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terça-feira, 16 abril, 2024

Povos indígenas da Colômbia, entre a Covid-19 e a violência

Por Alain Valdés Serra* Havana (Prensa Latina) Os povos indígenas da Colômbia figuram entre os grupos populacionais desse país mais afetados pela Covid-19, situação que atribuem às precárias condições de saúde que afeta seus territórios historicamente.
De acordo com o mais recente boletim sobre a situação sanitária emitido pela Organização Nacional Indígena da Colômbia (Onic), esse setor da população enfrenta uma situação ‘cada vez mais trágica’ com 4.046 casos confirmados da doença.

O estudo faz um recorte até 30 de julho passado e fundamenta a preocupação da Onic sobre a vulnerabilidade dos 66 povos indígenas identificados com contágios na Colômbia.

Às cifras anteriores, se somam os 114 mortos até o momento, seis porcento deles maiores de 60 anos, o que é considerado uma perda sensível dado o papel preeminente concedido aos idosos nessas comunidades como detentores e transmissores de saberes ancestrais.

O boletim agrega que nas comunidades indígenas se apresentam em média 32 casos a cada 24 horas e a cada 9,4 dias se duplica o número de casos positivos.

Em mais de uma ocasião, a Onic denunciou a situação e exigiu que o governo do presidente Iván Duque tome medidas concretas para controlar a pandemia e evitar o crescimento do número de contágios e mortes, mas até agora sem respostas.

Uma vez mais, os povos indígenas exigem das autoridades, especialmente às sanitárias, transparência no manejo da pandemia e na apresentação da informação pública relacionada a ela com caráter ‘oportuno, objetivo, veraz, completo, reutilizável e processável’.

Estas facilidades, explica a organização, permitirão às autoridades indígenas tomar as decisões necessárias para evitar a expansão do vírus.

A Organização das Nações Unidas expressou sua preocupação com o questionamento à capacidade das instituições de saúde para enfrentar a situação e salvar as vidas de centenas de milhares de camponeses e indígenas que enfrentam uma grave situação devido à pandemia, que se somou à sua vulnerabilidade prévia.

A instituição fez um chamado à solidariedade internacional sobre a base de que os povos originários da Colômbia, do Brasil e Peru ‘têm algumas das taxas de incidência da doença mais altas.’

No entanto, nem todos enfrentam a situação com as mesmas condições, por exemplo os povos Sikuani e Kubeo afirmam ser invisíveis aos olhos da administração de Duque, que não garante o exercício de seus direitos. Organizações defensoras de direitos humanos afirmam que os povos originários colombianos têm sido vítimas históricas da exploração e do esquecimento, e que apesar de estarem em risco agora com a Covid-19, também sofrem os resultados de décadas de guerra civil, de ameaças e assassinatos de seus líderes.

Segundo o Observatório de Direitos da Comissão Nacional de Territórios Indígenas (Cnti), desde que foram reportados os primeiros casos positivos do novo coronavírus no país, registraram-se 40 assassinatos de membros de povos originários no período compreendido entre 25 de março e 28 de julho.

A entidade explica que a cifra representa um crescimento de 53% destes crimes em relação ao mesmo período de 2019.

Um relatório publicado pela organização não governamental Global Witness titulado ‘Defender o amanhã’, aponta a Colômbia como o país mais perigoso do mundo para os defensores de direitos territoriais em 2019, com 30% dos assassinatos documentados a nível mundial.

Para a Global Witness, os grupos indígenas estiveram particularmente em risco ao representar a metade dos assassinatos documentados.

O estudo explica que, ainda que os dados anteriores estejam devidamente registrados, como consequência das ameaças e da falta de canais de comunicação, há casos de violência não registrados que impedem saber a realidade dos impactos sofridos pelos defensores dos povos originários.

*Jornalista da Redação Sul da Prensa Latina

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