Perdemos nossa identidade, nossa
essência. Nos alimentamos de ilu-
soes (…) Vestimos a camisa da frase
feita, perdemos a morada da alma.
(…) Somos todos mendigos de algu-
ma forma…” Eloise de Paiva Mello
“E o muro em nossas mentes? – Não deveríamos ter permitindo aquilo,
a Alemanha anexada foi liquidada, 17 milhões de pessoas
tiveram de suportar sozinhas os principais padecimentos…”
Gunter Grass, Prêmio Nobel
Silas Correa Leite*
Pense bem: do outro lado (de dentro) do muro, a utopia pragmática da prática sendo problematizada de uma outra maneira talvez filosófica-conceitualmente disforme do real; o tal estado dinossauro provendo mal-e-mal o básico na medida do histórico possível; concomitantemente o estudo total, pleno, inclusivo e espetacular garantido (paradoxos?); serviços primordiais mantidos no limite; as famílias às vezes também unidas pelo medo e terror da sombra que vigiava e de sindicatos que manietavam; as visões comunitárias de um pensar coletivo, plural, pouca corrupção (que é inerente ao homem animal político), nem drogas em potencial, nem gangues mirabolantes, nem ídolos pops-rastaquaras, nem prostituição difundida e nem violência generalizada, em tese todos por todos, visão comunitária-comunidade-comunismo; sem o ópio da religião charlatã, sem o ódio do Karl Marx genial na teoria, sem o ócio da decadente pequeno-burguesia mal servida de si mesma em seu lucro impune, lucro injusto, e vem a alta teconologia-know-how do open-doping de parte da mídia infiltrada, e, vá lá Kant, derrubam o muro de Berlim mais a pregação da bela liberdade democrática em tese, da beleza midiática da Nasa, da Internet globalizadora/mundializada, sejamos lúcidos, era muito paraíso aqui mesmo para os pagãos/bárbaros vermelhos sem a devida preparação para o cálice-estágio-vestibular da travessia visionária resultante (pós-tudo) e deu no que deu.
O muro caiu, aleluia CIA, FBI, Força-Tarefa, Marines, Guerra Fria e, depois ficaram então, nos referenciais-vivências (a melhor didática é o exemplo real) do outro lado do muro escancarado, os sem-muro, com as situações-problemas inéditas, a seguir arroladas, anotem:
01)-Liberdade para morrer de fome, ou escolher entre a salsicha de restos e o hambúrguer de podres. Não era melhor a carne de terceira popularizada-generalizada dos tempos de vacas magras de antes da queda do muro? Pensar pode. As prostitutas, o câmbio negro, os bandidos, as egoístas vaquinhas de presépios de modismos adoraram tudo isso pelo pique que foi a trancos e barrancos.
02)-Tecnologia de última geração, para ricos, newrichs, afortunados (alguém fica muito rico impunemente)?) e os pobres caras pálidas ainda assim morrendo de diarreia, tuberculose, malária, leptospirose – com liberdade de escolher o quanto menos pior, melhor, claro. Esquisito. Não era melhor não ter mais diarreia e nem AIDS, muito menos a lepra-craca do lucro-fóssil e de um consumismo sádico-profano? Podes crer.
03)-Os irmãos do outro lado do muro, eram irmãos no sentido magno-pleno da palavra, irmãos mesmo de sangue, suor, chope e lágrimas, na alegria e na tristeza como um casamento comungando idéias e ideais. Misturados, Minha Nossa, uns mais iguais do que os outros, as desigualdades (escondidas na pregação da mentira contra as utopias) do capitalhordismo americanalhado, mais uma corja do neoliberalismo sanguessuga e da globalização-câncer. Ver pra crer. Irmãos afortunados (poucos & suspeitos) mas não na miséria, no bundalelê geral não são tão irmãos assim. Aleluia, Marx!
04)-Recursos caros. Cursos caros. Ou seja: Os Sem-Muro são: sem estudos (reclassificatórios), sem noção de concorrência barata e podre, ou daquelas falsas (máfias & quadrilhas e oligopólios & privatizações-roubos – como em SamParaguai mais recentemente) leis falsas de oferta & procura. A utopia pelo menos era errada às claras. A que se criou no açodado do momento sazonal, era esperança pura. Na liberdade vigiada a verdade doía mas era real. A América é um blefe? Santa hipocrisia.
05)-As cidades básicas, essenciais, folclores valorados, culturas exageradamente maravilhadas, todos por um. Agora os coitados filhos do muro de antes, socados às pencas entre os marginais e as favelas, os palácios e as periferias sem etiquetas, ao deus-dará do modelo judaico-cristão, os castelos e o narcotráfico informal sistematizado do cotidiano-comum de uma economia sem dízimos sociais e com contrastes sociais pertinentes. Então, pós-moderno e pseudomoderno é tudo a mesma falácia-dialética: liberdade é tão pouco só isso? Balas perdidas para todos. Vade retro!
06)-Não foram treinados para serem tungados com dinheiro público de vulto se sujando no privado. Que saudade do Muro de Berlim (20% da estatística capitalista) que segregava no mote de todos serem providos no essencial em algumas coisas, no mínimo em outras, e no muito-tudo em arte, cultura, esporte, educação, medalhas olímpicas e vidinhas saradinhas. Que pesadelo foi o sonho. E quem é o ladrão que lucrou com isso? Reformas-mentiras. E o custo social dessa leviandade infame?
07)-Capitalismo é isso: um lixo. Confere. Liberdade para morrer de fome? Um luxo. A América-Cloaca é choro e ranger de dentes. E Sampa? Estado-Máfia. Cloaca latrina. Do outro lado do muro não havia tantos bandidos assim, de terno, gravata, toga, farda, túnica, e o medo era do estado bicho-ruim, não do coletivo lazarento, não do social; o medo era de uma coisa só, não de todos contra todos, cada um por si, inumanismo com neuras e pobrezas por atacado.
08)-Homicídios. Estatísticas. Seres: cartões de crédito. Idiotas potencializados. Suicídios. Não há como se fugir do lugar que se está. Religião pra quê? A fome não nutre consciências pedadas? Deus não faz milagres com idolatrias. Pobre é pobre em qualquer lugar do mundo. O forno capitalista é a céu aberto. Hitler foi fichinha. E o pardieiro-curral é o medo-coisa. Puteiros S/A.
09)-Querem o muro de volta, claro. É óbvio. Sim, aquele muro presencial, táctil, alto, esguio, erguido após a pilhação do embuste final da guerra. Ele era pétreo, feroz, divisório-ele-mesmo, fragmentado de grupos, não de almas.
Agora numa Alemanha reunificada (pra quê, pra quem?) a empulhação do mundo contemporâneo, (frustração do ser com o ser – pra isso derrubaram o muro) são tantos os outros muros irracionais, bestificados: impunidades compradas, drogas sustentáveis (as quadrilhas governam os governos), terrorismos politizados, famílias saqueadas (terceirização neoescravista que envergonhariam feudos medievais), podres poderes com status de sitio, depois dos navios negreiros outras margens oprimindo. Há lendas e lêndias. E o muro do México, da Palestina usurpada para inglês não ver?
10)-Queremos o muro de volta. O muro era pompa, vistoso, proibido (sonhar) mas nos foi imposto por acordos espúrios de irmãos submissos, mas ele, o muro, nos mantinha juntos e lutando por ideais críveis, transparentes, honestos, contra eles, como um motivo único. Que muro é esse agora que nos falta, que muro é esse que agora nos cega, humilha, vilipendia, esgota, em nome de uma liberdade sórdida, de serviços públicos suspeitamente sucateados, de ladrão sendo chamado de senhor presidente (o império), de corrupto trocando bombas por óleo. Que mundo livre é esse? Queremos o nosso muro de volta, não os muros das discórdias, das soberbas, das lamentações; de órfãos de Marx e das ruas da amargura. Karl Marx está morto? Viva Karl Marx! Vamos ressuscitá-lo em nós, a partir de nós, ao redor de nós. Nunca se estudou tanto Marx como hoje nas universidades da rica-(impune – até um Tribunal de Haia pro Besta Bush) América Cloaca. Isso quer dizer alguma coisa?
QUEREMOS NOSSO MURO DE VOLTA – Viva o Muro!. Abaixo os que estão em cima dele, passaram por cima dele, ganharam e ganham com a queda dele, proliferando miseráveis. Nem sempre se vê os muros do capitalismo no claro, eles estão desviados, camuflados, corações e mentes com nuvens de cifras.
Para muitos de nós, os muros são epidérmicos, sensoriais, têm aromas e arapucas, têm grades e algemas midiáticas, e o gradil ainda dói dentro de nós como um câncer com máscara blasé de Hollywood. Quantos tipos variados de muros permanecem no mundo contemporâneo, após a queda histórica do próprio Muro de Berlim?
O filósofo esloveno Slavoj Zizek (Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana) nos diz – nos Anos 90 (Era Clinton) – dos novos Muros que estão surgindo (o inumano e neoliberal império do capitalhordismo americanalhado) e por conseguinte e resultante dos muros entre Israel e a faixa de Gaza, ao redor da União Soviética, ao redor da União Europeia, na fronteira Estados Unidos-México. Vivas ao hitlerismo de Bush? – Ah o sonho de um humanismo de resultados…
Viva Zapata! Os enganados que se moldem.
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Silas Corrêa Leite – Estância Boêmia de Itararé, São Paulo, Brasil
Texto da Série: Ensaios, Panurgismos e Bravatas
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Silas Corrêa Leite, Educador, Jornalista Comunitário e conselheiro diplomado em Direitos Humanos, ciber poeta e livre pensador humanista, começou a escrever aos 16 anos no jornal “O Guarani” de Itararé-SP. Fez Direito e Geografia, é Especialista em Educação (Mackenzie), com extensão universitária em Literatura na Comunicação (ECA), entres outros cursos. Autor entre outros de “Porta-Lapsos”, Poemas, Editora All-Print (SP); “Campo de Trigo Com Corvos”, Contos premiados, Editora Design (SC), obra finalista do prêmio Telecom, Portugal 2007; “O Homem Que Virou Cerveja”, Crônicas Hilárias de um Poeta Boêmio, livro ganhador do Prêmio Valdeck Almeida de Jesus, Salvador Bahia, 2009, Primus Editorial, SP; GOTO, A Lenda do reino do Barqueiro Noturno do Rio Itararé, Editora Clube de Autores, Romance, 2014, O Menino Que Queria Ser Super-herói, e GUTE GUTE Barriga Experimental de Repertório, Romance Infantojuvenil, ambos a venda no site Amazon, entre outros. Seu e-book de sucesso “O Rinoceronte de Clarice”, onze ficções, cada uma com três finais, um feliz, um de tragédia e um terceiro final politicamente incorreto, por ser pioneiro, foi destaque na mídia como O Estadão, Jornal da Tarde, Folha de SP, Diário Popular, Revista Época, Revista Ao Mestre Com Carinho, Revista Kalunga, Revista da Web, Minha Revista (RJ). e também na rede televisiva, Programa “Metrópolis”/TV Cultura; Rede Band/Programa “Momento Cultural”; Rede 21-Programa “Na Berlinda”, Programa “Provocações”, TV Cultura/Antonio Abujamra. Por ser única no gênero e o primeiro livro interativo da Rede Mundial de Computadores, foi recomendada como leitura obrigatória na matéria “Linguagem Virtual” no Mestrado de “Ciência da Linguagem” da Universidade do Sul de SC. Foi tese de Doutorado na Universidade Federal de Alagoas (“Hipertextualidade, O Livro Depois do Livro”). Texto acadêmico no link: http://bdtd.ufal.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=197. Premiado nos Concursos Paulo Leminski de Contos, Ignácio Loyola Brandão de Contos; Prêmio Biblioteca Mário de Andrade (Poesia Sobre SP/Gestão Marilena Chauí)), Prêmio Literal (Fundação Petrobrás/Curadoria Heloisa Buarque de Hollanda), Prêmio Instituto Piaget (Lisboa, Portugal/Cancioneiro Infanto-Juvenil; Prêmio Elos Clube/Comunidade Lusíada Internacional; Vencedor do Primeiro Salão Nacional de Causos de Pescadores (USP/Parceiros do Tietê), Prêmio Simetria Ficções e Fantástico, Portugal (Microconto). Consta em quase 800 sites como Estadão, Noblat, Correio do Brasil, Usina de Letras, Daniel Pizza, Wikipedia, Observatório de Imprensa, Releituras, Cronópios, Aprendiz, Pedagogo Brasil, Jornal de Poesia, Convívio e LiberArti, Itália, Storm Magazine e InComunidade (Portugal), Fênix (Angola), Revista Aldéa (Espanha) Literatas (Moçambique), Politica Y Actualidad (Argentina), Poetas del Mundo (Chile), Pravda (Russia) e outros, inclusive na África. Publicado em mais de 100 antologias, até no exterior, como Antologia Multilingue de Letteratura Contemporânea, Trento, Itália; Cristhmas Anthology, Ohio, EUA e na Revista Poesia Sempre/Fundação Bib. Nacional (Ano 2000/Gestão Ivan Junqueira). E-mail: poesilas@terra.com.br