Falamos em “revolução” porque Trump pretende representar uma alteração qualitativa do poder nos EUA: não são representantes da oligarquia que governam, são os próprios oligarcas que assumem a condução do poder e suas decisões. Esta mudança resulta de contradições que se geraram na própria oligarquia em que um certo sector pretende limitar o facto incontornável da multipolaridade e o declínio económico, social e do poder militar do país.
A oligarquia dos EUA cansou-se da incompetência dos seus delegados do partido democrata, agora ela própria assume o governo com Trump (mais de 6 mil milhões de dólares) e o seu “braço direito” Elon Musk (bilhões de dólares!) que assume uma “segunda revolução americana”. Na administração de Trump há 13 multimilionários em cargos governamentais chave, os seus objetivos são claros: negociar o fim de dispendiosas guerras perdidas, que trazem lucros apenas a um punhado de empresas militares, sendo necessário resolver os outros problemas do país.
Este bando de multimilionários, tomou a seu cargo o poder porque os Estados Unidos estão falidos e precisam ser reorganizados: não têm nem dinheiro nem poder para as guerras que os neocons planearam. Os oligarcas entendem que a prioridade é satisfazer os credores da dívida (eles próprios) numa altura em que os estrangeiros reduzem a compra de Títulos de dívida dos EUA, sendo obrigados à impressão de dinheiro, o que aumenta a inflação, e a cortes em programas sociais e despesas externas.
O lema MAGA (Make America Great Again) significa o reconhecimento de que os EUA não são mais o great império global, mas também que querem voltar a ser um império global necessitando deitar fora os resíduos da globalização neoliberal – que já só a vassálica imbecilidade europeia quer ver seguida.
Elon Musk como o seu DOGE (Departamento de Eficiência Governamental) põe aceleradamente em prática a redução de despesas e despedimento de elites/burocracias que colaboraram na administração de Biden. A USAID responsável por milhares de milhões de dólares, foi qualificada por Musk como “organização criminosa” e desmascarada como fonte de corrupção interna e externa, sustentando em permanência elites incompetentes e corruptas sem garantir resultados consistentes e significativos para os EUA e suas empresas. Segundo os media dos EUA, a previsão é deixar menos de 300 funcionários dos atuais 8 000 contratados. A NED, outra fonte de despesa, apoiada pela CIA para alimentar “revoluções coloridas” e manipular narrativas, irá enfrentar o mesmo destino, tal como a generalidade dos organismos governamentais da CIA ao FBI e ao Ambiente.
O apoio à Ucrânia pelos EUA, FMI, BM, UE/OTAN, ONG e diversos países, ultrapassou 300 bilhões desde 2022, boa parte indo para as contas das lideranças em Kiev e suas comitivas. Os oligarcas com o mais rico à frente disseram: basta de regabofe, definindo que como compensação estão no direito de fazer os “aliados” da UE/OTAN contribuírem para as custas do império e deitar a mão aos seus recursos. Ao reduzirem despesas não lucrativas e, de uma forma ou outra, deitarem mão aos recursos da Groenlândia e do Canadá, consideram poder melhorar as condições económicas e financeiras do país.
Para manter o poder numa fachada de democracia, a oligarquia exercia-o através de seus agentes, promovidos na escola neoliberal de Hayek e Friedman e estrategas imperialistas como Brzezinski. O desfasamento destas teses em relação à realidade fez sobressair a incompetência, a vigarice, o oportunismo daquela camada, agora a ser posta de lado.
Para a sua “revolução” a oligarquia necessita internamente de paz social não sendo significativamente contestada. A forma como a pretende alcançar foi definida em tempos por Brzezinski: “uma sociedade mais controlada, dominada por uma elite, praticando vigilância contínua sobre cada cidadão, juntamente com a manipulação dos comportamentos de todas as pessoas e do seu funcionamento intelectual”.
2 – A economia
A “revolução” que atribuímos a Trump é sobretudo um ajuste de contas em sentido real (o descalabro económico não pode prosseguir) e figurado (a procura dos culpados entre os anteriores lacaios).
Considerando-se o “país excecional” os EUA supunham poder criar leis económicas, sociais e geopolíticas, expressas na sua “ordem internacional com regras” e mesmo mudá-las conforme lhes conviesse. Uma das leis económicas adotadas, vinda do liberalismo, é que é possível criar riqueza a partir de algo tão abstrato como a especulação financeira, riqueza virtual, mais precisamente, capital fictício.
Olhando para os números da pobreza, das desigualdades, endividamento do Estado, empresas e famílias, vemos o resultado de violar as leis da ciência, neste caso da economia política, reflexo de processos objetivos que ocorrem independentemente da vontade das pessoas – como o marxismo expressou.
A dívida federal é de 36,45 bilhões de dólares, 123% do PIB. Considerando as dívidas dos Estados e locais, a dívida pública total representa 133,5% do PIB. A dívida total (incluindo empresas e famílias) é de 101,8 bilhões. Os EUA são na realidade um país de pobres em termos líquidos: a dívida por cidadão é cerca de 76 mil dólares, a poupança por família 10 mil. Neste panorama a feliz finança recebe por ano de juros das dívidas Federal, Estados, locais, empresas e famílias, 5,2 bilhões de dólares. Em 2000, a dívida federal era de 25,7 bilhões, o PIB 21,8 milhões de milhões. Entre fevereiro de 2020 e fevereiro de 2025, a dívida federal cresceu 2,15 bilhões por ano! Que espécie de economia é esta em que naquele período, o PIB cresceu 7,8 bilhões, mas a dívida total (pública, empresas e cidadãos) aumentou 22,1 milhões de milhões, ao passar de 79,7 para 101,8 bilhões de dólares?!
O “sucesso” da economia liberal não para aqui. Será que o enriquecimento dos mais ricos ajudou a economia? O PIB cresceu sobretudo em sectores improdutivos, como na finança e nas indústrias militares. Os EUA deixaram de produzir riqueza real. O défice da Balança comercial, é de 1,17 bilhões de dólares (3,9% do PIB). Os juros da dívida federal superam 1 bilhã0 de dólares por ano, com o governo federal contraindo empréstimos de mais de 2 bilhões de dólares por ano. Quando se combina isto com os esforços de desdolarização em andamento no resto do mundo, simplesmente não é sustentável.
O PIB dos países da “democracia liberal” está profundamente inflacionado pelo capital fictício resultante da especulação financeira, desindustrialização, endividamento, etc. Os “quantitative easing” na UE e nos EUA, são capital fictício consequência dos danos das políticas neoliberais. Claro que a oligarquia tem de transformar o capital fictício em valor (sem isto seria o colapso económico) o que é feito pela austeridade – a subida dos juros é um aspeto – mas também pelo domínio sobre outros povos (mesmo pela guerra) permitindo alargar o campo da exploração sobre o proletariado criador de valor.
Elon Musk e os outros oligarcas ligados a Trump compreendem que o mundo de fantasia em que os EUA têm vivido desde não é mais sustentável. O complexo militar industrial e as grandes farmacêuticas, podem continuar a ganhar dinheiro, mas o abuso de ineficiência, dinheiro mal gasto, corrupção a partir da administração pública tem de terminar. Os EUA enfrentam problemas graves dentro e fora do país. As infraestruturas estão degradadas, o emprego industrial tem-se reduzido representando apenas 9,4% da força de trabalho.
Escreve Rosa Llorens, num texto sobre La défaite de l’Occident de Emmanuel Todd, o PIB dos EUA é uma ilusão, para ter um sentido real deveria ser esvaziado das atividades não produtoras de riqueza ou mesmo prejudiciais (“médicos assassinos” que prescrevem opioides para garantir a paz social, advogados pagos em excesso, economistas do sistema, “sumo sacerdotes da mentira” nos media, etc.), o PIB seria reduzido pela metade. Os Estados Unidos, incentivados pelo domínio do dólar, foram levados ao declínio, abandonando as atividades produtivas em favor dos negócios, criando dinheiro sem produção real, levando a uma grave escassez de engenheiros, formando pouco mais metade do que a Rússia, embora duas vezes mais populosos.
3 – O social
Os oligarcas unem-se agora em torno de Trump, são eles próprios que estão no poder. Musk trata disso. Aliás, Elon Musk, Jeff Bezos e Mark Zuckerberg, os três mais ricos dos EUA, possuem mais riqueza do que 165 milhões, a metade mais pobre. Perante eles está um país com sistemas sociais e públicos em estado de degradação, como serviços médicos, sistema jurídico, ensino superior, mesmo as forças armadas.
Ao nomear Robert Kennedy Jr. para secretário da Saúde, está implícito um ajuste de contas com a big pharma. Numa entrevista, RK afirmou que o sistema de saúde nos EUA, significa que não há “nada mais lucrativo” do que manter os americanos doentes “para o resto da vida”. Mais de 70% dos adultos americanos são obesos ou têm sobrepeso; 15% usam drogas ilícitas; 20% sofrem de dependência de álcool; a água potável está contaminada; o autismo crescente afeta 1 em cada 36 crianças. (https://t.me/geopolitics_live/37331, Telegram, 15/11/2024)
Cerca de 108 000 pessoas morreram de overdose em 2023. A expectativa de vida caiu para a 42ª no mundo, a mortalidade infantil é de 6,37 por mil, colocando o país também na 42ª posição. Graças a cantata dos liberais sobre liberdade de escolha, embora com estes resultados, os gastos em saúde nos EUA totalizam cerca de 18% do PIB. Dados da KFF, apontam que, em 2023, o custo médio de um plano de saúde familiar era de 23 968 dólares, quanto menor a mensalidade, maior vai ser o desembolso em caso de internamento, cirurgia, etc. Segundo o National Bankruptcy Fórum, 66,5% das falências pessoais no país estão relacionadas com despesas médicas. Estudos médicos apontam para 30% da população com sintomas de ansiedade ou transtorno depressivo, levando a suicídios. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA aponta para 49 449 suicídios em 2022.
Segundo a Forbes os 15 mais ricos dos EUA detêm 2,1 bilhões de dólares; os 10 primeiros 1,6 bilhões. Entre os 20 mais ricos a nível mundial apenas 5 não são dos EUA. Perante o êxito desta riqueza não deverão todos curvar-se e seguir as suas “regras”? Não. Estes valores são simplesmente o resultado das insuperáveis contradições de uma sociedade doente. Um dos aspetos é o acréscimo da exploração. A produtividade aumentou 77% desde 1973, mas o salário hora cresceu apenas 12%. Se o salário mínimo federal fosse vinculado à produtividade, seria superior a 20 dólares e não 7,25 dólares – para funcionários que recebem gorjeta é de 2,13 dólares por hora, devendo caso necessário o empregador cobrir a diferença para os 7,25 dólares. Mais de 60% da população dos EUA vive de salário em salário, milhões trabalham por salários de fome, 85 milhões não têm seguro de saúde ou têm seguro insuficiente.
A população, em termos líquidos é pobre: em média a dívida pessoal por cidadão é de 75,5 mil dólares, um total de 25,7 milhões de milhões. A pobreza subiu de 30 milhões em 2020, para 44 milhões em 2024, com 41,4 milhões recebendo assistência alimentar. O desemprego real é de 13,9 milhões com 27 milhões trabalhando com horários incompletos.
A população dos “sem abrigo” aumentou 12% relativamente a 2022, atingindo cerca de 653 mil. Numa definição lata do termo sem-abrigo, incluindo pessoas que vivem na rua, em albergues ou temporariamente em casa de terceiros por não terem o seu próprio alojamento, existem nestas condições cerca de 4,2 milhões de crianças e jovens até aos 25 anos. Em média, 40 620 pessoas são vítimas de vítimas da violência armada (2022). O número de mortes pela polícia em 2023 foi de 1274 pessoas.
Estima-se que 2,5 milhões de estudantes universitários recorram a formas de prostituição para pagar as suas dívidas. Sites de encontros gabam-se de ajudar milhões de estudantes a pagar dívidas. Nos Estados Unidos, entre 14500 e 17500 pessoas por ano, tanto emigrantes como naturais do país, são objeto de tráfico humano e obrigados a trabalhos forçados ou serviços sexuais, incluindo crianças. A pobreza e a dependência de drogas constituem a maior vulnerabilidade para tráfico de seres humanos.
O Departamento do Trabalho encontrou mais de 100 crianças entre 13 e 17 anos trabalhando em frigoríficos e matadouros em Minnesota e Nebraska. Fábricas de roupas, fabricantes de peças para automóveis dependem de crianças imigrantes, algumas com jornadas de 12 horas. Jovens de 14 anos podem trabalhar em turnos noturnos. As cadeias de fast food empregam crianças menores de idade, as multas ocasionais são consideradas parte do custo de fazer negócio. Telhadores na Florida e no Tennessee podem ter apenas 12 anos.
Os EUA são o país com mais presos em termos absolutos, cerca de 2 milhões. Entre 41 e 48 mil presos estão em regime de “isolamento” (preso mantido pelo menos 15 dias nesta situação). Em 2023, foram registados nas prisões 187 suicídios, 89 assassinatos, 56 mortes acidentais, 12 atribuídas a “fatores desconhecidos” segundo um relatório federal. Nos últimos três anos, os tiroteios em massa têm sido em média 600 por ano. Em 2024, até 31 de julho, um total de 473 pessoas foram mortas e 1528 ficaram feridas em 372 tiroteios em massa.
Enquanto os programas sociais e serviços públicos sofreram cortes orçamentais, degradando-se, as despesas do Pentágono, USAID, CIA e suas ONG aumentaram ultrapassando 1 milhão de milhões de dólares. As catastróficas consequências de incêndios e furacões mostram a inoperância e falta de dinheiro nos serviços. O dinheiro escoa para guerras perdidas, “revoluções coloridas”, financiamento de propaganda mediática, mas falta para os bombeiros, para a prevenção e ordenamento do território. Há incêndios que duram semanas. As mortes e a devastação causada fazem lembrar casos ocorridos nos países pobres.
O incêndio em Los Angeles em janeiro, dava um número provisório de 25 mortes e danos estimados em 275 bilhões de dólares. Um outro incêndio na Califórnia espalhou-se por 3 500 hectares, ameaçando 14 000 estruturas. No resto dos EUA a situação é também complicada: explosões, incêndios, descarrilamentos, colapsos, incidentes aéreos, são recorrentes. Os EUA têm uma média de 1000 descarrilamentos de comboios por ano (relatórios independentes dizem 1700). Em 2020, a refinaria de Marathon em Carson, Califórnia – a terceira maior dos EUA – explodiu. Permanece fechada, causa desconhecida. A Refinaria Martinez, inaugurada em 2023, pegou fogo, provocando riscos de toxidade no ar. Em 2023, a refinaria de Marathon em Garyville, Louisiana – a segunda maior – ardeu. Os furacões Helene e Milton, no outono de 2024, causaram cerca 250 mortes e mais de 100 bilhões de dólares em prejuízos.
Trump expressa a tomada de consciência da oligarquia perante o declínio dos EUA ao dizer sobre incêndios na Califórnia: “Parecemos tão fracos”. ( https://t.me/geopolitics_live/41654, Telegram, 23/01)
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