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segunda-feira, 3 fevereiro, 2025

Primeiro, uma guerra civil em andamento

 Pepe Escobar, Asia Times (tradução autorizada pelo autor)

Estão em andamento ‘operações psicológicas’ (psyops) massivas. Todos que conheciam o Transition Integrity Project (TIP, port. “Projeto para a Integridade da Transição”; sobre ele, aqui e aqui), sabiam como a coisa seria imperativa. Em minha coluna “Banana Follies: a mãe de todas as revoluções coloridas” optei por apresentá-la como um exercício, um jogo criado em think-tank. Mas ninguém sabe exatamente como acabará.

A inteligência dos EUA está perfeitamente a par de bem documentadas instâncias de fraude na eleição. Dentre outras: o software da Agência da Segurança Nacional que invade qualquer rede, como previamente detalhado por Edward Snowden, e pode alterar a contagem de votos; o supercomputador Hammer e seu aplicativo Scorecard que intercepta dados de computadores nos pontos de transferência eletrônica dos sistemas de computadores da eleição nos estados e fora das centrais de dados de outros partidos; o sistema de software Dominion, conhecido desde 2000 por graves fragilidades de segurança, mas ainda em uso em 30 estados, dentre os quais todos os estados oscilantes; aqueles hoje já famosos saltos verticais nos votos pró-Biden, em Michigan e Wisconsin às 4h da madrugada do dia 4/11 (AFP tentou sem sucesso desmentir a notícia para o caso de Wisconsin; para Michigan, nem tentou); vários casos de Mortos Que Votam.

Ator chave é o Estado Profundo, que decide o que acontece a seguir. Ali se pesaram prós e contras de emplacar como “líder do mundo livre”, um candidato senil, em estágio 2 de demência, belicista neoconservador e possivelmente chantagista (nisso, parceiro do filho), fazendo campanha de um estúdio num porão, incapaz de encher de correligionários uma vaga de estacionamento, acompanhado de pré-candidata que tinha apoio tão reduzido nas primárias dos Democratas que foi a primeira a cair fora.

A perspectiva pode ser horrível, especialmente se considerada a partir de vastas áreas do Sul Global já sob ataque imperial. Eleições duvidosas são prerrogativa de Bolívia e Bielorrússia. Só o Império é competente para legitimar eleição duvidosa – principalmente em seu próprio quintal.

Bem-vindos à Nova Resistência

Os Republicanos [Great Old PartyGOP] estão em posição muito confortável. Têm maioria no Senado e podem acabar por abocanhar 12 assentos na Câmara de Representantes. Sabem também que qualquer tentativa de Biden-Harris, de legislar mediante Ordens Executivas terá… consequências.

O ângulo de Fox News/New York Post é particularmente sedutor. Por que, de repente, aparecem apoiando Biden? Muito mais que disputas familiares dignas da saga Succession, Rupert Murdoch deixou ver bem claramente, no affair do laptop dos infernos, que tem provas de todas as variantes de imundícies necessárias para chantagear a família Biden. Assim, os Biden farão o que ele mandar. Murdoch já não precisa de Trump. Nem, em teoria, o GOP.

Ex-insiders da CIA sabem de graves entreveros de fundo de beco ainda em andamento entre figurões Republicanos e a gangue Biden-Harris. ‘Acertos’ pelas costas de Trump – que a maioria dos Republicanos odeiam com fúria. O homem mais importante em Washington será de fato o líder da maioria no Senado, Republicano Mitch McConnell.

Seja como for, para dirimir dúvidas persistentes, seria indispensável recontar votos em todos os seis estados contestados – Wisconsin, Michigan, Pensilvânia, Geórgia, Nevada e Arizona. Recontagem manual. Um a um. O Departamento de Justiça teria de atuar no processo, imediatamente. Não acontecerá. Recontagens são caríssimas. Nada faz crer que a Equipe Trump – à parte estar com pessoal e fundos reduzidos – consiga convencer William Barr, homem de Daddy Bush, a se mexer.

Ao mesmo tempo em que demonizava Trump ininterruptamente, por disseminar “uma torrente de desinformação” e por “tentar minar a legitimidade da eleição nos EUA”, a mídia comercial dominante e as empresas Big Tech já declararam o vencedor – caso clássico de pré-programação de multidões de ovelhas.

Mesmo assim, o que realmente importa é a letra da lei. Legislaturas estaduais decidem quais eleitores vão ao Colégio Eleitoral eleger o Presidente.

Aqui está – Artigo II, Seção 1, Parágrafo 2º: Cada estado deve nomear eleitores “pela forma que ordene a lei estadual local.”

Implica que nada aí tem a ver com governadores, menos ainda com a mídia. Às assembleias legislativas dos estados Republicanos só cabe obedecer. O drama pode arrastar-se por semanas. A primeira parte dos procedimentos do Colégio Eleitoral acontece dia 14 de dezembro. A reunião decisiva, só no início de janeiro.

Enquanto isso, falemos de uma Nova Resistência que se espalha como fogo em mato seco.

O trumpismo, com mais de 71 milhões de votos, está firmemente estabelecido como movimento de massas. Ninguém nos Republicanos goza desse tipo de apoio popular. Se descartarem o trumpismo, os Republicanos podem estar cometendo seppuku.

Assim sendo, o que fazem os Deploráveis?

O sempre indispensável Alastair Crooke, em ensaio poderoso, vai ao âmago da questão: Trump é o Presidente da América Vermelha. E a depender de como se desenrola a tragicomédia eleitoral, os “Deploráveis” podem virar Ingovernáveis.

Crooke cita um paralelo crucial evocado pelo historiador Mike Vlahos, que mostra como a saga em curso hoje nos EUA repete, como imagem especular, a Roma Antiga no último século da República, quando a elite romana foi empurrada contra os Populares – hoje representados pela América Vermelha (trumpista):

“Foi um novo mundo, com os grandes proprietários de terra e seus latifúndios [fonte de riqueza, sob trabalho escravo], no qual os ‘Grandes Homens’ que lideravam as diferentes facções nas guerras civis tornaram-se poderosos senadores que dominaram a vida romana pelos cinco séculos seguintes – enquanto o Povo, os populares, foi contido como elemento passivo – não indefeso – mas de modo geral dependente e não participante da governança romana: Assim se esvaziou a criatividade da vida de Roma, o que acabou por levar à desintegração.”

Assim, como a máquina Democrata queria, Trump não chegou a ser o Imperador Cesar Augusto, que os gregos conheciam como o Autokrator, mas foi monarca de facto. Augusto, Tibério e sobretudo Calígula ainda estão distantes. Com certeza será imperialista do bem, humanitário.

Enquanto isso, o que fará o Grande Capital imperial?

O Ocidente, especialmente a Roma norte-americana está à beira de duplo precipício: a pior depressão econômica de todos os tempos, combinada com explosões iminentes, incontáveis, incontroláveis, de fúria, dos cidadãos.

Nessas circunstâncias, o Estado Profundo raciocina que, com Biden – ou, mais cedo do que se espera com Kamala, a Shakti Suprema e Maa Durga Comandante-em-chefe – a trilha torna-se mais suave rumo ao Grande Reset em Davos. Afinal, para reiniciar peças de xadrez, primeiro é preciso derrubar o tabuleiro. Será um passo além da “Operação Inverno Escuro” – a qual, não por acaso, foi evocada pelo próprio Biden repetidor de Teleprompter, no derradeiro debate presidencial. O roteiro é agourentamente semelhante ao do “Lock Step” de 2010, da Fundação Rockefeller.

Enquanto isso, o Plano B é mantido em prontidão: as linhas gerais de um massacre global, focado na esfera de influência da Rússia “maligna”, para satisfazer uma OTAN “ressuscitada” e o complexo militar-industrial, que selecionou presidente o hoje já eleito e empossado pela mídia, antes de mais nada, porque não passa de figurinha de cartolina perfeitamente dobrável.*******

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