência permanente e de acrobacias financeiras.

Se “seguirmos o dinheiro”, veremos que o bloqueio econômico atribuído de forma desonesta ao Vírus alcançou resultados longe de serem negligenciáveis, não só em termos de engenharia social, mas também de predação financeira. Destacarei rapidamente quatro deles.

1) Como previsto, permitiu ao Fed reorganizar o setor financeiro pela impressão de um fluxo contínuo de trilhões de dólares a partir do nada; 2) acelerou a extinção de pequenas e médias empresas, permitindo aos grandes grupos monopolizar os fluxos comerciais; 3) diminuiu ainda mais os salários do trabalho e facilitou poupanças de capital significativas através do “trabalho inteligente” (o qual é particularmente inteligente para aqueles que o implementam); 4) Permitiu o crescimento do comércio eletrônico, a explosão da Big Tech e a proliferação do farma-dólar – o que inclui também a muito desprezada indústria de plástico, agora a produzir todas as semanas milhões de novas máscaras e luvas, muitas das quais acabam nos oceanos (para deleite dos “novos comerciantes verdes”). Só em 2020, a riqueza dos cerca de 2.200 multimilionários do planeta cresceu cerca de US$1,9 trilhões, um aumento sem precedentes históricos. Tudo isto graças a um agente patogénico tão letal que, segundo dados oficiais, apenas 99,8% dos infectados sobrevivem (ver aqui e aqui), a maior parte deles sem apresentar quaisquer sintomas.

Fazer capitalismo de modo diferente

O motivo econômico do enigma Covid deve ser colocado num contexto mais amplo de transformação social. Se arranharmos a superfície da narrativa oficial, um cenário neo-feudal começa a tomar forma. Massas de consumidores cada vez mais improdutivos estão a ser arregimentadas e postas de lado, simplesmente porque o Sr. Global já não sabe o que fazer com elas. Juntamente com os subempregados e os excluídos, as classes médias empobrecidas são agora um problema a ser tratado com o pau dos confinamentos, recolheres obrigatórios, vacinações em massa, propaganda e militarização da sociedade, ao invés da cenoura do trabalho, consumo, democracia participativa, direitos sociais (substituídos no imaginário coletivo pelos direitos civis das minorias), e “férias bem merecidas”.

É, portanto, ilusório acreditar que o objetivo dos confinamentos é terapêutico e humanitário. Quando é que o capital alguma vez cuidou do povo? A indiferença e a misantropia são os traços típicos do capitalismo, cuja única verdadeira paixão é o lucro e o poder que lhe está associado. Hoje em dia, o poder capitalista pode ser resumido aos nomes dos três maiores fundos de investimento do mundo: BlackRock, Vanguard e State Street Global Advisor. Estes gigantes, sentados no centro de uma enorme galáxia de entidades financeiras, gerem uma massa de valor próxima de metade do PIB global e são grandes acionistas em cerca de 90% das empresas cotadas em bolsa. À sua volta gravitam instituições transnacionais como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, o Fórum Econômico Mundial, a Comissão Trilateral e o Banco de Compensações Internacionais (BIS), cuja função é coordenar o consenso no seio da constelação financeira. Podemos assumir com segurança que todas as decisões estratégicas chave – econômicas, políticas e militares – são pelo menos fortemente influenciadas por estas elites. Ou será que queremos acreditar que o Vírus as apanhou de surpresa? Ao contrário, o SARS-CoV-2 – que, como admitiu o CDC e a Comissão Europeia nunca foi isolado nem purificado – é o nome de uma arma especial de guerra psicológica que foi utilizada no momento de maior necessidade.

Por que deveríamos nós confiar num mega cartel farmacêutico (a OMS) que não tem responsabilidade pela “saúde pública”, mas antes pelo marketing de produtos privados à escala mundial às taxas mais lucrativas possíveis? Os problemas de saúde pública decorrem de condições de trabalho abissais, fraca alimentação, poluição do ar, da água e dos alimentos, e acima de tudo da pobreza desenfreada. Mas nenhum deste “patógenos” está na lista das preocupações humanitárias da OMS. Os imensos conflitos de interesse entre os predadores da indústria farmacêutica, a agências médicas nacionais e supranacionais e os cínicos impositores políticos são agora um segredo aberto. Não é de admirar que no dia em que o COVID-19 foi classificado como uma pandemia, o Fórum Econômico Mundial, juntamente com a OMS, lançassem a Covid Action Platform, uma coligação de “proteção da vida” dirigida por mais de 1000 das mais poderosas companhias privadas do mundo.

A única coisa que importa para a camarilha que dirige a orquestra da emergência de saúde é alimentar a máquina da fabricação de lucro e todo movimento é planeado para esta finalidade, com o apoio de uma frente de políticos e mídia motivados pelo oportunismo. Se a indústria militar precisa de guerras, a indústria farmacêutica precisa de doenças. Não é coincidência que a “saúde pública” seja de longe o mais lucrativo setor da economia mundial, na medida em que a Big Pharma gasta em lobbying cerca de três vez tanto quanto o Big Oil e o dobro da Big Tech. A procura potencialmente infindável por vacinas e cozinhados experimentais de genes proporciona aos cartéis farmacêuticos a perspectiva de fluxos de lucros quase ilimitados, especialmente quando garantidos por programas de vacinação em massa subsidiados pelo dinheiro público (isto é, por mais dívida que cairá sobre as nossas cabeças).

Por que todos os tratamentos do Covid foram criminosamente proibidos ou sabotados? Como admite candidamente a FDA, a utilização de vacinas emergenciais só é possível se “não houver disponível alternativas adequadas e aprovadas”. Um caso de verdade oculta à vista de todos. Além disso, a atual religião vacinal está estreitamente ligada à ascensão do farma-dólar, o qual, ao alimentar-se de pandemias, está destinado a emular as glórias do “petro-dólar”, permitindo aos Estados Unidos continuar a exercer a supremacia monetária global. Por que deveria toda a humanidade (incluindo as crianças!) injetar ‘vacinas’ experimentais com efeitos adversos cada vez mais preocupantes mas sistematicamente minimizados, quando mais de 99% dos infectados, na sua grande maioria assintomáticos, recuperam? A resposta é óbvia: porque as vacinas são o bezerro de ouro do terceiro milénio, enquanto a humanidade é material de exploração de “última geração” na modalidade porquinho-da-índia.

Dado este contexto, a encenação da pantomima de emergência é bem sucedida através de uma manipulação inédita da opinião pública. Cada “debate público” sobre a pandemia é descaradamente privatizado, ou melhor, monopolizado pela crença religiosa em comités técnico-científicos bancados pelas elites financeiras. Cada ‘debate livre’ é legitimado pela adesão a protocolos pseudo-científicos cuidadosamente expurgados do contexto socioeconômico: um ‘segue a ciência’ enquanto finge não saber que ‘a ciência segue o dinheiro’. A famosa afirmação de Karl Popper de que a “ciência real” só é possível sob a égide do capitalismo liberal naquilo a que ele chamou “a sociedade aberta”[1], está agora a tornar-se realidade na ideologia globalista que anima, entre outros, a Fundação Sociedade Aberta de George Soros. A combinação de “ciência real” e “sociedade aberta e inclusiva” torna a doutrina de Covid quase impossível de desafiar.

Para a COVID-19 poderíamos então imaginar a seguinte agenda. Uma narrativa fictícia é preparada com base num risco epidémico apresentado de modo a promover o medo e o comportamento submisso. Muito provavelmente um caso de reclassificação do diagnóstico. Tudo o que é necessário é um vírus da gripe epidemiologicamente ambíguo, sobre o qual construir uma história agressiva de contágio relatável a áreas geográficas onde o impacto de doenças respiratórias ou vasculares na população idosa e imunocomprometida é elevado – talvez com o fator agravante de forte poluição. Não há necessidade de recuperar muito, dado que as unidades de cuidados intensivos em países “avançados” já haviam entrado em colapso nos anos anteriores à chegada de Covid, com picos de mortalidade para os quais ninguém havia sonhado em exumar quarentena. Por outras palavras, os sistemas de saúde pública já haviam sido demolidos, e portanto preparados para o cenário pandémico.

Mas desta vez há método na loucura: é declarado um estado de emergência, que desencadeia o pânico, causando por sua vez o entupimento de hospitais e lares (com elevado risco de septicemia), a aplicação de protocolos nefastos e a suspensão de cuidados médicos. Et voilà, o Vírus assassino torna-se uma profecia auto-cumprida! A propaganda enfurecida nos principais centros de poder financeiro (especialmente América do Norte e Europa) é essencial para manter o “estado de exceção” (Carl Schmitt), o qual é imediatamente aceite como a única forma possível de racionalidade política e existencial. Populações inteiras expostas a pesados bombardeamentos midiáticos rendem-se através da auto-disciplina, aderindo com grotesco entusiasmo a formas de “responsabilidade cívica” em que a coerção se transforma em altruísmo.

Todo o roteiro pandêmico – desde a “curva do contágio” às “mortes Covid” – repousa sobre o teste PCR, o qual foi autorizado para a detecção do SAR-CoV-2 por um estudo produzido em tempo recorde em comissão da OMS. Como muitos saberão agora, a inconfiabilidade do diagnóstico do teste PCR foi denunciada pelo seu próprio inventor, o laureado com o Nobel Kary Mullis (infelizmente falecido em 7/Agosto/2019) e recentemente reiterada por, entre outros, 22 peritos renomados internacionalmente os quais pedem a sua remoção devido a claros vieses científicos. Obviamente, o pedido caiu em ouvidos moucos.

O teste PCR é a força condutora por trás da pandemia. Ele funciona através do infame “ciclo de patamares”: quanto mais ciclos de fizerem, mais falsos positivos (infecções, mortes por Covid) produzirá, como até o guru Anthony Fauci imprudentemente admitiu quando declarou que os esfregaços são inúteis acima dos 35 ciclos. Agora, por que é que durante a pandemia amplificações de 35 ciclos ou mais foram rotineiramente executadas em laboratórios por todo o mundo? Mesmo The New York Times – certamente não um covil de perigosos negacionistas do Covid – levantou esta questão chave no verão passado. Graças à sensibilidade do esfregaço, a pandemia pode ser ligada e desligada como uma torneira, permitindo o regime de saúde exercer controle pleno sobre o “monstro numerológico” de casos e mortes de Covid – os instrumentos chave do terror quotidiano.

Toda esta traficância do medo continua hoje, apesar da facilitação de algumas medidas. Para entender o porquê, deveríamos retornar ao motivo econômico. Como observado, vários bilhões de dinheiro recém impresso foram criados por bancos centrais com uns poucos cliques de um rato e injetados nos sistemas financeiros, onde em grande parte permaneceram. O objetivo desta farra de impressão era de colmatar calamitosas lacunas de liquidez. A maior parte deste “dinheiro da árvore mágica” continua congelado dentro do sistema bancário sombra, das bolsas de valores e de vários esquemas de moeda virtual que não se destinam a ser utilizados para gastos e investimentos. A sua função é unicamente proporcionar empréstimos baratos para especulação financeira. Foi a isto que Marx chamou ‘capital fictício’, que continua a expandir-se num loop orbital que é agora completamente independente dos ciclos econômicos sobre o terreno.

O resultado final é que não se pode permitir que todo este dinheiro inunde a economia real, pois estar super-aqueceria e dispararia hiperinflação. E é aqui que o Vírus continua a ser cómodo. Se inicialmente serviu para “isolar a economia real” (para citar mais uma vez o documento do BIS), ele agora superintende sua tentativa de reabertura, caracterizada pela submissão ao dogma da vacinação e a métodos cromáticos de arregimentação em massa, os quais podem em breve incluir confinamentos climáticos. Recordam como nos disseram que só vacinas devolveriam a nossa “liberdade”? Muito previsivelmente, descobrimos agora que o caminho para a liberdade está repleto de ‘variantes’, ou seja, iterações de Vírus. O seu objetivo é aumentar a “contagem de casos” e, portanto, prolongar aqueles estados de emergência que justificam a produção de moeda virtual pelos bancos centrais com o objetivo de monetizar dívida e financiar défices. Em vez de retornarem às taxas de juro normais, as elites optam por normalizar a emergência sanitária, alimentando o fantasma do contágio. O muito publicitado “afunilamento” (redução do estímulo monetário) pode, portanto, esperar – tal como o Pandexit.

Na UE, por exemplo, o “programa de compra de emergência pandêmica” de €1,85 trilhões do Banco Central Europeu, conhecido como PEPP, está atualmente destinado a continuar até Março de 2022. Contudo, tem sido divulgado que ele pode precisar de ser estendido além daquela data. Nesse meio tempo, a variante Delta está a arruinar a indústria de viagens e turismo, com novas restrições (incluindo a quarentena) a perturbar a estação do Verão. Mais uma vez, parece que somos apanhados dentro de uma profecia auto-cumprida (especialmente se, como o laureado com o Prémio Nobel Luc Montagnier e muitos outros sugeriram, as variantes, por mais suaves que sejam, são consequência de campanhas agressivas de vacinação em massa). Seja como for, o ponto fundamental é que o Vírus ainda é necessário ao capitalismo senil, cuja única hipótese de sobrevivência depende da geração de uma mudança de paradigma do liberalismo para o autoritarismo oligárquico.

Embora o seu crime esteja longe de ser perfeito, os orquestradores deste golpe global devem no entanto ser creditados por um certo brilhantismo sádico. O seu truque de prestidigitação teve êxito, talvez mesmo para além das expectativas. Contudo, qualquer poder visando a totalização está destinado a falhar, e isto aplica-se também aos sumos sacerdotes da religião Covid e aos fantoches institucionais que mobilizaram para lançar a operação psicológica da emergência sanitária. Afinal, o poder tende a iludir-se sobre a sua onipotência. Os que se sentam na sala de controlo não se apercebem da medida em que a sua dominância é incerta. O que eles não vêem é que a sua autoridade depende de uma “missão superior”, à qual permanecem parcialmente cegos, nomeadamente a auto-reprodução anônima da matriz capitalista. O poder de hoje jaz na máquina de fazer lucro cujo único objetivo é continuar a sua viagem imprudente, levando potencialmente à extinção prematura do Homo sapiens. As elites que enganaram o mundo à obediência Covideira são a manifestação antropomórfica do autómato capitalista, cuja invisibilidade é tão astuta quanto a do próprio Vírus. E a novidade da nossa era é que a “sociedade confinada” é o modelo que melhor garante a reprodutibilidade da máquina capitalista, independentemente do seu destino diatópico.

[1] Karl Marx, Grundrisse (London: Penguin, 1993), 706.

[2] Karl Popper, The Open Society and its Enemies, 2 volumes (Princeton: Princeton UP, 2013).

[*] Professor na Universidade de Cardiff, Reino Unido. Seus trabalhos recente incluem Critical Theory and the Crisis of Contemporary Capitalism (Bloomsbury 2015, with Heiko Feldner) e Crisi di valore: Lacan, Marx e il crepuscolo della società del lavoro (Mimesis 2018).

O original encontra-se em thephilosophicalsalon.com/a-self-fulfilling-prophecy-systemic-collapse-and-pandemic-simulation/

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