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sábado, 22 março, 2025

Salvador: 474 anos de uma jovem senhora cheia de histórias

Foto: Divulgação

Por Zédejesusbarreto

e brancos fedorentos chegaram pelos mares

invadindo nossas matas, nossas mentes

com suas armas e seus deuses letais

E inocularam seus males e dizimaram

aldeias e bichos e nações nativas

a bala, palavras, medo e vírus

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“Os habitantes parecem saber bem pouco acerca dos requintes da vida, passando a maior parte do tempo na mais completa indolência e lendo pouquíssimos livros, pois o conhecimento não está no rol de suas preocupações.

É a política assente do governo manter o povo na ignorância, já que isso o faz aceitar com mais docilidade as arbitrariedades do poder”

  Foi o que registrou a inglesa Jemima Kindersley, em agosto de 1764, ao fazer uma escala em Salvador, a caminho da Índia.

(Trecho do livro “Escravidão II – Da corrida do Ouro em Minas Gerais até a chegada da corte de Dom João ao Brasil”, de Laurentino Gomes.  Citação do livro ‘Mulheres Viajantes no Brasil – 1764/1820’ , pgs 45-46.)

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Salvador, minha casa, minha morada, meu abrigo, paixão de vida.

Minha mãe preta, cidade amada. Parabéns.

Meu beijo, sua benção.

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  Salvador, 470 anos

                                                28março201

  No dia 29 de março de 1549, há precisos 470 anos, aportava na enseada do atual Porto da Barra, o fidalgo português Thomé de Souza, no comando de uma esquadra de três naus, duas caravelas, um bergantim e cerca de mil homens – soldados, técnicos em construção, artífices e artesãos, religiosos, cirurgiões, peões … – com a missão, estabelecida pelo El Rei de Portugal Dom João III, de aqui, nas bordas da Baía de Todos-os-Santos, construir uma cidade, porto e fortaleza, que seria a primeira capital do Brasil-Colônia, no Novo Mundo d’além mar.

  Os projetos vieram prontos de Lisboa.

  Quando cá chegaram Thomé de Souza, nosso primeiro Governador Geral, e sua comitiva, o sítio da Barra já era o Povoado do Pereira, depois Vila Velha, erguido por Caramuru (o negociante português Diogo Álvares Correia), os nativos Tupinambás e um magote de traficantes de Pau Brasil e especiarias, a mando de um capitão donatário chamado Francisco Pereira Coutinho (daí o nome povoado do Pereira), de quem os tupinambás não eram muito chegados. Traçaram-no nos dentes.

  Thomé foi bem recebido. Um certo Gramatão Teles, capitão e cavalheiro da Casa Real, chegara antes para preparar os caminhos e acolhimentos. Caramuru e os Tupinambás também se achegaram.

  Os emissários do Rei passaram uns poucos dias descansando da longa travessia do Atlântico e logo partiram para a prospecção do melhor espaço, no interior da Baía e o mais próximo possível da entrada norte, para a fundação da “cidade porto e fortaleza”.

Já no mês de abril, com o dedo do mestre Luis Dias (projetista, arquiteto, urbanista e engenheiro … podemos assim dizer) e a decisão de Thomé de Souza, foi escolhido o local para as primeiras fundações da cidade. Num cume ou promontório, diante do mar (Porto), e muito bem protegido por escarpas e ladeiras, água abundante. As obras começaram em dois espaços: na parte alta, entre o que hoje é a Praça Castro Alves e a Misericórdia; na parte baixa, entre a Praça Cairu e a Preguiça.

 Todo o ano de 1549 foi de uma labuta intensa, com participação ativa também da mão-de-obra indígena. Segundo escritos de Frei Vicente do Salvador (o maior historiador desse tempo), “o próprio governador (Thomé de Souza) era o primeiro que lançava mão do pilão para os taipais e ajudava a levar a seus ombros os caibros e madeiras para as casas, mostrando-se a todos companheiro afável, parte mui necessária nos que governam novas povoações”

Portanto, a fundação propriamente dita da cidade aconteceu meses depois da chegada do Governador Thomé de Souza, essa sim acontecida no dia 29 de março de 1549.

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À minha cidade amada do São Salvador da Bahia – de todos os santos e orixás, inquices, voduns e encantados das matas e das águas -, Mãe Preta que abriga tantas contradições e misturas, todo o meu respeito, todo o amor de um filho de suas águas, de seu azul, de sua luz, única!!

*

Em sua homenagem, o poema de Geraldo Maia, de 1999,

feito para as comemorações dos 450 anos, intitulado …

Timbalacity

Te abadá, Salvador

Tiararana

Timbalada bacana

nos treitos de tua cama

nos feitos de tua fama

           Tiemanjar, cidade

           Tiansã com vontade

           de viver para sempre

           no teu coração de aia

           na barra da tua saia

           na baía que agasalha

           a amplidão ao léu

Te abará, Salvador

Sussuarana

Beiju com caldo de cana

que a menina cigana

ciranda ao somdo tambor

Araketu teu Axé

no axexê do Ilê

Didá pra mim teu amor

         Rastafariar Salvador

         Tiumburana

         Tintinar os teus encantos

Quatrocentoscincoenta anos

de te festejar com gana

Titã de cultura e arte

berço de paz e grão forte

de liberdade no grito

acode aos teus aflitos

no brado do bardo eterno

Rima de céu e inferno

filhos da mesma barriga

parto telúrico e cósmico

            Cidade mãe da poesia

              Ludicidade plural

              amor de bem e de mal

              dança de laser magia

               trança de raças e cores

               alma de vários sabores

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