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quarta-feira, 15 janeiro, 2025

Transição energética: guerra que torna o rico mais rico e o pobre mais pobre

Pedro Pinho*

Decorridos um quarto do século XXI, pode-se concluir que a guerra armada é das suas características e as tecnologias da informação e da energia dos objetivos belicosos.

Este artigo trata da energia e suas farsas, obrigando invadir as áreas destas duas tecnologias, altamente relevantes.

É sempre conveniente observarmos o surgimento de uma ideia, de uma necessidade, de uma solução, para não nos deixar confundir no emaranhado de interesses, de propostas, de intencionais desvios dos caminhos abertos pelo desenvolvimento da ideia, da solução dos problemas e da rara, raríssima pressão popular, pois sempre predominante é a pressão de grupos do poder: econômico, militar, político.

Arquivo Sindipetro/Bahia

O PETRÓLEO

O petróleo surgiu em meado do século XIX, quase simultaneamente no Azerbaijão (1846) e nos Estados Unidos da América (EUA), na Pensilvânia, em 1859. Era fonte de energia verdadeiramente revolucionária, pela quantidade e qualidade da energia produzida, pelas facilidades de transporte e, principalmente, pelas condições de armazenamento, além do preço de produção, entregue ao consumidor final, ser mais acessível do que originado pelas fontes até então conhecidas.

Em 175 anos, o petróleo mudou a face do mundo.

Até 1922, os EUA foram autossuficientes na produção, o que alavancou sua industrialização, ultrapassando a europeia. Por seu turno, a produção do Azerbaijão enriqueceu a família sueca dos Nobel, que teve como parceiros capitais alemães e ingleses. Mas em 1918 este petróleo passou ao controle do Estado com a Revolução Bolchevista.

Nesta fase da História Ocidental, os capitais dos Países Baixos, da Grã-Bretanha, da França, além dos EUA, saiam além das suas fronteiras para busca de petróleo. Assim foram revelados a Península Arábica (Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait), o Iraque e o Irã, principalmente. Petróleo abundante e, relativamente, a pouca profundidade fez fortunas e deu poder.

Durante a II Grande Guerra o petróleo foi um diferencial e gerou a disputa pelas suas reservas. Em 1950 eram produzidos pouco mais de dois milhões de barris, e, em 1970, atingiam mais de quatro milhões.

Surge então nos anos 1970 as “crises” do petróleo para promover sua substituição e novo poder passar a dominar a geração de energia.

Uma divisão que certamente atenderá a todos que se dedicam ao estudo das fontes de energia é sua expectativa de existência. Há fontes que têm duração finita, pelo esgotamento das reservas, e as que podem se perpetuar se forem bem administradas.

No primeiro caso estão as de origem fóssil: o carvão mineral, o petróleo em suas apresentações líquida e gasosa, e dos folhelhos betuminosos. No segundo as provenientes das biomassas e de fluxos fluviais, desde que cuidadas e preservadas.

Deve-se estar atento à evolução tecnológica para as atividades de procura e produção do petróleo. Se hoje, 2025, estimam-se cerca de 100 anos para esgotamento das reservas conhecidas; novas tecnologias nestas áreas podem duplicar as reservas e afastar mais o fim da Era do Petróleo.

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA? POR QUÊ? PARA QUE?

Por que tamanho empenho da academia, das empresas e governos na transição energética? Para um salto tecnológico? Para maior e mais completa distribuição visando o atendimento de toda população? Para evitar concentrações e, consequentemente, os controladores do poder político e financeiro?

Vejamos o caso da fusão nuclear. Ela atende ao quesito de não poluidora, não deixa resíduos de qualquer espécie, principalmente nefastos, e, como um sol, estará sempre disponível, dia e noite, desde que tenhamos a tecnologia para produção e controle.

Portanto, a mais razoável seria a união de todos os povos no compartilhamento das pesquisas e na administração do fornecimento da energia da fusão nuclear. Mas, nem mesmo está nas pautas mais elásticas da transição energética.

O professor Ildo Luís Sauer, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP), em artigo de 28 de agosto de 2024, “Uma análise da hegemonia do petróleo e os desafios da transição energética sob a perspectiva da economia política” (Revista Princípios vol. 170, maio-agosto 2024), apresenta a expectativa de duração dos combustíveis fósseis, excluído o folhelho betuminoso: “As reservas comprovadas de petróleo, gás e carvão são, respetivamente, de 1.564, 1.270 e 5.469 bilhões de BOE (barris de petróleo equivalente), o que permitiria, nos níveis atuais, 37, 53 e 133 anos de consumo, respetivamente”.

Tirando alguns preciosismos idiomáticos, pois reserva de petróleo significa de óleo e gás, e já leva em consideração o fator de recuperação, variável aplicada ao volume provado em cada reservatório, as tecnologias exploratórias têm feito postergar o fim do petróleo com novas descobertas, como a do pré-sal no Brasil e da Margem Equatorial na Guiana, para não buscarmos em áreas mais remotas.

E, acompanhando a demanda e os preços, ainda há muitos locais do globo onde se achará reservas de petróleo. A África do Sahel tem-nos dado bons exemplos.

No entanto, praticamente todos os trabalhos sobre a transição energética se concentram no passado, nas formas mais antigas de energia, a do sol e a do vento, como redescobertas notáveis. Trata-se de energias caras, com as tecnologias atuais, e intermitentes, não podendo o mundo contemporâneo ficar refém de dias chuvosos e sem vento, pois os hospitais exigem energia 24 horas por dia, e é somente um dos inúmeros exemplos.

Observe-se que muitas poucas fontes primárias de energia permitem seu armazenamento, sendo as fósseis e da biomassa estas poucas, enquanto não se obtém a fusão nuclear.

O professor Sauer reconhece que a situação mundial e, especialmente a do Brasil, são presentemente confortáveis. E introduz conceitos marxistas para transferir o debate sobre a apropriação do valor e a luta de classe.

Sem dúvida que o mundo desigual, principalmente na área unipolar ocidental, não consegue atender com o sistema capitalista financeiro à demanda das populações nacionais. O resultado já conhecido mostra a desindustrialização ocorrendo na Alemanha, no Reino Unido, e em outras áreas menos desenvolvidas da Europa, provocando greves, passeatas e agressões dos que nada mais têm para sobreviver.

E essas pessoas que ficam vulneráveis a discursos radicais e extremistas, como se viu no avanço da direita na eleição para o Parlamento Europeu e na França, cujo susto levou parcela da esquerda a apoiar Emmanuel Macron.

Retornemos ao artigo do professor Ildo Sauer: “Nas condições que emergiram após a segunda fase da Revolução Industrial, o petróleo assumiu o papel de recurso mais favorável para permitir a geração de excedente, e passou a prover a grande massa de matérias energéticas necessárias no mercado mundial, enquanto o carvão ainda se apresentava como a alternativa capaz de satisfazer todas as necessidades, porém a um preço de produção superior ao do petróleo”.

Foi exatamente o que as finanças fizeram na década de 1970, no que se denominou “crise do petróleo”, na verdade a crise seria da industrialização, sem alternativa ao petróleo, que a levou a perder o poder no mundo ocidental para as finanças que se tornaram o único bem sem qualquer restrição – passaporte ou certificado aduaneiro – para transitar por todo mundo: as desregulações dos anos 1980.

E a estas segue a nova bíblia, o decálogo a ser incorporado nas constituições: o Consenso de Washington (1989).

Nada mais precisaram as finanças senão seu poder corruptor para, eliminando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), deixar o mundo sem alternativa. Ou finanças ou finanças. O Brasil adotou-a sob a farsa da “redemocratização”, afastando o Estado e entronizando o Mercado.

Hoje, rico em sistemas fluviais, terras agricultáveis, petróleo, nós brasileiros caímos nas esparrelas midiáticas da questão climática, como se a Terra não existisse com eras glaciais e interglaciais, entremeando produção de geleiras com aumento do calor, há um milhão de anos, desde a era glacial Günz.

UMA CONTESTAÇÃO A CONSIDERAR

Lorenzo Carrasco, Silvia Palacios e Geraldo Luís Lino, em “Máfia Verde – O ambientalismo a serviço do Governo Mundial”, na 12ª edição revisada, de 2017 (Capax Dei Editora, RJ) advertem:

“O que se esconde por trás de cada um dos itens da “agenda ambiental”, de mãos dadas com as chamadas políticas dos “direitos humanos” e “direitos indígenas”, nada tem a ver com qualquer preocupação legítima com a proteção do meio ambiente ou de populações indígenas. Na verdade, trata-se da velha geopolítica britânica, redesenhada com estas novas roupagens pelos “engenheiros sociais” do Establishment oligárquico anglo-estadunidense, como arma política para demolir a instituição do Estado Nacional Soberano e suplantá-lo por um sistema oligárquico neo feudal, no qual uma minoria de indivíduos dotada de privilégios auto concedidos “pastoreie” e explore a imensa maioria da população, submersa na ignorância e na pobreza, como ocorria no período pré-renascentista. Ou seja, uma ordem mundial malthusiana, dominada por um “governo mundial” imperando sob um sistema de soberanias limitadas, instituídas por pretextos diversos”.

Allan Kardec Duailibe Barros Filho, professor titular da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e presidente da Companhia Maranhense de Gás (Gasmar), em artigo de 4 de junho de 2024, “A Margem Equatorial no contexto da diversificação energética” (Revista Princípios vol. 170, maio-agosto 2024), assim conclui sua análise:

“Mostramos que a exploração de petróleo e gás na Margem Equatorial pode criar uma quantidade substancial de empregos diretos e indiretos, desde a fase de exploração até a produção e serviços relacionados, beneficiando a população local. Debatemos e discutimos o uso do termo “transição energética”. Mostramos que ela nunca ocorreu na História, nas fontes estudadas. Ponderamos que o que aconteceu foi uma diversificação energética, com as diferentes fontes contribuindo para a humanidade, enquanto as populações decidiam – como continuarão a decidir – quais fontes lhes são mais apropriadas. Reforçamos que o termo “transição” compõe uma proposta política e que contribui para a demonização das fontes fósseis – que são importantíssimas para a Humanidade. Mais ainda, a presença da indústria do petróleo pode estimular o desenvolvimento de setores auxiliares, como serviços de transporte, logística, construção e comércio, diversificando a economia da região e reduzindo a dependência de atividades econômicas tradicionais. Esses impactos podem transformar a economia do Arco Norte, promovendo um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável, além de melhorar a qualidade de vida da população local”.

Resumindo, os países que não sabem ou podem, pela subserviência de suas elites civis e militares, defender seus próprios interesses, deixando-se levar pelas mídias, cujos verdadeiros donos se escondem em paraísos fiscais, e pelas coadjuvantes igrejas neopentecostais, que ensinam submissão e crenças estapafúrdias, tendem a ignorar seus recursos energéticos e adotar aqueles que irão empobrecer ainda mais o país, torná-lo mais corrupto e imbecilizado, acreditando que foi o azar, sua falta de sorte, a responsável pela vida que leva.

E jamais conseguirá pôr a cabeça para fora da água. Até que um líder empreenda a revolução libertadora, que será denominada “comunista”, como este líder “ditador” pelas potências que espoliaram por anos o País.

A multipolaridade está ganhando força e um dia poderemos governar a nós mesmos, conforme nossa cultura e nossos recursos. A “transição energética” perpetua a colonização, a imobilidade social, o sistema escravista que dominou a maior parte da história do Estado Brasileiro. Defender o petróleo produzido e controlado por brasileiros é defender a independência do Brasil.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.

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