© Ricardo Stuckert
Sputnik – O crescimento e fortalecimento do BRICS tem, paralelamente, influenciado ramificações do grupo, que também vêm se desenvolvendo. Think tanks, grupos de pesquisa e outras iniciativas se multiplicam ao passo que criam caminhos e geram oportunidades profissionais.
Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, Camila Modanez, diretora de projetos do iBRICS+, iniciativa do grupo voltada ao empreendedorismo e à inovação, conta que há uma crescente em relação aos grupos de pesquisa que se interessam pelo BRICS como objeto de estudo.
Com essa ampliação, ela defende que um trabalho de promoção de intercâmbio cultural seja desenvolvido, para que os países, em especial o Brasil — culturalmente influenciado por EUA e Europa —, possam diversificar seus referenciais e se aproximar dos parceiros do grupo. O iBRICS+ é responsável por fazer esse tipo de trabalho.
“Fazemos eventos para apresentar estudos, para poder trocar experiências, para poder conectar pessoas como um todo”, relata. Modanez acrescenta que a iniciativa também conta com projetos concretos. No momento, há “uma parceria com o governo do Maranhão para poder trazer o pessoal da Rússia para cá e desenvolver, e mandar estudantes daqui também para a Rússia, para desenvolver habilidades técnicas”.
Perguntada sobre a existência de um ecossistema de cooperação entre os centros de pesquisa e universidades dos países BRICS, a entrevistada respondeu que ainda não há um centro formal, mas o iBRICS+ está trabalhando para desenvolver uma plataforma web para cadastrar iniciativas em andamento e conectar esses projetos. Entretanto o financiamento dos projetos ainda é um obstáculo.
De acordo com Isabela Rocha, pesquisadora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol/UnB) e presidente do Fórum para Tecnologia Estratégica do BRICS+, é necessário um trabalho reforçado de institucionalização do BRICS para formalizar os think tanks adjacentes ao grupo.
“Precisamos mais do que cartas, declarações, mas de estatutos, de acordos firmados entre os países, para que as iniciativas que surjam de think tanks estejam ancoradas com maior respaldo no arranjo internacional”, defende.
Conforme acrescenta, “as ONGs, os think tanks, as instituições agregadas nesse ecossistema do BRICS precisam de financiamento e apoio, até mesmo para a gente poder construir essa narrativa de multipolaridade”. Nesse sentido, Rocha acredita que o grupo como um todo poderia aprender com a Rússia, que, segundo ela, conta com um “exemplo de financiamento para os think tanks e parcerias”.
Áreas de desenvolvimento intra-BRICS
Em relação aos campos do conhecimento nos quais os think tanks poderiam ajudar com vistas ao desenvolvimento dos países BRICS, a pesquisadora do Ipol acredita que setores ligados à economia e à tecnologia merecem destaque.
Para Rocha, as iniciativas poderiam ajudar o BRICS a criar um método alternativo de pagamento ao SWIFT, além de criar uma criptomoeda própria para o grupo. Já no que diz respeito às tecnologias, a especialista é amplamente favorável a que seja construída uma soberania digital para o grupo.
“Principalmente desenvolvimento de infraestrutura soberana, porque é mais fácil você desenvolver um software, é mais fácil até mesmo você desenvolver uma inteligência artificial em nível de software”, afirma.
Do contrário, segundo ela, “pouco adianta você desenvolver os softwares mais seguros, as melhores criptografias, os melhores modelos de inteligência artificial, se você não baseia esses dados no seu respectivo país, se você não faz o processamento em data centers locais, se a conectividade do país não é feita em satélites próprios. Tudo isso é muito necessário para que você tenha de fato um ecossistema digital que é seguro, que é soberano“, completa.
É justamente nessa seara que o grupo que ela preside trabalha. Rocha explica que é um projeto focado em advocacy e em pesquisa, principalmente no âmbito brasileiro.
Ou seja, a iniciativa quer promover a soberania tecnológica através do desenvolvimento de infraestrutura crítica soberana. Um exemplo, cita, é a necessidade de produção de data centers para chegar à soberania defendida, entretanto há obstáculos que devem ser respeitados.