Montevidéu (Prensa Latina) Faltam poucos dias para o encerramento da campanha eleitoral no Uruguai antes das eleições de 27 de outubro, que decorrem sem altos e baixos e, aparentemente, com pouco entusiasmo dos cidadãos.
Por Orlando Oramas León
Correspondente-chefe no Uruguai
Nesse dia, os uruguaios terão que cumprir a obrigação constitucional de votar para eleger um novo presidente e os membros da Câmara dos Deputados e do Senado. Os principais candidatos multiplicam as suas viagens e encerram capítulos no interior do país, que não convocam reuniões massivas, enquanto se trava uma estreita batalha de comunicação nas redes sociais e nos meios de comunicação social.
Se dependesse das urnas, o candidato da oposição Frente Ampla, Yamandú Orsi, venceria sem discussão, embora com dúvidas de que consiga obter mais de 50 por cento dos votos e evitar o segundo turno, que a Frente perdeu nas eleições de 2019. eleições após vitória em primeira instância.
Foi então imposta uma coligação governamental liderada pelo Partido Nacional (PN) e, sobretudo, pelo seu candidato presidencial, o atual presidente Luís Lacalle Pou.
Mas o ex-secretário da Presidência, Álvaro Delgado, porta-estandarte do PN, está atrás nas sondagens contra o candidato presidencial da Frente Ampla.
Para Delgado, que se apresenta como um continuador do trabalho deste governo, as pesquisas o colocam em segundo lugar, embora com perdas que são atribuídas como ganhos percentuais ao candidato do Partido Colorado (PC), Andrés Ojeda, que veio de menos para mais neste concurso. Poucos contavam com o advogado criminalista como referência para o PC antes das eleições internas do partido, em 30 de junho, das quais saiu candidato ao concurso à Presidência da República.
Desde então Ojeda vem subindo nas pesquisas graças a uma intensa campanha nas redes, redes sociais e outros espaços mais tradicionais, nos quais se apresenta como o “novo” – representante da “nova política” e até como o “novo presidente”.”
É assim que ele se mostra em spots de campanha levantando pesos na academia, amigo fiel dos animais de estimação ou sintonizado com os interesses juvenis, preocupado com as questões de saúde mental e segurança dos cidadãos, todas mensagens voltadas à chamada classe média e aos indecisos.
Segundo Julio María Sanguinetti, duas vezes presidente do Uruguai, se Andrés Ojeda passar ao segundo turno, ou seja, superar Delgado no primeiro turno, causaria um “terremoto” eleitoral.
Mas tal afirmação, com mais pretensão de efeito do que realidade, não aparece na maioria das equações e previsões de sondadores e analistas, numa campanha em reta final e com um clima de tranquilidade, de aparente apatia pública, que merece várias opiniões.
Álvaro Delgado justifica a sua descida nas sondagens com “um clima de continuidade” e ausência de debate, nomeadamente com o adversário da derrota, Yamandú Orsi.
Para a cientista política Camila Zeballos, tal julgamento não justifica o declínio do pretendente nacionalista nos estados de opinião. É “uma retórica que Delgado desenvolveu para amortecer a sua má campanha, mas os dados não parecem demonstrar isso”, avaliou.
Observou que esta é “uma campanha extremamente rara ou atípica” face a 2019, e justificou-a com a avaliação de que entre os eleitores há pouca percepção de mudança entre os candidatos.
Na sua opinião, isso afeta também “a pouca mobilização ou a apatia ou falta de amor que se vê”.
“Acho que pode haver um pouco de desilusão por trás disso, que agora vemos como desmobilização”, disse outra cientista política, Marcela Schenck, em declarações ao La Diaria.
O VOTO DO INDECISO
Para a consultoria Cifra, o grupo de indecisos será fundamental para decidir se a Frente Ampla alcançará a maioria parlamentar que atualmente detém a chamada Coalizão Republicana.
A última pesquisa da Cifra apontou 11% dos que ainda não decidiram o seu voto, que é obrigatório por mandato constitucional.
Os dados dessa pesquisa mostraram que em setembro 44% dos uruguaios votariam na Frente Ampla, 24% no Partido Nacional, 14% no Partido Colorado, 2% no Cabildo Abierto e 1% no Partido Independente.
Observou também que dois por cento planejavam votar em branco ou anular.
Segundo a medição, entre os 11 por cento de indecisos há pessoas de “todos os grupos populacionais” e a integração é muito equilibrada entre homens e mulheres, além de “diferentes faixas etárias”.
“O nível de escolaridade pesa muito na indecisão”, sustenta. E alerta que “quanto mais educação formal houver, menos indecisos”.
A consultora acredita que três em cada quatro cidadãos que consideram votar num partido minoritário poderão mudar de posição “entre agora e 27 de outubro”.
“Entre aqueles que pensam em votar no Partido Colorado, quatro em cada dez podem acabar votando em outro”, prevê o relatório.
Os dois partidos maioritários, o Nacional e a Frente Ampla, têm mais de dois terços dos eleitores seguros de que não mudarão a sua preferência, mas quase um terço ainda poderá decidir por outra, acrescenta o relatório.
NAÇÃO COM PROJETOS DIFERENTES
O presidente da FA, Fernando Pereira, refuta opiniões de analistas que encontram poucas diferenças entre os principais candidatos, Orsy e Delgado.
“Não é que sejamos parecidos, são dois projetos de países muito diferentes. “Temos um modelo de nação, mas temos dois projetos diferentes”, disse à imprensa.
“Temos a fórmula mais firme, mais forte e o candidato a presidente que pode fazer esta segunda geração de transformações”, disse Pereira.
Disse que o programa Frente Amplista vai abordar os salários mais baixos, reforçar a segurança social, dedicar um orçamento maior à educação e saúde e procurar o crescimento da economia com melhor distribuição.
Ele criticou o descumprimento na gestão governamental, que resumiu em poucas palavras: “Muitas promessas foram levadas pelo vento”.