Moon of Alabama
Tradução:Vila Vudu
Leem-se atualmente muitas ofensas contra Erdogan na mídia-empresa nos EUA e na Europa. Tudo sugere que os autores das peças hostis teriam preferido que o golpe fosse bem-sucedido. Por que um estado de emergência e algumas restrições a direitos humanos na Turquia seria evento tão preocupante, se as mesmas medidas – e muito menos justificadas – foram implantadas na França absolutamente sem qualquer protesto?
O presidente francês acaba de empurrar goela abaixo dos cidadãos uma nova legislação trabalhista rejeitada pelos cidadãos, servindo-se do Parlamento. Isso, sem qualquer votação e usando uma provisão constitucional muito obscura, concebida para ser usada em situação de emergência. Que fim levou o protesto na mídia-empresa e governantes ‘ocidentais’ contra a violação à francesa dos princípios e regras da democracia?
O golpe na Turquia fracassou – até agora. Como aconteceu – quem planejou, como foi traído, por que foi costurado de modo tão amadorístico –, tudo isso continuará a intrigar. Algumas respostas parecem plausíveis, mas permanecem abertas muitas perguntas.
Verdade é que até aí é tudo mero interesse histórico. O povo turco percebe o golpe como golpe militar contra o povo que, felizmente, falhou. Erdogan (e o fato de eu não gostar dele nada altera) resgatou a democracia dos turcos. Que o movimento Gülen, orientado pela CIA, tenha participado é suficientemente plausível para ser acolhido como verdade. Diferente do que os liberais “ocidentais” pressupõem, Gülen e suas escolas caras e elitistas não são amados na Turquia. Os secularistas o veem como islamista conservador perigoso; os seguidores do Partido AKP como concorrente falso, traiçoeiro, contra suas crenças, ideais e heróis.
O público turco permanece em estado de choque. Nunca antes na história turca aconteceu de militares bombardearem o Parlamento e matarem civis pelas ruas, qualquer civil que aparecesse. Que algum pregador ensandecido protegido pelos sempre suspeitos EUA tenha estado por trás disso tudo é tomado por fato autoevidente. Nessa situação, o governo está conseguindo tomar contramedidas extraordinárias. E considerando as dimensões do evento e o trauma que causou, a resposta de Erdogan (até agora) é bastante moderada.
O governo turco suspendeu ou demitiu cerca de 40 mil pessoas. Cerca de 10 mil foram detidos, muitos dos quais militares de baixa patente envolvidos de algum modo no golpe. Esses serão logo libertados. Os suspensos e demitidos são apenas 1% dos 3 milhões de funcionários públicos da Turquia. Mais 27 mil professores privados tiveram cancelada a licença para lecionar. Trabalhavam nas escolas de Gülen que foram fechadas.
Depois do golpe militar de 1980 na Turquia, (em população co
rrespondente à metade da atual população turca), o número de detidos, demitidos, condenados e executados veio em escala muito, muito maior:650mil pessoas foram presas.
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1,683 milhão de pessoas entraram para uma lista negra.
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230 mil pessoas foram julgadas em 210 mil processos judiciais.
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7 mil pessoas foram acusadas de crimes capitais.
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517 pessoas foram condenadas à morte.