Por Marcelo Zero, no site Viomundo:
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O violento e bem planejado ataque do Hamas a Israel, de magnitude inédita e que já ocasionou centenas de mortes de ambos os lados do conflito, deverá produzir consequências sérias e amplas.
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No plano interno da política israelense, o cenário mais provável é o fortalecimento político de Netanyahu, com a formação de um governo de “união nacional”, o qual já recebeu sinalização positiva da maioria da oposição.
Embora essa união possa ser provisória, ela representa um alívio para o atual governo, submetido a muita pressão interna em razão das mudanças propostas no Poder Judiciário.
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No plano externo, as consequências deverão ser diversas e muito sérias.
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Israel declarou guerra contra o Hamas e a escalada do conflito parece inevitável.
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Até agora, o governo de Israel vinha evitando fazer uma ampla incursão militar em Gaza, dado o provável número alto de vítimas que uma operação militar desse tipo acarretaria.
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Porém, o ataque, que provocou um choque psicológico em Israel semelhante ao ocasionado, nos EUA, com o 11 de setembro de 2001, mudou tudo.
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Assim, é pouco provável que a resposta militar de Israel se limite ao bombardeio de Gaza. Uma operação terrestre parecer estar no horizonte.
Considere-se, nesse cálculo, que o Hamas fez reféns israelenses, os quais foram levados para Gaza. Israel já convocou milhares de reservistas.
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Tal operação possivelmente se estenderia ao sul do Líbano, já que o Hezbollah apoia o Hamas. Se confirmada, a operação aumentaria muito o número de vítimas, especialmente entre civis palestinos. Poderá ser uma carnificina.
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Também não se pode descartar alguma retaliação contra o Irã, principal aliado do Hamas, que aplaudiu o ataque e que dá apoio logístico a esse grupo.
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Uma provável vítima poderá ser o esperado acordo entre Arábia Saudita, Israel e EUA, para que aquele primeiro país reconheça o Estado de Israel. A primeira reação da Arábia Saudita ao ataque foi cautelosa, mas, a depender do rumo do conflito, tudo poderá mudar.
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Num plano mais geral, esse novo conflito deverá agravar ainda mais as relações geopolíticas do planeta, já muito tensas, em razão da guerra na Ucrânia, e resultar em maiores danos à recuperação econômica internacional, com consequências negativas para todos os países. Espera-se, no mínimo, que o preço do barril de petróleo aumente significativamente na segunda-feira.
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Em todo esse imbróglio, a pronta reação da diplomacia brasileira, que convocou o Conselho de Segurança da ONU com vistas a evitar a escalada conflito e entabular urgentes negociações de paz, merece o aplauso de todos.
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Como foi destacado na Nota das Bancadas do PT, o Brasil, país pacífico no qual as comunidades israelenses e árabes convivem de forma harmoniosa, apoia historicamente a chamada solução dos dois Estados para o conflito entre Israel e Palestina, pela qual ambos os países conviveriam dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas.
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Nesse sentido, os direitos do povo palestino, que pairam acima das ações do Hamas, não podem continuar a ser ignorados.
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Esse é o único caminho viável para a paz.