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segunda-feira, 14 outubro, 2024

Perigo da armadilha cambial

César Fonseca 

O juro mais baixo nos Estados Unidos e mais alto no Brasil, a partir de agora, traz alerta para as contas públicas já abaladas pela elevada taxa Selic.

Pode vir aí sobrevalorização cambial.

Real sobrevalorizado é bom para combater inflação, pois barateia importações, porém, é veneno para o endividamento público; ao mesmo tempo prejudica exportações e industrialização.

Remete-se ao tempo dos tucanos no poder com FHC, anos 1994 a 2002.

A hiperinflação herdada da ditadura, detonada pela puxada de juro violenta nos EUA, no final dos anos 1970, início dos 80, foi eficazmente combatida com moeda sobrevalorizada.

A inflação foi ao chão e garantiu dois mandatos presidenciais aos tucanos, mas, em compensação, a dívida interna saiu de controle, gerando instabilidade econômica.

Desde então, os tucanos nunca mais ganharam eleição para presidente da República.

Esse movimento especulativo poderia se repetir, agravando a situação já deteriorada pelo custo excessivo do juro Selic, justificado, justamente, como fator indutor de juros ainda mais altos para combater a inflação?

ATRAIR MAIS CAPITAL ESPECULATIVO

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acompanhará o presidente Lula na abertura da Assembleia Geral da ONU, ocasião em que, na Big Apple, tentará

atrair novos investimentos ao Brasil.

A manutenção dos juros altos por aqui, quando, nos EUA, o FED reduz as taxas, já vai funcionar como mecanismo atrativo dessa intenção manifesta pelo titular da Fazenda.

Vem aí, portanto, maior volume de dólares para economia nacional, pois os aplicadores americanos ganham com a Selic que pulou de 10,5% para 10,75%, com promessa do BC de que novas subidas acontecerão nas próximas atas do Copom.

A taxa de juro básica, segundo os especialistas da Faria Lima, o altar-mor da especulação, pode começar 2025, com o BC sob comando de Gabriel Galípolo, escalando os 12%.

Melhor  negócio do mundo para especuladores.

Certamente, o capital atraído pela Selic jogará parado, sem ir aos investimentos produtivos, onde o retorno do capital investido, na produção e no consumo, não se compara com o aplicado no mercado financeiro.

As exportações, também, serão abaladas pela sobrevalorização cambial pré anunciada pelos juros mais altos Selic.

Com entrada mais polpuda de dólares, o real ficará mais caro.

Consequentemente, as mercadorias exportadas perderão competitividade.

Poderá ou não ocorrer enxurrada maior ainda dos produtos chineses, bombeados pela política de exportação da China, impulsionada por juro baixo e incentivos fiscais abundantes?

DESIGUALDADE SOCIAL EM MARCHA BATIDA

E, sobretudo, juro mais alto atraindo mais poupança externa pressionando endividamento interno fica acima do crescimento do PIB, exatamente, como aconteceu com a administração tucana, conforme reconheceu o economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central na era FHC.

Ele acabou fazendo mea culpa ao destacar que juro alto superior ao crescimento do PIB funciona como bombeamento da desigualdade social, que, ao fim e ao cabo, espanta investidores.

Quem vai investir no cenário da desigualdade que leva à escassez relativa de demanda em comparação à oferta, alimentando perigo de deflação?

Portanto, o aumento do juro em véspera de eleição municipal, capaz de espantar eleitores, seguido de sobrevalorização do câmbio no ambiente da contradição de juro mais baixo nos EUA e mais alto no Brasil, atuam como freio ao desenvolvimento sustentável.

Trata-se de combinação passível de afetar reeleição do presidente Lula em 2026.

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