Havana (Prensa Latina) A atriz brasileira Sonia Braga recebeu nesta segunda-feira (12) os aplausos do público do 38 Festival do Novo Cinema Latino-americano, onde compete com Aquarius, um filme que segundo ela sublinha a importância da memória.
Há países que negam sua própria história, advertiu a artista consciente de que o longa de Kleber Mendonça Filho é uma metáfora aplicável a várias nações e a personagem de Clara é um símbolo de resistência.
Para Braga, em invejável forma física e artística aos 66 anos de idade, seus recentes sucessos como atriz por este filme devêm triunfos para a América Latina, ainda que em seu Brasil natal o governo de Michel Temer arremetesse contra a obra e a tenha impedido de ser candidata ao Oscar representando o país.
Esta investida foi a reação diante da denúncia realizada por parte do elenco e do diretor no Festival de Cinema de Cannes, onde exibiram cartazes nos quais criticaram o golpe de Estado contra a presidenta Dilma Rousseff, o atentado à democracia e a ilegitimidade do novo governo.
No entanto, o filme está em todas as partes e no México acaba de conquistar o Prêmio Fénix como melhor diretor e melhor atriz protagonista, este último para Braga.
A atriz, popular por suas caracterizações em Dona Flor e seus dois maridos; Gabriela, Cravo e Canela; O beijo da mulher arranha; e Tieta do Agreste, confessou em Havana que ao ler o roteiro de Aquarius sintetizou que a personagem central do filme era o apartamento.
O filme conta a história de Clara, última residente do edifício Aquarius, onde todos os apartamentos foram comprados por uma companhia que tem outros planos para esse lote, no entanto, a mulher se nega a se desprender de suas lembranças.
Clara ganhou a batalha contra um câncer de mama na juventude, de modo que enfrentará com dignidade e sem medos uma tentativa de desalojamento psicológico orquestrado pela companhia, defensora de um estilo de vida mais moderno.
Na perspectiva de Braga, essa proposta de mudança do modo de vida e desprendimento de suas memórias devém o novo câncer para Clara e lutará a todo custo contra o mal.
Segundo a artista, toda uma equipe trabalhou muito para que a personagem ganhasse força e figurasse orgânica, os resultados agradam, em Cuba uma extensa ovação recompensou a primeira exibição da obra no cinema Chaplin, desta capital.
O melhor roteiro em que atuei, declarou Braga em conferência de imprensa oferecida no Hotel Nacional de Cuba, ali parecia se sentir como em casa e contou que ao vir a este país cumpre com um sonho antiquíssimo.
Não gosto de ser uma atriz, gosto de ser uma pessoa, considerou esta mulher formosa -ao vivo mais que na tela-, afável, muito conversadora e jovial.
Da mesma forma que Clara, Braga não se desprende de suas memórias e relatou orgulhosa como teve que trabalhar desde cedo para ajudar economicamente a sua mãe viúva, mas isto lhe ensinou muito na vida.
Mamãe fez todos os vestidos que usei no Beijo da mulher arranha, detalhou a filha, orgulhosa de sua carreira e suas lembranças.