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sábado, 7 setembro, 2024

Sob antagonismos mortais, Brasil caminha para o matadouro

por Beto Almeida.

O Brasil caminha como um boi zonzo para o matadouro. Tem no Alvorada um homem que dança o baile da morte. Brinca com a tragédia de milhões quando desdenha dos brasileiros que “mergulham no esgoto”, ignorando que a pergunta a ser feita é por que o um país com brutal acumulação de capital ainda tem metade de seu povo mergulhado na lama, na falta de esgotamento sanitário e de água tratada?
Surge a notícia de que a Fiocruz está construindo hospital especial, para atender contaminados com coronavírus, com 200 leitos, onde testará outros medicamentos, inclusive a cloroquina. Mas, este hospital só ficará pronto em 45 dias, meados de maio! Até lá, com a demência presidencial estimulando a livre circulação das pessoas, ou seja, a livre contaminação, não haverá medida rotineira, embora bem-intencionada e acertada, que faça frente ao tsunami que vem por aí. Aliás, em 2005, quando o tsunami teve o seu epicentro, no fundo do mar, os cientistas nos EUA o detectaram imediatamente, e calcularam que levaria 7 horas para atingir as cidades costeiras. Salvaram os aviões da Base Militar da Ilha de Diego Garcia, deslocando-os. Mas, não se fez uma advertência imediata, com toda a parafernália da comunicação mundial para salvar vidas! Sete horas era tempo de sobra para um deslocamento massivo.
Em Cuba, nos furacões, são deslocadas até 2 milhões de pessoas em poucas horas, levando seus animais d estimação e seus médicos de família juntos. Naquela tragédia, até as serpentes e os elefantes perceberam que o tsunami vinha, e se protegeram. Mas, a tecnologia que foi capaz de detectar o epicentro, não foi utilizada para salvar vidas! Caso se tratasse de uma perda bilionária nos mercados financeiros, a informação seria instantânea. Para salvar vidas não foi!
O que se espera, agora, para uma prevenção estatal organizada? E só o estado pode adotar as medidas protetoras de largo alcance. Na China, o estado pagou 15 dias de férias coletivas e controla a Pandemia. Na Venezuela, Maduro paga o salário de todos os trabalhadores para que fiquem em casa. O Exército do Irã construiu um hospital com 2 mil leitos em 48 horas! Até na pátria do neoliberalismo selvagem, os EUA, Trump toma decisão estatal de que a GM fabrique respiradores.
O Brasil fabrica em média 1 automóvel a cada 2 minutos, ou menos, mas faltam respiradores! Possuímos a maior rede de açudes de água doce do mundo, mas as favelas não possuem água corrente!  Somos capazes de obras de engenharia como Itaipu, mas o déficit habitacional está na escala dos milhões!
O número de médicos é insuficiente frente ao que vem por aí, mas enxotamos 11 mil médicos cubanos por puro rancor ideológico, com a aplauso anticientífico e medieval das entidades médicas brasileiras, que não trabalham para que os profissionais atendam a população mais humilde, nas localidades mais vulneráveis, onde os cubanos não vacilavam em cumprir o seu juramento profissional.
O Brasil é dos maiores produtores de álcool do mundo, não há razão para o estado não tome as medidas de requisição que a Constituição lhe permite, para distribuir o produto a toda a população.
Ainda com ações importantes de alguns governadores e prefeitos, com o paulistano Bruno Covas que transformou o Pacaembu e o Anhembi em hospitais de campanha, quando pico da Pandemia nos assaltar, como preveem os especialistas, haverá caos hospitalar. Um caos hospitalar que já existe há décadas, mas foi agravado pelo governo federal, com o Ministro Mandetta responsável pelo corte de 22 bilhões de reais de verbas da saúde, visando demolir o SUS, em favor a indústria hospitalar privada.
A corajosa guinada de políticas públicas que o Brasil e seu povo estão a exigir, para enfrentar o tsunami mortal, é incompatível com a permanência de um nível de demência política que contaminou o Alvorada. Esta trama aponta para uma crise política muito explosiva. Quando a justiça tira do ar a irresponsável propaganda “O Brasil não pode parar”, é sinal de que algo de racional está a ser construído, da mesma forma quando governadores, até os mais conservadores, conformam hoje uma espécie de Desobediência Civil Administrativa em relação ao Palácio do Planalto, é um sopro de esperança de que mudanças políticas, via um novo consenso, estão sendo desenhadas.
Mas, falta muito. Diante de tantas agruras e tantas falências nas políticas públicas, inclusive as de saúde, é paradoxal assistir as forças políticas, inclusive as transformadoras, paralisadas diante da indecente acumulação de dinheiro nas mãos dos banqueiros, por meio do pagamento da dívida pública, sem que nenhuma voz, no Parlamento, sustente a aplicação de artigo das Disposições Transitórias da Constituição, determinando a Auditoria da Dívida Pública. Desde 1988, ano da Promulgação da Constituição –  aquela que um Presidente do Supremo Tribunal Federal acusou de ter 4 artigos contrabandeados – instalou-se no país uma bomba de sucção desviando recursos do Orçamento Federal diretamente para os bancos, via o Artigo 166 da Carta Magna, talvez sua única Cláusula verdadeiramente Pétrea.
Enquanto os banqueiros enriquecem acintosamente e os brasileirinhos mergulham no esgoto, o país, sob a lógica da demência presidencial, caminha para o matadouro, embora pudesse reduzir drasticamente o número de vítimas, caso tivesse humildade para aprender exemplo da China.

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