Imperialismo explícito
Só não vê quem não quer.
Os Estados Unidos, sem maiores disfarces, intervêm no Brasil – na economia, na diplomacia e na política, em momento crucial da vida nacional, quando a população se encontra ameaçada pelo novo coronavírus.
Começando, pelo vírus, o ultraneoloiberal Paulo Guedes reafirma o interesse americano ao evitar que o Estado social remova o Estado neoliberal.
Faz isso, defendendo a austeridade fiscal em plena pandemia, indo na contramão do mundo, que prioriza maiores gastos públicos, para superar o Estado mínimo, dominado pelo interesse privado.
Por isso, senta em cima do cofre para não soltar dinheiro aos trabalhadores e empresários, de modo a girar os negócios em meio à paralisia do consumo, da produção, da arrecadação e dos investimentos, o silogismo capitalista clássico.
Sem os recursos, os assalariados não consomem.
Sem consumo, os empresários entram em bancarrota.
Os bancos privados, aos quais o governo diz passar recursos para fazer circular a grana, não emprestam, temerosos de calotes.
A eles, o tesouro nacional, por meio do BC, repassa R$ 1,2 trilhão, para comprar os títulos das empresas em bancarrota que têm em carteiras, candidatos a se transformarem em papeis podres.
Troca-os, imediatamente, por títulos públicos, livrando-se de calotes.
Capitalizados, com esse recurso, os bancos não deixam o dinheiro circular, porque sobem os juros para os tomadores, afetados pelo subconsumismo, decorrente do superarrocho salarial vigente.
Os estados, desesperados, sem arrecadação de ICMS, abrem o bico e não têm condições de enfrentar o novo coronavírus.
Paulo Guedes, diante dessa agonia econômica e financeira, simplesmente, tirou da sua agenda a crise sanitária, a fim de priorizar o modelo neoliberal, que sucateia o Estado nacional e apressa privatização das estatais.
Esse é o objetivo fundamental de Tio Sam: tomar conta do Estado e das empresas, dominando geral a estrutura produtiva e ocupacional.
Reação tímida dos militares
Os militares, por meio do Plano PROBRASIL, anunciado pelo general Braga, ministro da Casa Civil, tentaram uma reação neonacionalista, para fazer frente ao ultraneoliberal Guedes.
Foram, simplesmente, calados por Washington, que mandou Bolsonaro reforçar apoio ao Plano Guedes, incompatível com a tentativa neonacionalista militar.
Paulo Guedes, com puro sarcasmo, disse que o PROBRASIL é uma tentativa do general de bater a carteira do plano dele, amplamente, apoiado por Washington.
Bolsonaro, que, na semana passada, tinha mantido silêncio gritante em relação ao plano neonacionalista de Braga, induzindo-se a pensar que o apoiaria, mudou, rapidamente, de ideia, especialmente, depois da crise Moro.
A demissão do ex-ministro da Justiça contrariou Washington, que o tem como aliado fiel.
Afinal, Moro prestou excelentes serviços ao Império, como operador da Lavajato, que prendeu Lula e derrotou o PT, em 2018, tornando-se cabo eleitoral de Bolsonaro.
Por essa razão, o ex-ministro e juiz de Curitiba se transformou em candidato de Washington para disputar sucessão presidencial de 2022, se Bolsonaro não vier a emplacar, algo possível diante da crise capitalista acelerada pelo coronavírus, agora, potencializada pelo desgaste popular bolsonarista com a demissão de Moro.
Nesse novo contexto, eventual apoio de Bolsonaro ao Plano PROBRASIL dos generais seria gota dágua para Washington abandoná-lo.
A reafirmação do presidente-capitão a Guedes, na última segunda-feira, representou:
1 – reforço total ao plano neoliberal do ministro da Fazenda;
2 – fragilidade dos militares e seu PROBRASIL;
3 – xeque-mate de Washington a Bolsonaro; e
4 – exigência americana de apoio a Washington contra Venezuela.
Guerra a Maduro
Para explicitar, ainda mais, a rendição de Bolsonaro ao governo Trump, somou-se a decisão do capitão de acatar, sem discussão, ordem de Washington, para expulsar do Brasil todos diplomatas da Venezuela, contra a qual o titular da Casa Branca abriu guerra.
Guerrear Maduro, agora, é adequado aos interesses de Tio Sam, como é prática imperialista americana, de desviar a atenção da população, quando o Império está em dificuldades internas, como é o caso da crise capitalista encavalada com o novo coronavírus.
Detonar Maduro, de acordo com a estratégia de Washington, desvia, parcialmente, a atenção dos americanos das mortes de milhares de americanos pela pandemia e, de alguma forma enviesada e alienante, fortalece Trump na disputa eleitoral.
Evidencia-se, claramente, intervenção americana no Brasil, na era do novo coronavírus, em que Washington deixa claro o que lhe interessa na América do Sul: fortalecer os pressupostos básicos da Doutrina Monroe, de 1823, em que a palavra de ordem é determina a América para os americanos.
Tio Sam, ao enquadrar o Brasil à estratégia de Washington, tenta afastá-lo da aproximação com China e Rússia, que unidas trabalham para atrair governo brasileiro à estratégia eurasiana, para enfraquecer o Império americano.