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terça-feira, 6 maio, 2025

Síria, arena de confronto entre Israel e Turquia

Damasco (Prensa Latina) A luta entre potências regionais e internacionais na Síria está se intensificando, e a competição está crescendo para expandir a influência sobre esta nação geoestrategicamente importante na era pós-Assad.

Por Fady Marrouf

Correspondente-chefe na Síria

Entre essas potências está a Turquia, que pretende aproveitar as mudanças que estão ocorrendo para fortalecer sua presença militar, econômica e política no país e, posteriormente, integrar esta nação levantina à sua esfera de influência.

Essas intenções colocam Ancara em confronto direto com Israel, porque este último vê tais políticas como uma ameaça direta à sua segurança, aos seus interesses e aos seus planos hegemônicos e expansionistas no sul da Síria.

Ambas as potências parecem incapazes de resolver seus problemas, já que cada uma vê a outra como uma ameaça aos seus objetivos estratégicos. A escalada entre os dois ainda está sendo controlada por cálculos cuidadosos que impedem que ela se transforme em confronto direto.

A verdade é que as transformações políticas e militares na Síria, particularmente a queda do governo de Bashar al-Assad e a formação de um governo de transição, abriram as portas para uma reestruturação de todo o cenário regional.

A Turquia se destaca como um dos atores mais influentes no terreno, tanto pelo seu apoio às atuais autoridades sírias quanto pela sua extensa presença militar no norte da Síria.

Israel está acompanhando esse movimento com grande preocupação, não apenas por causa de sua tradicional rivalidade regional com Ancara, mas também porque Tel Aviv acredita que qualquer papel turco na atual Síria pode ter implicações estratégicas que afetariam sua segurança nacional e o equilíbrio de segurança.

Embora as tensões entre Ancara e Tel Aviv não sejam novas, Israel começou a suspeitar do que vê como uma tentativa turca de impor um novo fato político consumado na Síria.

Segundo analistas, as preocupações israelenses neste momento decorrem de dois medos básicos: primeiro, Ancara se tornou uma garantia política e de segurança na Síria, limitando a capacidade de Israel de realizar operações dentro da Síria no futuro.

Em segundo lugar, a possibilidade de a influência turca se aproximar do sul da Síria e das Colinas de Golã ocupadas na Síria, o que reformularia as sensíveis equações de segurança ao longo da fronteira.

No geral, esses cenários refletem a complexidade da situação síria e a sobreposição de interesses regionais e internacionais.

Na ausência de um entendimento claro entre Turquia e Israel, o risco de escalada persiste, exigindo monitoramento rigoroso dos acontecimentos e avaliação contínua das políticas adotadas por ambos os lados.

Desde a queda de Assad em 8 de dezembro, Israel realizou mais de 80 incursões terrestres no sudoeste da Síria e centenas de ataques aéreos contra os ativos militares sírios restantes.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ofereceu três justificativas para essas medidas agressivas: segurança, medo do passado jihadista do presidente Ahmed Al-Shara e o Novo Projeto do Oriente Médio que o próprio Netanyahu prometeu implementar após o início da Guerra de Gaza em 7 de outubro.

A percepção do primeiro-ministro israelense de que a presença turca na nova Síria representa uma ameaça geopolítica significativa a Israel é apoiada por seus círculos militares e de inteligência.

Os recentes ataques israelenses à Síria coincidiram com relatos de bases aéreas turcas no centro da Síria, particularmente nos aeroportos militares de Palmira e T4, no deserto, na província oriental de Homs, e no aeroporto militar na província de Hama.

Isso foi confirmado por um funcionário do Ministério da Defesa israelense, citado pelo Jerusalem Post, que afirmou que as recentes incursões tinham como objetivo impedir Ancara de estabelecer uma base militar que pudesse ameaçar as operações aéreas israelenses.

O mesmo funcionário acrescentou que esses ataques “tinham como objetivo frustrar os planos turcos de transferir tropas e sistemas de defesa aérea para a Síria e operar instalações militares, especialmente à luz dos relatos de que Ancara quer converter aeroportos em bases de drones e possivelmente implantar temporariamente sistemas de defesa aérea S-400”.

Enquanto isso, a Reuters revelou que Ancara está trabalhando para se posicionar como um ator importante na nova Síria, um motivo de preocupação para Israel, já que a presença de bases turcas na Síria permite que Ancara proteja o espaço aéreo sírio no caso de futuros ataques sionistas.

A percepção mútua da Turquia e de Israel como uma ameaça estratégica se reflete cada vez mais na Síria. Essa visão é exacerbada pelo foco expansionista de Israel na região, sob a liderança de uma extrema direita que vê o momento propício para mudanças no Oriente Médio.

Por outro lado, esse confronto geopolítico entre os dois países representa um desafio significativo aos esforços do governo Trump para se retirar da Síria e pressionar seus aliados na região a cooperar na gestão do Oriente Médio com menos envolvimento dos EUA.

A visão “positiva” de Trump sobre Ancara e seu papel na Síria provavelmente serviria como uma proteção contra uma potencial espiral de conflito na nação levantina.

No entanto, o sucesso da nova Síria parece ser tanto uma questão de segurança nacional para a Turquia quanto uma ameaça geopolítica para Israel.

Para muitos analistas, a situação síria é extremamente complexa devido à presença de muitos atores externos, à competição e às disputas entre eles que prejudicam principalmente o povo, que ainda está pagando o preço pela interferência estrangeira, e ao fato de seu país ter se tornado um centro de influência para inúmeras potências regionais e internacionais.

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