Elizabeth II em evento pela memória da Segunda Guerral Mundial, em 2014 – Adrian Dennis / AFP
Reginaldo Nasser, professor da PUC, destaca que a monarquia cumpre uma função política dentro do colonialismo
Thales Schmidt
Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Embora seja lembrada por sua “educação” e “gentileza”, a Elizabeth II fez parte de um “jogo político” para que os olhos não se voltassem para as colônias do Reino Unido. A avaliação é de Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
A mais longeva monarca britânica faleceu aos 96 anos nesta quinta-feira (8). De acordo com o Palácio de Buckingham, a rainha Elizabeth II “morreu em paz”. O príncipe Charles, de 73 anos, é o próximo herdeiro do trono e deve ser coroado em breve.
Elizabeth II assumiu o posto de rainha em 1953, em um momento em que o mundo registrava a consolidação dos Estados Unidos como principal potência mundial, mas em que os britânicos ainda desfrutavam de uma longa coleção de colônias. Quando de sua coroação, a lista de colônias britânicas tinha países como Uganda, Quênia, Kuwait, Nigéria e Bahamas.
Ainda assim, destaca o professor da PUC-SP, a família costumava, e costuma, ser lembrada por seu “mundo mágico” de casamentos e batizados amplamente divulgados e festejados.
“A monarquia acabou tendo esse tipo de representação, de um imaginário, e a figura da rainha, acho que era uma ideia de dissimular todas as associações do império britânico. Então por exemplo a guerra com Egito, não foi guerra. Invadiram o Egito. Inglaterra, França e Israel, na guerra do Suez em 1957 [invadiram o Egito]”, destaca Nasser. “Mas isso tudo ficava com o primeiro-ministro, a rainha paira sobre o bem e o mal. Então se é uma função política que ela tem nesse momento do colonialismo é justamente não olhar para o colonialismo”.
A Estátua de Emancipação em Barbados, antiga colônia britânica. Em 2021, o país da América Central retirou o título de chefe de Estado da rainha Elizabeth II / Joe Raedle / Getty Images via AFP
O pesquisador de relações internacionais também destaca que as práticas coloniais britânicas na virada do século 19 para o 20 foram precursoras ao que os nazistas fizeram na construção da morte em escala industrial na ditadura de Adolf Hitler.
“A Inglaterra fez genocídio, teve campo de concentração, a escravidão nas colônias serviu como acumulação primitiva para desenvolver o capitalismo, mas se olha para quem? Para a Rainha, para as liberdades constitucionais na Inglaterra, que a Inglaterra não é monarquia absoluta, que a Inglaterra lutou contra o nazismo. Aliás, veja a apologia que se faz recentemente ao [Winston] Churchill, vários filmes”, destaca o professor da PUC-SP.
Esse “jogo de cumplicidade” e ocultamento feito com a família real deverá ser repetir agora, diz Nasser, para tentar esconder a crise inflacionária que o Reino Unido vive. A inflação no Reino Unido atingiu a maior marca em 40 anos em julho e a recém-empossada nova primeira-ministra, Liz Truss, assume o cargo acossada pelo aumento do custo de vida.
“Agora vão jogar peso nessa discussão da rainha, da sucessão, pode saber que vão ter várias cerimônias, é o que sempre se fez e estão voltado a fazer”, diz o pesquisador.
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