Foto: Chip Somodevilla / POOL / AFP
Wagner França
Desde 2024, o Brasil enfrenta uma nova ofensiva econômica vinda dos Estados Unidos. Apesar de importar mais do que exporta para o mercado norte-americano — US$ 42,3 bilhões em importações contra US$ 40,3 bilhões em exportações, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior — o país foi alvo de uma dura sobretaxa imposta unilateralmente pelo governo estadunidense. A medida atinge especialmente setores estratégicos como aço, alumínio, celulose, madeira e até alimentos, com tarifas que chegam a 25%.
A contradição é clara: mesmo com déficit comercial, o Brasil é tratado como ameaça. E os impactos dessa medida não são apenas números em tabelas de balanço — eles afetam diretamente a produção nacional, a estabilidade econômica e o emprego. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a sobretaxa pode reduzir as exportações brasileiras de metais em até 11,27%, causando um recuo de 2,19% na produção do setor. Isso significa fechamento de postos de trabalho, desaceleração da indústria e queda de arrecadação.
No agronegócio, o efeito também será brutal: estima-se uma perda de mais de US$ 200 milhões anuais apenas em produtos como café, celulose e suco de laranja. A inflação tende a subir com o encarecimento dos insumos importados, pressionando ainda mais o bolso da classe trabalhadora e exigindo juros mais altos para conter os efeitos da crise artificialmente criada.
Mas o que está por trás dessa ação imperialista? O medo. O temor da elite econômica dos EUA diante da ascensão dos BRICS, grupo de países que vem propondo uma nova ordem internacional multipolar, afastada da dominação do dólar e do poder bélico e financeiro do Ocidente. O fortalecimento do BRICS — que conta com Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e novos membros como Irã e Etiópia — ameaça o monopólio do FMI, do Banco Mundial e das grandes corporações transnacionais.
A sobretaxa norte-americana representa um velho método de controle imperialista: punir economicamente os que ousam construir caminhos próprios. O capital financeiro internacional se vale de tarifas, bloqueios e chantagens para manter na coleira países que começam a escapar de sua órbita. E, como sempre, quem paga essa conta é o povo trabalhador.
Não se trata apenas de uma disputa comercial. É uma guerra silenciosa por hegemonia. A resposta precisa ser política, econômica e simbólica: fortalecer o BRICS, impulsionar a industrialização soberana, romper com a dependência externa e construir uma economia voltada para as necessidades reais do povo, e não para os lucros das corporações estrangeiras. O arrocho imperialista pode ter muitos nomes — sobretaxa, tarifa, sanção —, mas sua essência é uma só: a dominação de um centro sobre as periferias do mundo.
O Brasil não pode mais aceitar calado essa estrutura. O tempo de submissão precisa acabar. A independência econômica e política só virá com organização popular, soberania produtiva e alianças estratégicas com os que também enfrentam o gigante. A classe trabalhadora deve enxergar na agressão dos EUA não um obstáculo isolado, mas parte de um sistema que precisa ser superado.