Santo Domingo (Prensa Latina) Embora a maioria dos setores concorde que a reforma tributária é necessária na República Dominicana, há outra parte que discorda dos mecanismos propostos pelo Governo para atingir os seus objetivos.
Por Mariela Pérez Valenzuela
Correspondente-chefe na República Dominicana
O país está novamente a passar por uma reforma fiscal apenas dois meses depois de o Presidente Luís Abinader ter iniciado o segundo mandato do seu mandato. Dominicana já viveu esta experiência em 1992; em 1996, sob o governo de Leonel Fernández, e em 2000, com Hipólito Mejía.
São numerosos os meios de comunicação sindicais e empresariais que se manifestam contra a iniciativa governamental, agora nas mãos do Congresso Nacional.
A Associação dos Profissionais de Cinema (Adocine) foi uma das primeiras organizações a manifestar o seu desacordo com o documento, avaliando que a revogação dos incentivos estabelecidos na Lei do Cinema ameaça o crescimento da jovem indústria cinematográfica.
A Adocine sustentou que a retirada destes estímulos levaria à perda de mais de 25 mil empregos e à falência de mais de 375 empresas.
Além disso, disse ele, geraria profunda confusão entre os mais de 1.200 estudantes que atualmente cursam está licenciatura nas universidades do país.
Argumentou ainda que a indústria cinematográfica não só cria empregos diretos, mas também promove o turismo, atrai investimento estrangeiro e promove a diversidade cultural, deixando claro que levará as suas reivindicações aos fóruns necessários.
O projeto do Executivo propõe, entre outros pontos, a eliminação de incentivos a ramos económicos importantes, como o turismo e as zonas francas, por os considerar desnecessários.
Por outro lado, o Conselho da Empresa Privada (Conep) considerou essencial um amplo diálogo sobre o projeto de Lei de Modernização Tributária, com o qual o governo busca suspender estímulos, aumentar impostos e combater a evasão fiscal para elevar a renda em um montante equivalente a 1,5% do PIB.
A Conep insistiu no apelo ao Congresso Nacional para dar continuidade ao processo de discussão iniciado pelo Ministério da Fazenda, num cenário que permita aos setores da economia expressarem suas preocupações e propostas.
A Associação de Hotelaria e Turismo de Asonahores também se pronunciou sobre esta reforma, considerando os incentivos fiscais fundamentais para o desenvolvimento de centros turísticos nas diferentes regiões do país, que, de outra forma, não teriam viabilidade económica.
David Llibre, presidente da Asonahores, argumentou que os estímulos procuram fortalecer a economia através da geração de empregos, infraestruturas e redução de custos, face aos investimentos de capital.
Especificou que desde a criação do Conselho de Promoção Turística, a oferta de estabelecimentos de alojamento aumentou de 54.034 em 1996 para 87.723 em 2023, um aumento de 62 por cento.
SETORES PEDE DIÁLOGO
A Associação Nacional de Jovens Empresários (Anje) afirmou que o plano do Executivo não responde aos princípios de integralidade, equidade e consenso com todos os sectores, que foram propostos como base da reforma.
Por isso, apelou aos legisladores para que ouçam as posições da sociedade e tenham em consideração os argumentos técnicos e económicos levantados.
Embora Anje tenha destacado que esta iniciativa reflete “uma intenção louvável” do Governo em gerar um sistema fiscal que lhe permita fazer face aos investimentos sociais, indicou que a população não tem as análises de viabilidade económica realizadas para as propostas de revogação de leis e. modificação do Código Tributário.
AUMENTO DE IMPOSTO É IGUAL A AUMENTO DE PREÇO
Para a Associação Dominicana de Produtores de Rum (Adopron), o aumento de impostos proposto terá um impacto “devastador” para a bebida, uma vez que enfrentaria uma carga tributária de 52% e o segmento de baixo preço de até 65 pontos percentuais, bem acima de outros líquidos, tanto importados como locais.
Para aumentar a arrecadação de impostos desta indústria, o governo nacional propõe um imposto específico por grau de álcool, o que também influenciaria os custos daqueles com maior concentração.
PROTESTOS NA FRENTE DO CONGRESSO
Dezenas de dominicanos protestaram na última quinta-feira diante do Congresso Nacional contra a lei de reforma tributária, por considerarem que é para “crucificar” o povo.
Os manifestantes carregavam cartazes que diziam “Não à reforma tributária”, “Menos gastos”, “Menos impostos”, e apelaram aos congressistas para primeiro retirarem os seus privilégios e depois falarem sobre o pagamento de impostos.
Os analistas concordam que a reforma resultará num aumento dos impostos sobre as famílias, principalmente da classe média, com o entendimento de que milhares delas terão de pagar, por exemplo, impostos sobre imóveis ou por serviços digitais e compras online.
Para o economista Juan Ariel Jiménez, a novidade custará à população até 20% de sua renda porque as famílias da classe média verão um aumento em suas despesas entre 54.844 (914 dólares) e 103.865 pesos (1.730 dólares) só no próximo ano. aumento de impostos, segundo seus cálculos.
Para Jiménez “seria mais sensato discutir mecanismos eficazes para reduzir gastos públicos improdutivos e reduzir a evasão”.
EM QUE CONSISTE O PLANO DE GOVERNO?
No dia 7 deste mês, o Governo apresentou a sua proposta assente em quatro eixos: proteção social, programa de investimento público e despesas prioritárias, repressão à evasão fiscal e modernização do sistema fiscal.
Durante a reunião do LA Semanal com a Imprensa, o Ministro das Finanças, Jochi Vicente, sustentou que a criação de um ambiente “seguro e moderno” para os dominicanos implica um aumento da despesa pública, que, alertou, não deve continuar a ser financiada com débitos.
Ao apresentar a ideia do Poder Executivo, Vicente explicou que a Lei de Responsabilidade Fiscal impõe um limite ao crescimento anual dos gastos públicos.
Nesse sentido, lembrou que no mês passado o Governo propôs a fusão de três ministérios e quatro instituições, e a eliminação de outras oito, para conseguir maior eficiência e criar poupanças que possam ser redimensionadas para outros sectores, em benefício dos cidadãos.
Explicou que a reforma tributária propõe aumentar o alcance dos programas sociais para mitigar qualquer efeito sobre a população mais vulnerável.
De tal forma que haverá um aumento de 21 por cento na dotação do Programa Alimétate; uma sugestão para aumentar o salário mínimo do sector privado; e buscarão aumentar em 50% o salário mínimo dos funcionários públicos, de 10 mil pesos (166 dólares) para 15 mil (250 dólares).
Mas as pessoas pensam que esses números não são suficientes. Um motorista da empresa Táxi Apolo disse à Prensa Latina que com a reforma também aumenta o imposto de circulação de veículos.
“Eu, por exemplo, teria que pagar três mil pesos (50 dólares) como custo da placa em vez dos 1.500 (25 dólares) que pago agora porque este carro tem mais de cinco anos, mas quem possui os carros mais modernos terão que pagar seis mil pesos anuais (cerca de 100 dólares).
INVESTIMENTO PÚBLICO E DESPESAS PRIORITÁRIAS
Relativamente ao programa de investimento público e às despesas prioritárias, o chefe do Tesouro referiu o seu aumento em áreas-chave como segurança dos cidadãos, transportes, eletricidade, cuidados de saúde primários, autarquias locais, entre outras, e descartou a possibilidade de privilegiar algumas.
Afirmou ainda que as empresas devem competir em igualdade de condições, eliminando distorções e prerrogativas que criam desigualdades entre os contribuintes.
Da mesma forma, explicou que o pagamento do adiantamento será reestruturado para que, a partir de agora, pessoas físicas e microempresas não estejam sujeitas a ele.
Relativamente ao imposto geral sobre o consumo sobre o valor acrescentado (ITBIS), que doravante se chamará IVA, referiu que é estabelecida uma taxa única de 18 por cento, com algumas excepções como insumos pecuários, combustíveis, medicamentos, fertilizantes e inseticidas.
Também para produtos básicos, incluindo pão, arroz, frango, leite e ovos, bem como educação, saúde, eletricidade, água potável e recolha de lixo e transporte de pasageiros.
UM PAÍS INDÍVIDO
O ministro administrativo da Presidência, Andrés Bautista García, considerou que a Lei de Modernização Fiscal é necessária, apesar do custo político que poderia representar, um dos motivos que, na sua opinião, impediu o seu anúncio e execução no passado.
Argumentou que o Governo tem dois caminhos: continuar a contrair empréstimos até cair no abismo ou fazer esta reforma para obter recursos. Abinader aposta no segundo.
Caso a reforma tributária seja aprovada na Câmara dos Deputados, ela será enviada ao Senado para estudo. O Governo pretende que entre em vigor em janeiro de 2025.
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