Considerando os nomes revelados, se pode deduzir que a mídia golpista e a força-tarefa da Lava-Jato não terão um grande empenho investigativo…
Jeferson Miola/Carta Maior
A MF criou ou vendeu offshore´s [contas bancárias ou empresas instaladas em paraísos fiscais] a vários políticos, banqueiros, agentes públicos e empresários brasileiros – tanto em operações legais [a chamada “sonegação legal” (sic) de impostos aceita pela lei brasileira, desde que declarada no imposto de renda (IR)]; como em operações irregulares, que envolve dinheiro de origem duvidosa.
A divulgação da lista dos clientes brasileiros da MF causa suspense e curiosidade em relação aos nomes ainda não revelados. Considerando os nomes revelados, se pode deduzir que a mídia golpista e a força-tarefa da Lava-Jato terão reduzido empenho em investigar:
– a lista tem políticos e familiares de políticos do PMDB, PSDB, PTB, PDT, PP, PSD e PSB, e nenhum do PT. Com isso, cai a probabilidade de escandalização midiática do assunto pela Globo, RBS, IstoÉ, Veja, Época, Folha, Estadão, Gilmar, Moro e Polícia Federal; e cresce a probabilidade de que o assunto seja abafado;
– fosse Ricardo Lewandowski, Teori Zavascki, Luís Roberto Barroso ou Marco Aurélio Mello o dono de conta em paraíso fiscal – mesmo que declarada no IR –, e não o juiz precocemente aposentado do STF Joaquim Barbosa, a mídia já teria feito o maior escarcéu;
– está na lista o filho do presidente da FIESP, que explicou que a offshore está declarada no IR. A FIESP, presidida por Paulo Skaf [colega de PMDB de Michel Temer e sócio no golpe], financia os movimentos golpistas que desestabilizam o Brasil e lidera a campanha de redução de impostos que tem como símbolo um pato – quanta ironia!;
– não consta da lista a offshore Vaincre LLC. Segundo noticiário de fevereiro passado, a Vaincre LLC foi usada como fachada para a construção duma mansão paradisíaca em área de proteção ambiental em Paraty/Rio. Ainda de acordo com notícias da época, a mansão pertenceria à família Roberto Marinho, dona da Rede Globo – fato que a família Marinho desmentiu, porém não esclareceu se usa ou se freqüenta tal mansão. Equipes do jornalismo da própria Globo poderiam sobrevoar a mansão com helicóptero [evitando usar o helicóptero do Senador Perrella, amigo do Aécio] para investigar se existem barcos de lata, pedalinhos e pertences dos Marinho na área da mansão;
– do PSDB, como sempre, curiosamente só aparece político morto – Sérgio Guerra, o ex-presidente nacional do partido. Os políticos vivos – e bem vivinhos –, como o Aécio Neves, não está na lista agora divulgada, talvez porque a conta secreta da família dele está em outro paraíso fiscal – de Lienchtenstein – esta sim sem ser declarada no IR até ser descoberta. As notícias não dizem ao certo se ele é o titular ou o controlador desta conta secreta em Lienchtenstein, mas o fato é que a Procuradoria Geral da República, conduzida pelo implacável Rodrigo Janot, quando recebeu a denúncia da conta decidiu pelo arquivamento, e não investigou, como seria esperado. A vida oferece agora uma nova oportunidade para Janot, Moro e a PF investigarem o Aécio, e então desmentirem o que até as pedras suspeitam: que a Lava-Jato foi instrumentalizada e partidarizada para aniquilar Lula e o PT;
– nenhuma surpresa a reação de Eduardo Cunha, que como Aécio e Temer costuma freqüentar várias listas, e que, incrivelmente, apesar disso, se mantém no leme do golpe contra a Presidente Dilma: “desmente, com veemência, estas informações … e desafia qualquer um a provar que tem relação com companhia offshore”. No dicionário Eduardo Cunha de delinqüência, o vocábulo adequado seria usufrutuário de conta secreta, e não o de dono [sic].
Como não tem ninguém do PT na lista de contas secretas da Mossack Fonseca, é bem provável que o assunto apague como uma vela. Ou, mesmo não estando na lista, o PT poderá se tornar o alvo prioritário das investigações. Afinal, o plano é aniquilar o PT: olha o PT, mata o PT!