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segunda-feira, 17 novembro, 2025

Por que a aliança entre Moscou e Pyongyang assusta o Ocidente?

© Sputnik / Sergei Bobylev

A crescente cooperação entre a República Democrática Popular da Coreia e a Rússia tem atraído a atenção das potências ocidentais, especialmente pelo envolvimento coreano conflito na Ucrânia. A aliança, que vem sendo reforçada ao longo dos últimos anos, tem implicações tanto para a segurança global quanto para a geopolítica da região da Ásia.

Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik BrasilEmiliano Unzer, especialista em História da Ásia e professor na Universidade Federal do Espírito Santo, compartilhou suas perspectivas sobre os efeitos dessa aproximação em termos políticos, militares e econômicos.
O analista explicou que a colaboração entre a Rússia e a República Democrática Popular da Coreia possui dois aspectos principais: um lado político-legitimador e um técnico-operativo. Ele destacou que o apoio da Rússia tem sido fundamental para reduzir o custo internacional das ações nucleares de Pyongyang.
#708 Mundioka - Sputnik Brasil, 1920, 18.09.2025

Mundioka

Como Rússia e República Popular Democrática da Coreia se aproximaram tanto?

No campo político, o apoio russo diminui a pressão ocidental. Da mesma forma, no campo técnico a Rússia e a Coreia compartilham conhecimentos e tecnologias que aprimoram a capacidade de produção de mísseis norte-coreanos.
Segundo o especialista, embora isso não transforme imediatamente o arsenal nuclear de Pyongyang, a colaboração acelera o processo de diversificação e aprimoramento do seu potencial militar.
“Tem sinais de transferência e cooperação em tecnologia militar que podem ter efeitos indiretos sobre a capacidade de entrega e operação de ogivas, motores de foguetes, materiais, know-how de engenharia de mísseis, sensores.”
Kim Jong-un cumprimentando os soldados nos exercícios das forças aéreas - Sputnik Brasil, 1920, 11.09.2025

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Para o professor, isso representa um “sopro de vida” para o governo norte-coreano, especialmente em um contexto de sanções internacionais e dificuldades econômicas.
“Lembre-se que Pyongyang é um já sofre sanções internacionais há muitos anos. E agora Moscou, há alguns anos também, sofre sanções. Então, essa sinergia de dois governos […], é interessante para os outros lados.”
Em relação à importância da aproximação no atual contexto do conflito na Ucrânia, Unzer observou que a Rússia está consolidando parcerias em ambos os extremos de seu território.
“Para Moscou, é interessante porque, na verdade, a Coreia acabou se transformando numa Belarus. Na frente ocidental e na frente oriental ficou um baluarte cooperando com Moscou.”
dEle mencionou que a Rússia tem buscado reforçar sua posição contra os interesses ocidentais, especialmente após o agravamento das relações com os Estados Unidos e a União Europeia. Nesse contexto, a cooperação com Pyongyang se alinha a uma estratégia de reforço da presença russa no espaço euroasiático.
Pessoas dão as boas-vindas à chegada da delegação russa liderada por Alexander Kozlov, ministro de Recursos Naturais e Ecologia, no Aeroporto Internacional de Pyongyang, em Pyongyang, Coreia do Norte, 28 de julho de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 01.08.2025

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Ele ressalta que as relações entre Rússia, China e Coreia do Norte, embora baseadas em interesses conjuntos, não são isentas de divergências. A China, por exemplo, não tem interesse em uma maior nuclearização da Coreia do Norte, pois teme a instabilidade nas suas fronteiras.
Segundo o especialista em República Popular Democrática da Coreia e presidente do Instituto Paektu Brasil, Lucas Rubio, a crescente cooperação entre os dois países representa um desafio direto à hegemonia militar dos Estados Unidos no Nordeste Asiático.
“Desde mais ou menos junho de 2024, Pyongyang e Moscou estão se aproximando muito”, afirmou Rubio. Essa aproximação se intensificou após a assinatura de um “acordo de cooperação e amizade abrangente”, que foi firmada durante uma visita histórica do presidente russo Vladimir Putin à República Democrática Popular da Coreia. O tratado marca uma retomada de relações mais profundas entre os dois países, que haviam se distanciado após o fim da União Soviética.

“A Coreia está próxima da região da Marinha da Rússia, onde os submarinos nucleares estão baseados, de onde tem saída para o Pacífico e acesso aos Estados Unidos”, explicou. Segundo ele, manter essa área como uma “zona independente” é de interesse direto para Moscou.

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