San Salvador (Prensa Latina) Em El Salvador e talvez em muitas partes do mundo, estão surgindo questões sobre a chamada rainha das criptomoedas, o bitcoin.
Por Luis Beatón
Correspondente chefe em El Salvador
Não é de se espantar que, após os anúncios de aumentos espetaculares que seriam produzidos pela chegada do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à Casa Branca, ele não tenha hesitado em lançar suas redes no mar de ativos digitais para capturar muitos lucros, segundo especialistas.
Analistas dos chamados criptoativos previram aumentos no valor da “moeda” virtual além de 150 mil dólares até esta data em 2025, porém, a realidade é diferente.
A mídia de El Salvador, onde o “token” foi colocado em espera no final de fevereiro para que o país chegasse a um “acordo” com o usurário Fundo Monetário Internacional (FMI), destacou a queda de seu valor para menos de 80 mil dólares, depois de ter subido para mais de 108 mil dólares no mercado no início do ano.
O ativo digital mais famoso do mundo perdeu mais de 25% em seis semanas após atingir uma alta histórica de US$ 109.000 em 20 de janeiro, coincidindo com a posse de Trump.
Segundo alguns especialistas, o risco de uma guerra comercial em todas as direções (aliados e inimigos) representado por Trump desanimou os investidores, que agora tendem a se desfazer de seus ativos mais especulativos e arriscados, como esse token digital.
Na sexta-feira, 28 de fevereiro, o ativo digital mais famoso perdeu 5,5% nas negociações matinais nos mercados asiáticos, elevando seu valor para US$ 79.627, embora mais tarde tenha ultrapassado US$ 80.235 novamente.
Isso surpreende especialistas e seguidores dessa “invenção”, que esperavam que ela explodisse nos mercados depois que o presidente americano prometeu flexibilizar as regulamentações sobre criptomoedas e até propôs a criação de uma reserva estratégica de bitcoins nos Estados Unidos.
Após a vitória de Trump na eleição presidencial de novembro, o valor do Bitcoin e das criptomoedas como um todo disparou, mas agora, embora permaneça em níveis mais altos do que no início de 2024, não está onde era previsto.
A última queda desta “moeda” que não pode ser vista nem tocada ocorreu depois que Trump anunciou tarifas adicionais de 10% contra produtos chineses e a implementação das tarifas de 25% para Canadá e México que estavam suspensas.
No entanto, os investidores ainda aguardam medidas concretas do governo Trump em favor dos criptoativos, de acordo com especialistas como Stefan von Haenisch, da empresa de reservas de criptomoedas Bitgo, citados pela agência econômica Bloomberg.
Essa moeda, na qual o presidente Nayib Bukele apostou com gastos próximos a 300 milhões de dólares para incentivar seu uso por meio de Chivo Wallets — carteira eletrônica criada pelo Governo de El Salvador para fazer pagamentos em dólares ou bitcoins —, um certo número de caixas eletrônicos e outras ações como royalties de 30 dólares aos compatriotas para incentivar seu uso, nunca decolou no país.
UM POUCO DE HISTÓRIA
O Bitcoin é a criptomoeda mais popular, mas é cercada de mistério, escândalos, uma reputação ainda obscura e sua viabilidade ainda é questionada por especialistas, incluindo ganhadores do Prêmio Nobel de Economia, que alertam que esse ativo especulativo dificilmente é útil para lavagem de dinheiro.
Ainda hoje, pouco mais de 16 anos após sua criação, ninguém conseguiu identificar com total certeza seu fundador, alguém que se autodenomina Satoshi Nakamoto; pessoa ou entidade, ninguém sabe.
Esse “mistério” que muitos amantes do dinheiro “fácil” tentam explorar começou em outubro de 2008, quando um “white paper” de nove páginas atribuído a um certo Satoshi Nakamoto apresentou os princípios dessa moeda virtual que “permitiria pagamentos online de uma pessoa para outra sem passar por uma instituição financeira”.
Isso colocou economistas e banqueiros em alerta, que questionaram a duração do “experimento”, uma vez que ele sem dúvida afetou as funções dos especialistas tradicionais e, claro, seus lucros especulativos.
A ideia era escapar do controle dos bancos centrais, tradicionalmente as únicas instituições que podiam criar dinheiro.
Não é de se surpreender que o ativo seja alvo de ataques, pois é a moeda usada na internet profunda para transações ilegais que não deixam rastros. É também a moeda reivindicada pelos hackers em seus ataques cibernéticos.
No entanto, escândalos prejudicaram seu desempenho após a falência de empresas de alto nível e a queda de alguns empresários famosos, além da queda de muitos que apostaram e colocaram seus ativos para crescer naquela floresta especulativa.
Muitas pessoas se lembram de Changpeng Zhao, ex-chefe da Binance, a maior plataforma de criptomoedas, que foi condenado nos Estados Unidos a quatro meses de prisão por violar leis contra lavagem de dinheiro.
A principal rival da Binance, a FTX, entrou com pedido de falência no final de 2022 e seu fundador, Sam Bankman-Fried, foi condenado em março a 25 anos de prisão por fraude e conspiração.
Apesar desses contratempos, os investidores de Bitcoin receberam bem a decisão do chefe da Casa Branca de nomear um defensor das criptomoedas para chefiar a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, reforçando o otimismo de que o governo dos EUA será mais tolerante com o setor.
Outro capítulo da história é que os reguladores financeiros dos EUA aprovaram fundos negociados em bolsa de bitcoin em janeiro, o que permite que um público mais amplo invista nessa criptomoeda sem precisar comprá-la diretamente.
Em El Salvador
Aqui em El Salvador, onde há muitos amantes do Bitcoin, principalmente estrangeiros, não faltam investidores que prometem escritórios e edifícios para promover a moeda virtual, embora pareça que a promessa do governo de fundar uma cidade Bitcoin tenha desaparecido.
Em setembro de 2021, El Salvador se tornou o primeiro país a aceitar o bitcoin como moeda legal, mas isso desapareceu em 2025 graças a um acordo com o FMI para obter dinheiro novo, perto de 1,5 bilhão de dólares que irão para os cofres do Estado.
No entanto, esse acordo, de acordo com especialistas, interrompeu o impulso no país para uma das principais políticas do governo, o Bitcoin.
O Conselho de Administração do FMI, após um acordo de 40 meses e US$ 1,4 bilhão, disse que os riscos potenciais do bitcoin foram abordados “de acordo com as políticas do Fundo”.
O credor reconheceu que as reformas aprovadas pela Assembleia Legislativa à Lei do Bitcoin em 19 de janeiro de 2024 garantem o uso da criptomoeda apenas para o setor privado e de forma voluntária. Além disso, a opção de pagar impostos foi removida.
Ele também disse que “no futuro, os compromissos do programa limitarão o envolvimento do governo em atividades econômicas relacionadas ao bitcoin, bem como transações governamentais e compras da moeda virtual”.
Embora o governo continue comprando o ativo digital, ele não representa mais a mesma coisa em sua oferta.
No entanto, a plataforma de criptomoedas Cointelegraph estima que a tendência de queda do valor do ativo pode mudar nos próximos dias. O veículo citou o trader de criptomoedas Michaël van de Poppe, que acredita que a maior parte do declínio do ativo já se materializou.
Para o FMI, o ativo digital não é mais o principal obstáculo ao acordo fechado com El Salvador, que, segundo os críticos, aprofundará a cirurgia fiscal e aumentará a dívida pública dos salvadorenhos.
Enquanto isso acontece, não faltam momentos de “alegria” como este de Trump: “PARABÉNS BITCOINERS!!!” US$ 100.000!!! DE NADA!!! “Juntos, faremos a América grande novamente!”, escreveu o presidente eleito no Truth Social, que lançou sua própria plataforma de criptomoeda em setembro.
Mas depois da queda do ativo para US$ 80.000, há um clima de dúvida em torno desse setor controverso, apesar de Trump na Casa Branca e do bilionário Elon Musk ao seu lado.
Segundo relatos, depois de chamar as criptomoedas de golpe durante seu primeiro mandato (2017-2021), Trump mudou seu tom durante sua campanha, que foi parcialmente financiada por grupos do setor. Agora ele afirma que fará dos Estados Unidos “a capital mundial do bitcoin e das criptomoedas”, algo que ainda não se materializou.
Em algum momento, alguém também considerará que o Bitcoin pode ser um perigo para o dólar, a moeda americana, e talvez pense nele como um coveiro cujas origens e criações são desconhecidas, para manter a incerteza nas finanças globais e nos centros de poder global.