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quarta-feira, 25 dezembro, 2024

Sonho destruído ou choque de realidade? O que tem feito brasileiros voltarem à pátria

© Rovena Rosa/Agência Brasil

Criado por uma lógica ocidentalista, o sonho de muitos é morar no exterior — seja Europa ou Estados Unidos —, e, nos últimos tempos, a realidade tem dado um choque nesses planos, em especial os brasileiros. Mas por qual motivo?

Para entender melhor o fluxo de volta para casa que alguns brasileiros residentes no exterior vêm fazendo, a Sputnik Brasil conversou com um especialista e uma brasileira que fez o caminho inverso.
O podcast Jabuticaba Sem Caroço, da Sputnik Brasil, conversou com o psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) Gabriel Binkowski. Segundo o estudioso, a migração está intimamente ligada ao desejo humano de melhorar e transformar sua vida.

“A migração acompanha aquilo que nos faz humanos, que é sonhar sempre com uma vida melhor, com mais realização, com mais possibilidades“, afirmou em entrevista.

No entanto, segundo reforçado pelo psicanalista, a decisão de emigrar também pode ser motivada pela busca por melhores condições econômicas até a necessidade de sobrevivência em contextos de repressão política, social ou religiosa.
Jabuticaba Sem Caroço #523 - Sputnik Brasil, 1920, 29.11.2024

Jabuticaba Sem Caroço

Pesadelo europeu: o retorno de emigrantes brasileiros

Imigração e dificuldades a bordo

A fala de Binkowski destaca a universalidade da migração, apontando que até os animais migrantes buscam melhores condições de vida. “Os seres humanos são os únicos que podem experimentar o que chamamos de exílio, que envolve uma conexão com a terra, a cultura e a língua“, explica.
Para ele, a migração, seja por escolha ou necessidade, é uma forma de resposta à crise das condições de vida em muitos lugares onde a falta de perspectiva coletiva leva muitos a buscarem uma nova realidade em outro país.

“Nos últimos 15 ou 20 anos, vimos um aumento no número de pessoas migrando não só por razões econômicas, mas também para viver sua sexualidade, praticar sua religião ou exercer sua liberdade de maneira mais plena“, disse.

Binkowski, que também viveu a experiência de migrar, compartilhando sua vivência de sete anos na França, observa que o retorno ao Brasil foi mais difícil do que sua adaptação à vida em Paris.
“Eu me lembro da sensação de ouvir o português e achar que alguém estava dentro de mim, quase na minha intimidade, algo que eu não tinha antes desse retorno”, conta.
Ele explica que, ao voltar, o imigrante precisa lidar com uma sensação de “invasão” decorrente das expectativas de familiares e amigos, além da frustração com a falta de progresso do país.
“O Brasil hoje é um país fragmentado, que cobra muito, mas dá muito pouco”, diz.
Festival promove cultura da Rússia e ensina russo a brasileiros em São Paulo. Novembro 2024. - Sputnik Brasil, 1920, 23.11.2024

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Festival promove cultura da Rússia e ensina russo a brasileiros em São Paulo (VÍDEOS)

Perspectivas positivas

Para Lorena Ingrid, fotógrafa há mais de dez anos e jornalista formada, a mudança para a Irlanda não foi uma decisão fácil e nem planejada de forma tradicional.
O sonho de morar fora já existia havia anos, mas foi durante a pandemia que o impulso final aconteceu.

“Quando a gente passou por aquele momento da pandemia, que eu acho que balançou muito uma galera, e a gente viu o estrago que fez no mundo, no Brasil não foi diferente… Eu já estava com esse sonho antigo de sair […]”, conta.

A dificuldade de se sentir realizada no Brasil, somada ao desejo de mudança, a levou a tomar uma decisão ousada, sem avisar à família inicialmente.
“Eu comecei tudo sozinha, fiz as pesquisas, tudo muito escondido. A pandemia veio e realmente deu uma balançada, me levou a ter uma crise muito grande… Foi um momento de reflexão intensa, onde eu senti que não estava mais feliz ali e precisava ir além“, revela Lorena, destacando que muitas vezes a busca por felicidade envolve grandes transformações pessoais.
Para Lorena, a adaptação à vida na Irlanda foi um processo gradual, mas ela nunca se sentiu fora de lugar.

“Eu sabia o que estava fazendo aqui, e nunca senti que não pertencesse. Deus foi abrindo as portas, e eu fui fazendo minha parte”, conclui, agradecendo pela oportunidade de recomeçar e se reinventar.

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