Washington, (Prensa Latina) O presidente estadounidense, Donald Trump, ordenou lançar mísseis contra Síria baixo o argumento de responder a um suposto ataque químico nesse país, enquanto segue hoje com as portas fechadas aos refugiados da nação árabe.
Desde que os meios de comunicação começaram a fazer-se eco no sábado passado do alegado ataque, e dantes de realizar-se as investigações apropriadas, o governante rapidamente emitiu seu veredicto: o culpado do fato reportado era o Governo do Bashar A o-Assad.
Depois dessa adjudicação de responsabilidade, só faltava a condenação, que o chefe da Casa Branca se dedicou a sospesar nos últimos dias com seus assessores ao mesmo tempo em que fazia advertências belicistas em Twitter.
Rússia compromete-se a derrubar todos e a cada um dos mísseis disparados contra Síria. ÂíPrepárate, Rússia, porque virão, bonitos, novos e ‘inteligentes’!, escreveu na quarta-feira nessa rede social, no que foi visto como o sinal mais claro de que se acercava uma iminente ação militar.
De nada valeu que Damasco negasse sua responsabilidade e convidasse à Organização para a Prevenção de Armas Químicas a pesquisar o sucedido ou que tal entidade já se encontrasse nessa capital para iniciar as pesquisas correspondentes.
Trump deu luz verde ao ataque desta sexta-feira (sábado em Síria) ainda quando, segundo meios de imprensa, altos cargos militares lhe advertiram sobre os riscos que implica aumentar a participação de Estados Unidos no conflito.
Ao apostar por esse passo, também não pareceu escutar a 88 membros republicanos e democratas da Câmera de Representantes que nessa mesma jornada instaram ao presidente a não empreender nenhuma ação militar sem dantes obter autorização do Congresso.
‘Comprometer a nossos militares em Síria quando não existe uma ameaça direta a Estados Unidos e sem uma autorização prévia do Congresso violaria a separação de poderes que está claramente delineada na Constituição’, assinalaram em uma carta.
Pese a essa misiva, Trump deu a ordem para lançar os mísseis sem contar com os membros do Capitolio, o qual provocou que enquanto uns legisladores o apoiaram, outros questionaram a constitucionalidad da ação e criticaram ao presidente pelo que vêem como uma falta de estratégia para Síria.
Em um discurso ontem à noite para informar sobre a operação, o chefe de Estado justificou-a ao dizer que o suposto ataque químico masacró a civis inocentes e, por tanto, era necessário fazer render contas ao governo da o-Assad.
Mas essa alegada simpatia para a população do país árabe, que enfrenta o peso de um conflito de sete anos no qual já faleceram ao redor de 500 mil pessoas, choca com a realidade de que no que vai de 2018 Estados Unidos só tem recebido a 11 refugiados sírios.
‘Sua compaixão pelas vítimas da brutal guerra civil em Síria não se estende a lhes permitir ingressar a Estados Unidos’, assinalou faz dois dias o diário The Washington Pós.
O meio recordou que os refugiados sírios, como os da maioria de outros países acossados por conflitos e lutas, especialmente os muçulmanos, têm encontrado a porta fechada nesta nação.
Durante o atual ano fiscal, iniciado o 1 de outubro, a administração Trump só permitiu o arribo de 44 refugiados do território levantino, uma diminuição do 99 por cento em comparação com os cinco mil 800 chegados em igual etapa do ano fiscal anterior.
‘É revelador que algumas das mesmas pessoas que querem escalar o conflito militar em Síria por este ataque químico guardam silêncio quando falamos de proteger aos refugiados’, apontou em Twitter o congressista democrata Ro Khanna depois de conhecer sobre o ataque com mísseis.
A essa contradição entre supostamente querer ajudar aos civis sírios e, ao mesmo tempo, negar-lhes uma via de escape do conflito, une-se o fato de que Trump apostou pelo ataque poucos dias após dizer que queria sacar desse país a uns dois mil militares norte-americanos despregados ali sem a anuencia das autoridades locais.
Para várias fontes, incluindo membros do Congresso, essa mudança de rumo é evidência de que o republicano carece de uma estratégia definida sobre o território árabe.
Trump disse ontem que não procura ‘uma presença indefinida em Síria baixo nenhuma circunstância’, mas algumas fontes opinam que não está claro que esperar após esta recente agressão.
Se o presidente vai mudar nossa missão em Síria, tem que ir ao Congresso para obter autorização e explicar qual é sua estratégia, como respalda os interesses de segurança nacional, e de que modo põe fim à atual catástrofe humanitária e a crise de refugiados, estimou a senadora democrata Mazie Hirono.